Rivais em campo e objetivos alinhados: conheça o Pérolas Negras, adversário do tricolor na estreia do Carioca Feminino de 2021
O Viva Rio-Pérolas Negras é umas das doze equipes que brigarão pelo título do Carioca Feminino de 2021. Neste domingo (3), às 15h, o time de Resende fará sua estreia na competição diante do Fluminense. No entanto, se são adversários em campo, fora dele os clubes possuem objetivos convergentes: o de formar não só atletas, mas cidadãos melhores. Nessa coluna, vou contar para vocês um pouco dessa história incrível que pude conhecer mais a fundo graças à equipe de comunicação do clube e do presidente Rubem Cesar, muito solícitos em me atender e a quem agradeço muito.
Como tudo começou: futebol como ferramenta de transformação social
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Para falar do início da Academia Pérolas Negras, é fundamental que se fale da ONG Viva Rio, fundada em 1993 por Rubem Cesar Fernandes. Com o objetivo de combater a violência nas comunidades do Rio de Janeiro, o antropólogo entendeu que a melhor ferramenta para disseminar os valores educacionais e culturais pretendidos pela entidade seria o esporte, particularmente o futebol,
Em 2004, após cerca de uma década de trabalho, o Viva Rio foi convidado pelo setor de Desmilitarização, Desarmamento e Reintegração (DDR) da Organização das Nações Unidas (ONU) para atuar no Haiti e auxiliar na implementação da missão de paz no país – operação que ficou conhecida como Minustah. A situação envolvia justamente grupos armados presentes nas favelas da capital Porto do Príncipe, que por um lado atuavam na luta política, mas, por outro, aumentavam a criminalidade urbana.

O nascimento da Academia Pérolas Negras
Assim como fizeram no Rio de Janeiro, utilizaram o futebol para entrar nas comunidades. Devido à forte adesão, em 2009 formaram a Academia Pérolas Negras, que começou a operar somente em 2011 por causa do terremoto que devastou o país em 2010. Apesar das dificuldades, o projeto seguiu evoluindo até pousar em solo fluminense.
Como no Haiti não havia mercado para absorver os jovens atletas que buscavam a profissionalização, em 2016 o Pérolas chega ao Rio de Janeiro, especificamente em Resende, no Vale do Café, tendo somente a categoria sub-20. No ano seguinte, filiam-se à Federação de Futebol do Estado (FFERJ) e passam a competir oficialmente.
Contudo, é importante destacar que a questão social não foi jogada para escanteio, permanecendo um dos pilares da Academia, que oferece reforço escolar em português e matemática, além do “projeto individual de vida”, que estimula os jovens a também pensarem em outras carreiras e possibilidades profissionais fora do futebol. Em cada polo, montam uma estrutura de EAD (ensino à distância) e tutoria.
Em conversa com o presidente e fundador do Pérolas, Rubem Cesar, ele afirmou que o futebol e a educação são complementares e igualmente importantes. Para além de ser o objetivo inicial da história da Academia, também é um fator que atrai patrocínios, e que muitas vezes interessa até mais que o futebol.
A atuação do clube extrapola as fronteira do Brasil e do Haiti, tendo realizado peneiras na Venezuela e na Jordânia, assunto que deixei para o final. Há um visto para refugiados humanitários, criado originalmente para os haitianos e posteriormente ampliado para outras nacionalidades. Um dos trabalhos do Pérolas é auxiliar estes refugiados a conseguir o visto e a cidadania brasileira.
Futebol Feminino

Ainda no Haiti, o futebol feminino já era destaque. À época, treinaram o time que disputaria as eliminatórias da Concacaf para o Mundial de 2007. No Rio de Janeiro, o primeiro time foi montado em 2020 a partir de peneiras realizadas internamente, entre a rede de clubes de favela que “alimentam” o Pérolas – são 9 núcleos espalhados pela cidade do Rio, Niterói, Resende, Itatiaia e Queimados – e uma mais ampla, atraindo meninas de diversos locais.
Naquele ano, foram campeãs da Taça Pretinha, o que fez com que fossem convidadas a disputar o Campeonato Carioca, em que terminaram na 7ª colocação com 2 vitórias e 6 derrotas.
Em 2021, tem por objetivo conquistar a vaga na Série A3 do Brasileirão 2022.
E o Fluminense…
Além de terem a educação e a formação de jovens como pedras fundamentais em seus projetos, há ainda outras curiosidades que ligam o Tricolor com o time de Resende e vem de uma história inusitada que começa na Jordânia.
Como mencionado, o Pérolas Negra também realizou ações em Zaatari, na Jordânia (próximo à fronteira com a Síria) e lá utilizou o mesmo método para aproximar os locais de seus objetivos: a linguagem universal do futebol. A peneira feita no Oriente Médio teve cobertura do Esporte Espetacular, que documentou-a em uma minissérie chamada “A Partida”. De lá, quatro jovens foram selecionados para viajar para o Brasil e treinar com a equipe sub-20: Ahmad, Hafeth, Qais e Omar.
Qais é zagueiro e atualmente ainda atua no Pérolas Negras. Chegando ao Rio de Janeiro, não teve dificuldades para escolher um time para torcer. Assistiu a um jogo do Flu e imediatamente se identificou, somando-se à apaixonada torcida tricolor.
Hafeth chamou atenção na peneira por sua velocidade e visão de jogo, sendo o dono da lateral esquerda. Por causa da habilidade na posição, foi apelidado de Marcelo. Recentemente, o jogador foi convocado para a Seleção Síria Sub-23 para disputar a Copa da Ásia da categoria.
