Novo vice geral do Fluminense já “liberou” pó-de-arroz, fez acordo do caso Wellington Nem e liderou RCE

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Quem é o novo vice-presidente do Fluminense, que substituiu o então afastado Celso Barros na eleição do último sábado? Anunciado por Mário Bittencourt um mês antes do pleito, o advogado Mattheus Montenegro, de apenas 36 anos, surgiu de última hora no cenário político, mas internamente já vem atuando nos bastidores do clube desde 2019 em temas como o Regime Centralizado de Execução (RCE), as Certidões Negativas de Débito (CND), Maracanã, Lei Pelé, SAF e acordos judiciais.

FOTO: MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE F.C.

Mattheus é tricolor de berço e frequenta os estádios desde os seis anos com o pai. Fez parte de uma torcida organizada no fim dos anos 90 e, na década seguinte, participou da criação da “Legião Tricolor”, famoso movimento que buscava uma identidade na forma de torcer durante os jogos. Foi nessa época, como torcedor e estagiário de Direito, que esteve envolvido num momento marcante do clube: após decisão judicial, ele levou a intimação para a PM no Maracanã permitir a entrada do pó-de-arroz, que estava proibido desde 1999, no jogo contra o Arsenal de Sarandí, da Argentina, na Libertadores de 2008.

– Dois amigos advogados, Gabriel Machado e Gustavo Albuquerque, ajuizaram uma ação popular para liberar o pó-de-arroz, que tinha sido proibido pela Polícia Militar. A liminar foi deferida, mas houve um certo impasse com a PMERJ quanto ao cumprimento da decisão. Como bom estagiário que era à época, aceitei a missão de levar a decisão às autoridades, na companhia de Mario Vitor Rodrigues (neto de Nelson Rodrigues). Felizmente deu certo, e o pó de arroz voltou às arquibancadas nesse jogo, mantendo-se até os dias de hoje como a manifestação mais tradicional e característica da torcida do Fluminense. De toda forma, é importante deixar claro que os grandes responsáveis por essa conquista foram os autores da ação, e eu mero coadjuvante – contou ao ge.

O advogado se especializou na área tributária, entrou para um grande escritório nacional de advocacia e foi chamado para o Fluminense em 2019 para reforçar o departamento jurídico no início da atual gestão. Em seu primeiro ano no clube, ele foi quem celebrou o acordo com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que liberou para pagamentos de multas, débitos e parcelas do Profut mais de R$ 40 milhões que estavam bloqueados em razão de um imbróglio envolvendo uma penhora não cumprida pela venda de Wellington Nem ao Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, em 2013.

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Considerado como um dos grandes responsáveis por mudar a fama negativa do Fluminense na Fazenda Nacional após o “caso Wellington Nem”, Mattheus assumiu em março de 2021 a vice-presidência de Relações Institucionais, pasta que lhe deixava na dianteira das tratativas com órgãos privados e, especialmente, públicos. Esteve à frente dos processos para tirar as CNDs e para obter o RCE. Quando surgiu um impasse judicial que ameaçou derrubar o regime centralizado dos clubes que não viraram SAF, o advogado fez uma rara aparição no Twitter para tranquilizar os torcedores.

A rara aparição pública é traço da sua personalidade. Mattheus é discreto ao ponto de, quando Mário o anunciou como seu novo vice-presidente geral em evento no Salão Nobre das Laranjeiras, ele relutou por alguns longos segundos em subir ao palco. Quando subiu, deu um rápido abraço no presidente e saiu. Na eleição de sábado, após falar por um instante e agradecer os sócios pela janela, esteve sentado à mesa ao lado do mandatário na entrevista coletiva, mas sem dizer uma palavra (desta vez pode se defender alegando que nenhuma pergunta da imprensa foi direcionada a ele).

– De fato, tenho um perfil um pouco mais discreto e, como você e os demais presentes puderam notar (no dia do anúncio), ainda estou me acostumando a essa exposição a que se sujeita alguém que ocupa um cargo com tantas responsabilidades em um clube do tamanho do Fluminense. De qualquer forma, nesse episódio específico, o presidente Mário já havia apresentado nossas realizações e planos de forma bastante detalhada e teve a generosidade de me chamar ao palco para me apresentar ao público, então apenas agradeci, de forma contida – explicou.

Mattheus é carioca, mas quem o conhece nos corredores das Laranjeiras vê nele o estilo mineiro de “comer quieto”, sem procurar aparecer. Antes de seu anúncio para o cargo, já era considerado o favorito nos bastidores. E apesar de algumas vezes bater de frente com Mário em debates mais acalorados, acredita-se que jamais haverá uma briga como houve com Celso Barros. Enquanto a relação do presidente com o ex-vice geral foi construída em três meses, com o atual foi em três anos.

Até o momento, o Fluminense não anunciou um novo vice-presidente de Relações Institucionais. Questionado se com a mudança de cargo vai conseguir continuar tocando os assuntos que estavam sob sua alçada, Mattheus garantiu que sim e traçou as metas para o segundo mandato da gestão:

– Nada muda. A ideia é continuar atuando energicamente nestes temas, assim como em outros relevantes para o clube, sob a liderança do presidente. No primeiro mandato, o desafio era equacionar a situação do caixa do clube, que sofria com penhoras quase diárias, inviabilizando qualquer tipo de planejamento. Considero que, com muito esforço, esse objetivo foi alcançado por meio de acordos com o Fisco e com a celebração do RCE em relação às dívidas cíveis e trabalhistas, com todo apoio dos departamentos jurídico e financeiro.

– Neste segundo (mandato), temos como objetivos principais a redução da dívida e a busca por investimento, no que tange à parte financeira, e colocar na rua o projeto das embaixadas para estreitar ainda mais o relacionamento com o torcedor. Outro ponto relevante é o de representar o Fluminense em entes públicos e privados, preservando os interesses do clube.

O torcedor mais atento pode até encontrar o novo vice geral nos jogos. Mattheus tem fama de ser “fominha” e ir a todas as partidas possíveis. E costuma trocar qualquer camarote pela boa e velha arquibancada:

– A partir de 2000, não me lembro de ter faltado um jogo do Fluminense, não só no Maracanã, estando no Rio. Já faltei, infelizmente, por viagens e compromissos profissionais em que estava fora da cidade. Ir a jogo, em qualquer lugar que seja, é a coisa que mais gosto de fazer, e a arquibancada é o melhor setor do estádio para torcer.

 Informação ge.globo.com

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