Fala, professor! Roger: “Se você mexer muito, você desencaixa muito, e aí que vem os maus resultados, a instabilidade e a saída da gente do cargo.”

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Por Vinicius Brandão, Carlos Lima e Gabriel Gonçalves 

Na tarde desta quarta-feira (26), após a grande vitória do Fluminense diante ao River Plate, por 3×1, no Monumental de Nunez, Roger Machado participou do programa “Seleção Sportv”. Durante sua participação, o técnico do Flu comentou sobre a diferença de atuação da equipe nos tempos de jogo, significado da comemoração, dificuldade para modificar o esquema do time e muito mais. Confira:

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Diferença de atuações no primeiro e segundo tempo na temporada:

“De fato, em alguns momentos e alguns jogos, mas contextualizando a qualidade e o tipo de jogo dos adversários, nós tínhamos dificuldade de entrar um pouco no jogo. Muito fui questionado a respeito do motivo desta postura, de ter um meio muito espaçado, que o problema estava no meio campo, e isso nunca foi, de fato, o único problema da gente não ir tão bem no primeiro tempo. Tinha muito ligado à característica dos jogadores, Luiz e Kayky são jogadores muito talentosos e estão em evolução, mas quando eu coloquei eles em campo eu também frisava que o jogador jovem vão ter alguns momentos de instabilidade e em algum momento temos que dar um passo atrás, sobretudo, para preservar esses jogadores para que eles tenham um amadurecimento tranquilo. A nossa incapacidade em certo momentos do jogo era de iniciar pressionando o adversário em corredores laterais, isso sobrecarregava nosso meio campo, nossos jogadores de meio e sobretudo nossos volantes, que saíam muito desgastados das partidas, porque existe uma razão que eu costumo cobrar dos meus atletas, se eu tenho quatro jogadores ofensivos, eu preciso que eles sejam responsáveis por, pelo menos, 30% das ações defensivas do jogo, ou seja, interceptações ou bolas roubadas. Se eles não contribuem com essa pressão e essas ações defensivas, meus outros setores atrás deles, meus volantes e minha linha de quatro vão sofrer e consequentemente vou tomar a bola do meu adversário mais perto do meu gol. Automaticamente, ao roubar a bola mais perto do meu gol, já desgastado, a gente naturalmente vai devolver a bola para o adversário e vamos sofrer mais. Isso é uma consequência natural de um processo que hoje se cobra muito, que é a atuação dos jogadores de ataque no processo defensivo para que a gente consiga roubar a bola lá na frente e mais perto do gol, e em alguns momentos a gente não estava conseguindo fazer isso. Em muitos momentos a gente também optou, por não conseguir fazer isso, abaixar o bloco e roubar mais perto do gol para contra-atacar em velocidade. Mas, quando você não é eficiente nessa postura, você sofre novamente, porque você não vai ter dez bolas para contra-atacar correndo 60 metros de campo. Você vai ter duas ou três em 90 minutos e você vai ter que ser eficiente, e quando nós não éramos eficiente nós sofriamos, sobretudo, com o volume do adversário, mas muitas vezes um volume controlado, porque o adversário rondava nossa área, faziam cruzamentos, mas nossa defesa bem postada tirava, tinha finalizações de média distância. O nosso número de gols sofridos são poucos, hoje eu prefiro ter um time muito mais incisivo, contundente do que ter mais a bola. A conta é, quanto tempo você tem a bola vezes quantas vezes você consegue chegar no gol adversário. Se não for isso, a bola tem que meio e não fim”.

Sobre a comemoração de braços abertos olha do para o céu:

“A imagem de abraços abertos tem muito a ver com um pouco da minha espiritualidade e com minha mãe de criação. Se vocês pegarem uma imagem minha de começo de jogo, eu só não abro os braços, mas também olho para cima. Sempre me recordo da minha mãe de criação, quando eu chegava dos meus jogos e ela com o radinho do lado ouvindo os comentários de como eu havia ido no jogo. Quando recorro aos braços abertos para cima eu estou confirmando que ela está lá sentadinha me observando novamente. Então é muito significativa para mim essa imagem. Passou de fato o que passava naquele momento. Eu estava agradecendo por ela estar ali ao meu lado”.

Como a experiência de campo ajudou para o jogo:

“Quem passou por dentro de campo sabe o quanto é difícil passar por uma eliminação, poucos dias depois enfrentar novamente uma grande equipe numa outra fase importante de uma competição. Eu falo para os atletas que são nesses momentos que nós somos de fatos medidos. São nesses momentos de mais pressão, de maior responsabilidade que nós vamos saber até que ponto vamos poder ser pressionados e responder com naturalidade a esses eventos. O futebol é diferente que os outros esportes. É muito difícil para um atleta individual olímpico que se prepara por quatro anos para uma única prova e ele vai lá e não tem um bom desempenho, e a próxima oportunidade só será depois quatro anos. Mas no futebol, felizmente, nos permite a cada três ou quatro dias pode virar a página e escrever uma outra história”.

O que tem pensado para dar leveza ao jovens jogadores que atuam como pontas:

“Hoje, infelizmente, os jogadores de ataque não vão ficar a parte do processo defensivo. Não há como tira-los do processo defensivo porque é muito importante. Eu preciso ter pelo menos sete jogadores com peso de marcação muito forte, para que rapidamente eu tenha sete jogadores atrás da linha da bola com essa característica de tomada da bola do adversário com qualidade. Seis jogadores todo mundo tem, que são a linha de quatro e os dois volantes. Esse sétimo jogador é o que eu chamo de “mosca branca”, porque esse jogador não pode ser só ofensivo e também não pode ser só defensivo, ele tem que ter essa virtude de chegar lá na frente e ter a recomposição muito rápida. Porém, quando a gente não encontra esse jogador, você precisa diluir essa fração das ações defensivas pelo todos os jogadores de ataque que são os quatro jogadores. Se você perceber um pouco mais atento o meu sistema tático, como não é de encaixes, os meus jogadores de beirada dificilmente vão até o terço final com os jogadores. Justamente porque eu busco organizar o time taticamente para que eles economizem campo de atuação. O meu jogador de beirada vai fazer no máximo 60 metros de campo se ele for inteligente para se posicionar. Se ele quiser se basear no individual, na marcação do lateral, o lateral vai leva-lo até a linha de fundo. Aí eu digo para eles, o lateral vai levar até a linha de fundo, tu vai dar um carrinho no lateral e não vai chegar nunca no terço final do campo porque vai estar desgastado e cansado. Para que eles consigam fazer isso bem, eles precisam ter uma leitura do jogo e se posicionar nos lugares certos. E é essa evolução que os jogadores mais novos precisam assimilar do futebol mais moderno. A referência individual em detrimento do espaço e depois do alvo é o que acaba que muitas vezes eles se desloquem para um caminho do campo muito maior que deveriam e naturalmente estarão mais desgastados”.

Esquema de três volantes e o que falta para utilizar:

“Hoje na Europa, alguns times jogam no 4-3-3 com três jogadores de característica pendurados, justamente para ter uma marcação com sete jogadores, com um tri-pé de médios (volantes) muito fortes, que faz a lateralidade do campo e marca as amplitudes. Esse jogadores tem características específicas, e sejamos sinceros, se eu abro três volantes no Brasil vão falar que eu sou defensivo e que jogo para trás. Não é verdade, eu coloco três volantes atrás da linha da bola justamente para pendurar três jogadores no ataque. O nosso jogador com as características mais semelhantes é o Yago, ele é o terceiro jogador de meio campo que tem a capacidade defensiva porque tem um pulmão absurdo e tem capacidade ofensiva como foi as chegadas dele no jogo, inclusive o gol. Estou aqui há três meses e só tive cinco treinos não tem como fazer (testar o esquema), eu preciso de engrenagem, eu preciso treinar para que isso funcione adequadamente. Eu sou doido para fazer esse tri-pé e deixar os jogadores mais leves, mas infelizmente eu não consigo porque eu não tenho tempo para treinar. Não é que nós não tenhamos a condição de exercitar, é porque nós não temos a condição de treinar. Então você precisa massificar ou ter uma esquematização básica e reforça-la. Se você mexer muito, você desencaixa muito, e aí que vem os maus resultados, a instabilidade e a saída da gente do cargo.”

A principal diferença de Nenê e Fred funcionando contra o River e não contra o Flamengo:

“São times que gostam de ter protagonismo com a bola, mas são completamente diferentes. Não são similares. O Flamengo joga com um jogo funcional, com troca de posições, sobretudo com ataque móvel, com Gabriel e Bruno Henrique que flutuam no ataque e tiram a referência dos zagueiros, com Everton e Arrascaeta em combinação com os jogadores de lado, que flutuam pro centro e abrem a profundidade pro Gabriel e Bruno atacarem, entrosamento de dois anos e relação com a bola, fazendo com que os adversários sofram. Dos meus 30 anos de futebol, entre treinador e jogador, talvez seja um dos clubes que mais se aproxima do Palmeiras de Djaminha e Rivaldo, no número de jogadores talentosos com a bola. Não funcionou no detalhes. Se você observar a forma como a gente posicionou o jogo contra o River, o Nenê ele foi quase que pertencente a linha de quatro jogadores atrás. E o que eu posso dizer da forma que joguei, foi um 4-5-1 e não num 4-1-4-1. Pra que, justamente, eu tivesse uma linha com quatro, cinco jogadores e eu partisse de dentro do meu campo pro ataque, pra pressionar de frente. Tem uma diferença substancial do que quando você joga com dois jogadores a frente e você faz a pressão da frente pra trás. E do jeito que fizemos, ao retomar a bola, o Nenê estava em uma área do campo que ele podia pegar a bola com tranquilidade, sem marcação e acionar as profundidades do Biel, de Caio, os pivôs de Fred. De fato funcionou, contra esse adversário, dentro desse contexto, vamos ver como se comporta com outros”.


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