Do que é feito um ídolo?

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Gols, títulos, identificação com o clube; anos e anos defendendo aquelas cores; um beijo no escudo, uma declaração de amor?

Um jogador que se destaca, mas não conquista nada, pode ser considerado um ídolo? E um jogador fraco ou limitado, mas que teve uma passagem vitoriosa?

Mas ídolo pessoal ou ídolo do clube? E qual a diferença?

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No final de semana passado, estive submersa num universo verde, branco e grená, revivendo por memórias compartilhadas o alívio de 2009 e a conquista de 2010. Sentada na arquibancada de Laranjeiras, fitava a faixa com nossos ídolos imaginando como teria sido vê-los jogar. Castilho e Pinheiro intransponíveis, o elástico do Rivellino, as cobranças de falta de Edinho, Didi, Telê, Ricardo Gomes, Waldo, Romerito, Assis e Washington. Fora os que não estão ali. É muito ídolo pra pouco pano. 

De volta à realidade, me deparava com Fred, Digão, Tartá e os vídeos dos demais falando sobre a “epopeia do tri”. Do sufoco à glória, esse elenco foi recheado de destaques. Mas será que todos eles são passíveis de idolatria?

Começando pelo “modelo ideal”: Frederico. Craque, artilheiro, vitorioso, identificado, apaixonado e líder – sem contar os sete anos de casa. Acredito que possua todos os atributos possíveis para que seja imortal na história do Fluminense e na minha galeria pessoal de ídolos.

Gum, nosso zagueiro bicampeão brasileiro, considerado por muitos como limitado, fraco e até ruim. Foram nove anos de Fluminense, 414 jogos, sendo o oitavo jogador que mais atuou com a nossa camisa. Sete títulos: dois Brasileirões, a Primeira Liga, um Campeonato Carioca, duas Taças Guanabara e uma Taça Rio. O maior destaque vai pra sua identificação com o clube e a torcida, ele amou demais a camisa que vestiu, não a toa é a personificação do Time de Guerreiros – e não a toa mudou nosso mascote. Mesmo com esse currículo, tem gente que não o vê como ídolo, justamente pela qualidade de jogo. 

Em direção oposta, temos jogadores como Emerson Sheik, que chegou no meio de 2010 e fez o gol do título contra o Guarani. Em 2011, saiu de forma turbulenta, sendo dispensado por cantar uma música do rival, além de ter feito uma gracinha em 2013 após nosso quase rebaixamento. Faz gol decisivo, mas desrespeitou o clube. É ídolo?

Dario Conca chegou em 2008 e ficou conosco até o tricampeonato, quando venceu o Bola de Ouro da revista Placar e foi eleito Craque do Brasileirão e Craque da Galera. O troféu de 2010 tem o nome do argentino cravado. Foi o único a jogar todas as 38 partidas, mesmo convivendo com problemas no joelho. Aliás, Conca sacrificou sua saúde física pelo campeonato. Então foi pra China, voltou em 2014 em curta passagem e retornou à China. Depois foi emprestado ao time da Gávea, onde atuou por apenas 27 minutos, porque seu joelho, tricolor, não o deixou fazer mais que isso. Além da polêmica recente envolvendo sua ausência física e virtual na Flu Fest. Se ele tiver mesmo se recusado a ir, continua sendo ídolo? 

Nota: que achem ingenuidade minha, mas tenho pra mim que o ídolo de um clube não pode vestir a camisa do rival. Não consigo aceitar.

Podemos citar até nossos técnicos. Cuca chegou em 2009, foi o sexto treinador a comandar o time nesse ano. Chegou com a missão de nos livrar do rebaixamento e o fez. Junto com Fred, liderou a arrancada que nos salvou. No ano seguinte, Muricy chega com status de supercampeão, nega a seleção brasileira e encerra um jejum de 26 anos de títulos nacionais do Flu. Saiu atirando e tecendo inúmeras críticas à estrutura do clube (aquela história dos ratos). E aí? 

Não vou me alongar mais, acho que meu ponto se fez claro. Há outros exemplos nesses 118 anos, como Parreira, que veio no nosso momento mais difícil e nos ajudou a sair do fundo do poço. Ou Marcão, que não conquistou títulos de expressão nos seus sete anos, mas é xodó da torcida pelo seu amor à camisa tricolor.

Pra ser ídolo não é preciso acumular todos os atributos mencionados. Acredito, no entanto, que há um mínimo a ser cumprido: respeito. Ganhe o título que for, se desrespeitar o Fluminense, acabou. E o caminho inverso também vale: o jogador sem título, mas que dá o devido respeito à essa instituição centenária, tem o potencial para se tornar um ídolo.

Enfim, não cabe a mim dizer quem são os seus ídolos ou os do Flu. 

Valorizemos quem honrou nossa camisa. 

ST

 


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