As finanças do Flu: Apesar da situação crítica, Mário consegue manter o Flu estável

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Mário Bittencourt tomou posse da presidência do Fluminense em junho de 2019. Isso aconteceu pois o antecessor Pedro Abad antecipou a saída do cargo. Segundo o que sempre fala o mandatário, ele encontrou um clube “dilacerado por dívidas”. A palavra foi usada por ele acompanha as demonstrações financeiras sobre 2019. A reportagem é do GloboEsporte.com

Ano passado, os funcionários temiam demissões, havia quatro meses de salários atrasados, e jogadores tinham contratos com término já em dezembro. Eles recebiam propostas e poderiam ter desfalcado o time com a temporada em andamento e risco de rebaixamento para a Série B.

Na época, se o atacante Pedro não tivesse sido vendido para a Fiorentina, “o Fluminense não teria sobrevivido”. Isso literalmente salvou o clube. Novamente, a citação é do próprio presidente. Ele descreveu todo esse cenário em entrevista coletiva em dezembro de 2019 para apresentar resultados de seus seis primeiros meses de gestão.

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Nesta mesma entrevista, o dirigente afirmou ter pagado mais de R$ 76 milhões em dívidas e despesas correntes que estavam atrasadas.

“Muita gente me pergunta: como é que está pagando tudo isso aí? Grande parte com a venda do Pedro. Que contrassenso, né? Eu precisava fazer gol, e ao mesmo tempo precisei vender o jogador que fazia gol para poder salvar o resto. Você imagina. Se a gente tivesse caído, eu não tivesse vendido ele, e hoje estivesse com sete meses de salário atrasado, estaria todo mundo dizendo que caiu porque estava com salário atrasado”, disse Mário Bittencourt.

Apesar dessa redução de R$ 76 milhões, Mário reconhece que a situação continua dificílima, e a reportagem vai explicar, com base no balanço, os motivos.

O retrato das finanças

Ainda está cedo para cobrar quaisquer resultados de Mário Bittencourt. Em seis meses, o máximo que se pode fazer é apagar incêndios e tentar não botar fogo em nada. O presidente tem feito milagares e conseguiu colocar ordem na casa.

A comparação entre faturamento e endividamento – um jeito de medir a gravidade dos problemas financeiros – mostra que o Fluminense não piorou a sua situação em 2019. Num cenário de crise generalizada como o do futebol brasileiro, esta já é uma boa notícia.

A boa notícia é tímida: a situação não melhorou na temporada mais recente, mas não piorou

Fonte: Balanços financeiros/GE

As receitas tiveram um decréscimo de pouco mais do que R$ 30 milhões em relação ao ano retrasado. A explicação está em uma combinação de azares: futebol abaixo do necessário dentro de campo, patrocínios minguados e os baixos valores nas vendas de jogadores.

Em relação aos direitos de transmissão, o Fluminense arrecadou mais ou menos a mesma coisa do que clubes semelhantes a ele: por volta dos R$ 100 milhões. O valor poderia ter sido melhorado pelas premiações da Sul-Americana – compreendidas como televisão nesta análise –, mas o clube não conseguiu chegar nas semifinais como em 2018.

Na área comercial, a receita com licenciamentos e franquias veio zerada pela primeira vez em 2019. E olha que os valores dos anos anteriores já não eram altos. Patrocínios renderam pouco mais do que R$ 9 milhões no ano inteiro, um ponto fraquíssimo e uma das promessas do presidente na campanha, era valorizar a marca do clube e fechar, pelo menos, um patrocínio master da altura do Fluminense, o que até hoje, não ocorreu.

No relacionamento com o torcedor, ainda que as bilheterias tenham aumentado, ainda são pequenas (R$ 16 milhões) para fazer diferença. O clube social tem uma receita até relevante para esta natureza, em quase R$ 15 milhões, mas, bem, as despesas deste mesmo clube social consomem a maior parte dela. Não sobra nada para o futebol, como sempre afirmado pelo presidente.

Mário Bittencourt ressalta sempre que pode sobre a importância do sócio-torcedor nas contas do clube e sonha, desde a eleição, em alcançar R$ 36 milhões anuais. Falta ainda muito para alcançar esses números. Hoje, esta receita está em R$ 5 milhões.

Este do balanço não permite saber se a administração conjunta do Maracanã com o Flamengo, ato do novo presidente, está valendo a pena. As despesas do estádio não têm uma linha destacada apenas para elas no documento. Com a área comercial ainda em crescimento, cabe às categorias de base dar um alívio para as contas tricolores.

Nos últimos meses, após esses números, vimos a marca do clube crescer e valorizar em ações nas redes sociais. Apesar do retorno de mídia, financeiramente, ainda não vimos algum patrocínio fechar com o clube. A situação da pandemia também não favorece.

Fonte: Balanços financeiros/GE

Diante de tão poucas receitas operacionais, a salvação recente para o Fluminense tem sido a venda de jogadores. Mais especificamentre, da base. Fora a saída de Pedro para a Fiorentina, outra negociação relevante foi a de João Pedro. Ele foi vendido pela administração anterior para o Watford no ano retrasado, mas contabilizado no balanço de 2019.

Um meio para saber se a temporada saiu dentro do esperado, no aspecto financeiro, é comparar números do balanço (realizados) com números do orçamento (previstos) – tendo em mente, claro, que o orçamento tinha sido feito por Abad, não por Bittencourt.

No geral, a receita saiu até maior do que a projeção. No detalhe:

  • marketing decepcionou muito
  • Bilheterias e sócios decepcionaram pouco
  • venda de atletas superou e compensou

A despesa com a folha salarial do futebol saiu um pouco acima do planejado, porém ainda muito baixa. Não dá para acusar o novo presidente de gastar dinheiro que não tem. As contas ficaram muito justas e mesmo assim deficitárias.

Se o Fluminense estivesse livre de dívidas, os dados do quadro acima seriam razoáveis. Pensar em competir no nível do Flamengo pelas primeiras posições da tabela, como na época em que o dinheiro vinha por fora pela Unimed, mas seria algo ainda ilusório. Porém, uma briga por meio de tabela/pré-Libertadores seriam mas condizentes.

Como as dívidas são enormes, a consequência é uma competitividade ainda mais baixa. Hoje o Fluminense fatura e gasta tanto quanto o Bahia para se ter ideia. Mas a sua administração precisa suar muito mais para não atrasar salários e não perder atletas por rescisões ou ofertas alheias, o que aconteceu em casos como Scarpa (Justiça), Henrique Dourado (Pediu para deixar o clube por conta dos atrasos salarias)

Em relação ao dinheiro desperdiçado por causa das dívidas, ainda antes de entrar de fato na análise sobre o endividamento, essas foram as principais despesas financeiras tricolores em 2019:

  • R$ 11 milhões em juros e encargos sobre empréstimos
  • R$ 29 milhões em juros e encargos sobre impostos
  • R$ 18 milhões em multas por impostos em atraso
  • R$ 4 milhões em outras despesas financeiras

O Fluminense perde esta quantia todos os anos. Para ficar mais claro, esses valores são semelhantes aos juros e às multas que o banco cobra caso você não pague o cartão de crédito na data do vencimento, ou use o cheque especial por tantos dias.

E as dívidas?

Daqui em diante, vamos detalhar o endividamento tricolor. Em vez de tratar de receitas, despesas e juros, os números descritos abaixo correspondem à situação na data de fechamento do balanço – 31 de dezembro de 2019. Seguindo com a comparação: este seria o valor da fatura do seu cartão de crédito ou o saldo negativo da conta corrente.

Falar de endividamento com números brutos pouco adianta para compreender a situação. Até porque dentro dos R$ 645 milhões devidos existem R$ 248 milhões em dívidas fiscais – parceladas por meio do Profut e prejudicam menos o cotidiano do que outros tipos.

Por isso quebramos essas dívidas conforme a natureza e o prazo para pagamento. Se a parte com vencimento inferior a um ano (curto prazo) for muito alta, a chance de o futebol passar por perrengues na temporada seguinte é considerável. Praticamente não houve mudança significativa na urgência que ainda sufoca o clube

Fonte: Balanços financeiros

Podemos partir de uma constatação básica: é impossível para o Fluminense pagar R$ 258 milhões em dívidas de curto prazo. O clube precisaria ter o dobro de seu faturamento e não gastar nem um centavo a mais com o presente, hipótese surreal. A dívida é impagável.

A saída para Bittencourt – aliás, advogado com experiência em direito desportivo e trabalhista – é ligar para credores e renegociar prazos para pagamento. O presidente contou, na entrevista coletiva, como faz para ganhar a confiança das pessoas a quem o Fluminense deve.

“Eu tinha um vencimento de um acordo na semana passada, dia 5, só que eu não tinha dinheiro para pagar. Eu liguei para o advogado. Ele falou: pode ser dia 16? Eu falei: pode. O dinheiro entrou no dia 8, eu paguei no dia 8. Não estiquei ele até o dia 16, entende? As pessoas estão entendendo que não estou empurrando ninguém com a barriga”, disse Bittencourt.

Na prática, o dinheiro da venda de jogadores se esgota rapidamente desta maneira. O presidente tenta evitar bloqueios e penhoras com renegociação de prazos, direciona a grana para o que é mais urgente e tenta guardar parte para pagar salários. Problema número um: as transferências precisam continuar, senão o clube quebra. Problema número dois: elas não dão conta de todos os compromissos.

Para entender as prioridades de Bittencourt no uso da grana que chega, essas são as principais variações na dívida de curto prazo tricolor:

  • Dívidas por compras de jogadores caíram R$ 15 milhões
  • Empréstimos bancários caíram R$ 43 milhões
  • Impostos correntes aumentaram R$ 24 milhões
  • Obrigações trabalhistas aumentaram R$ 12 milhões
  • Provisões para ações judicias aumentaram R$ 15 milhões

A redução dos empréstimos com instituições financeiras e pessoas físicas é positiva. Esse tipo de dívida carrega juros altos e pega receitas como garantias de pagamento. Livrar-se delas ajudará a reduzir a asfixia.

E o aumento dos impostos e das obrigações trabalhistas foi causado por um fato anterior à chegada dele. O Fluminense não cumpriu regras do Profut especificamente em relação ao pagamento do FGTS dos atletas e foi punido pelo governo em abril de 2019. O clube perdeu benefícios que tinha conseguido na adesão. A dívida de longo prazo veio para o curto.

Além da notável melhora em relação aos bancos e da infeliz piora em relação ao governo, o que mais importa neste endividamento tricolor é mesmo a parte trabalhista. Leia-se, principalmente: ações judiciais movidas por ex-atletas e ex-treinadores por falta de pagamento.

Segundo o entendimento do departamento jurídico:

  • R$ 69 milhões serão cobrados no curto prazo (em 2020)
  • R$ 171 milhões serão cobrados no longo prazo (a partir de 2021)

Considere, ainda, que esses são os valores das causas que o Fluminense considera a perda “provável”. Elas foram computadas no endividamento no balanço e nos gráficos que você viu até aqui.

Além disso, existem outros R$ 129 milhões em ações judiciais que o clube acredita ser “possível” ganhar. Este valor não está considerado no endividamento. O que significa? Tudo pode ficar ainda pior se os advogados tiverem exagerado no otimismo ao avaliar as probabilidades.

O perfil do endividamento do Fluminense por tipo em 2019
Ainda que quase 40% da dívida seja fiscal e esteja no Profut, a parte trabalhista é crítica e crescente

Fonte: Balanços financeiros/GE

Agora, com a pandemia do coronavírus, tudo tende a piorar. É verdade que o clube deverá ser beneficiado com a suspensão das parcelas do Profut, como também todos os outros que participam do programa. É também verdade que o Ato Trabalhista – neste caso, dívidas com ex-jogadores que estão renegociadas em um grande acordo coletivo – teve suas parcelas suspensas durante a pandemia. Ambos aliviam as dívidas e a vida tricolor.

Só que as receitas foram interditadas. Patrocínios sumiram de vez, bilheterias deverão quase zerar com o provável recomeço dos campeonatos com portões fechados, e o lançamento de um novo programa de associação, com benefícios e planos novos, foi adiado.

Não bastasse o incrível estrangulamento por causa do passado, o presente foi piorado por causa do vírus. Péssimo para Mário Bittencourt. O presidente precisará de muita compreensão dos credores, do apoio da torcida e de novas vendas de jogadores, tudo ao mesmo tempo, para dar início a uma longa jornada pela recuperação tricolor.

Fonte: GloboEsporte.com


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10 thoughts on “As finanças do Flu: Apesar da situação crítica, Mário consegue manter o Flu estável

  • 19/06/2020 em 13:24
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    Continua sem patrocinador master, e com mais de dois meses de salários atrasados!
    esse site, está parecendo “cabo eleitoral” do presidente.

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    • 19/06/2020 em 20:58
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      E você quer o que? Torcida não chega junto a nível de time grande pra ajudar, as receitas como vc viu na matéria que é do globo esporte são insuficientes… Parece aquelas pessoas que acreditam em conto de fadas… O Mário pode fazer a melhor adm do mundo, se ele não tiver ajudar da torcida, ele não vai conseguir fazer nada.

      Resposta
  • 27/03/2023 em 02:16
    Permalink

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