Nas próprias pernas… – por Pedro Rangel
Qual é o Fluminense que devemos torcer e esperar? Aquele do primeiro tempo – até do jogo todo contra o Atlético – ou esse que vimos no último jogo, diante do Ceará? Acho que essa pergunta a deve estar sendo feita, de várias formas diferentes, na cabeça de muitos tricolores espalhados por toda essa Terra. Mas não é fácil entender, realmente, como nosso time oscila tanto. Ou é?
Na coluna passada, havia comentado por aqui que “para conter os líderes do campeonato, Odair precisava de mais pegada no meio de campo, e uma primeira linha defensiva capaz de acompanhar os primeiros movimentos dos jogadores atleticanos. Talvez com Fred e Nene em campo, isso não fosse possível de ser realizado”. E mais, “ estratégia desenhada por Odair pareceu ter solucionado, ou melhorado, um dos grandes problemas de seu time: a transição rápida entre defesa e ataque. O meio mais leve, com atacantes mais rápidos, funcionou e o Flu começou melhor o jogo”.
Pois bem. No jogo contra o Ceará tivemos a dupla de experientes jogadores (descansados) atuando. E o time perdeu o que teve de melhor no Mineirão. Transição rápida para o ataque, marcação alta e a pegada na primeira linha defensiva. O Flu até incicou melhor o jogo, conseguindo pressionar o Ceará no seu campo, mas passou longe de repetir a intensidade e qualidade que teve na última quarta-feira no Mineirão e, mais uma vez, recuou após marcar seu gol.
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Odair trocou as peças em campo e, com isso, o esquema tático também foi mudado: saiu um time mais rápido e entrou um time mais técnico. Foram 20 minutos intensos, com um jogo controlado, contra 70 minutos (arredondando) de um jogo que nenhum tricolor gostaria de ver. Nesses primeiros minutos, finalizações e o gol. Após, o time, mais uma vez, recuou.
Livres de uma primeira linha de marcação mais efetiva, os cearenses começaram a gostar do jogo e achar os espaços na defesa tricolor. E a assustar. Aí o Flu de quarta virou o Flu “de sempre” e foi reativo. Só que sem as peças necessárias para encolher a mola e sair rápido, o time entrou na sua própria armadilha. Resultado disso já é claro para os tricolores. O time para de atacar e vê a pressão do adversário crescer. Mais é tipo simples assim mesmo. E, numa falha coletiva – essa bola não pode passar do primeiro pau, e se passar tem que aliviar – saiu o gol-contra, infelicidade de Hudson e tristeza de milhões.
Mais um vez, então, o Fluminense voltou a atacar. Precisou, mais uma vez (sei que estou repetindo, mas é para destacar mesmo)precisou tomar o gol de empate para querer alguma coisa no jogo. Até chegou com Luiz Henrique, no final do primeiro tempo, mas sem sucesso. Apesar de Odair garantir que não manda seu time recuar, o recuo do time é evidente. E o treinador precisa corrigir isso, rápido.
Incomodado com a postura do time, o treinador mexeu no segundo tempo. Caio Paulista foi o primeiro a entrar em campo, no lugar de Hudson. Depois vieram Marcos Paulo, Ganso e Felippe Cardoso, nos lugares de Luiz Henrique, Nene e Andre (que substitui Yago, nos primeiros momentos do jogo). Mas os visitantes seguiram melhores na partida. E numa falha de Digão, que vinha de atuações muito seguras, eles chegaram lá. E o pior estava por vir. Imaginem, uma derrota em casa, após uma sequência invicta, e vindo de um belo jogo contra o líder? E para evitar isso, o Flu se lançou ao ataque. Numa dessas investidas, Fred, sumido no jogo, escorou para Danilo Barcelos evitar um prejuízo ainda maior, já nos acréscimos.
NOTA DO AUTOR: Impressionante a comemoração do time em campo. No meus áureos tempos de arquibancada de Maraca, ao empatar um jogo em casa, contra o Ceará – e com todo respeito ao adversário – os atletas corriam para o fundo do gol e pegavam a bola para reiniciar o jogo o quanto antes. Faltando 1, 2 ou 10 minutos. Ainda que fossem 30 segundos restantes, nossos jogadores não se satisfaziam com um empate desse tipo.
Agora, o Flu folga. Os jogadores e comissão técnica descansam nesta segunda – domingo também foi dia para ficar com a família – e se preparam para os próximos compromissos. Após 6 jogos em 19 dias, mais os deslocamentos, a equipe conseguiu se manter invicta – 3v e 3e – e conquistou 12 dos 18 pontos disputados. Não dá para dizer que foi uma má sequência, mas dá para afirmar que queríamos mais.
Odair agora terá tempo, e um elenco mais descansado, para programar os próximos jogos. Não dá para se perder nas próprias pernas, seja por cansaço ou por opções erradas na concepção da jogada. O esquema com três “meio-campistas” que o treinador gosta de atuar, só funciona com jogadores rápidos na frente, que possam criar jogadas em profundidade, e não com jogadores mais “técnicos” no meio. Com eles em campo, a movimentação dos demais tem que ser intensa, coisa que não vimos e a presença dos alas na frente constantes, para se criar jogadas em profundidade. Caso contrário, o time fica previsível e não encontra os espaços no campo adversário.
Luccas Claro deve voltar – Digão, suspenso, facilita a decisão – e Calegari deve reaver sua posição na lateral, pois Julião – após duas partidas em que veio bem – voltou a deixar a desejar no último jogo. E a hora do Flu fazer a diferença é essa. Além do Atlético, líder, ele é o único ali na parte de cima que não tem mais nenhuma competição na temporada e pode se dedicar inteiramente ao Brasileirão. Próximo jogo é contra o Santos, em casa. Um adversário direto, na briga pelo G6/G4. Precisamos de uma outra grande atuação! E temos tempo.
Uma vaga no G4 é possível e, quem sabe – como sempre digo por aqui – até mesmo sonhar com o título. Afinal, sonhar não custa nada.
ST