Diniz fala das análises do seu trabalho e sobre nó tático no jogo: “Disposição e solidariedade corrige erros táticos, mas a falta disso não tem tática que resolva”

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Fernando Diniz concedeu a primeira entrevista coletiva como campeão Carioca, nesta segunda-feira (10), no CT Carlos Castilho. Como estava suspenso na final, não pôde participar da coletiva após 4 a 1 em cima do Flamengo.

O treinador afirmou que está contente com a vitória e os elogios, mas que não muda em nada na continuação do trabalho e fala sobre algumas críticas injustas.

“As críticas construtivas fazem com que a gente cresça. Ela pode vir de qualquer lugar: da sua casa, dos seus amigos, da imprensa. Temos só que saber depurar e não ficar perdido em meio a tantas críticas e elogios. Confesso que muitas vezes as críticas partem de um ponto que eu luto muito contra. Vem o resultado vem o elogio. Vem derrota vem crítica. Emendando nisso já respondo a outra pergunta a respeito de ganhar e se muda alguma coisa. Não vai mudar a minha rotina em absolutamente nada, eu só estou mais feliz. Feliz por mim, pela torcida do Fluminense, meu amigos, minha família. Muda meu estado anímico, mas não de conduta”, afirmou Diniz.

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“Os técnicos que perdem nunca são bons e os que vencem sempre são enaltecidos. A gente não consegue discutir sobre trabalho, ética e profundidade de trabalho. Espero que o debate melhore neste sentido e tenho enorme expectativa que vai. Estamos sempre atrás de heróis e vilões e nessa vida todos nós somos os dois em determinados momentos. Só que não podemos ser tão agressivos a ponto de terminar com algumas carreiras, porque isso acontece muito. Jogador não é máquina. Maioria são de lares pouco favorecidos, que chegam ao profissional com pouca idade e se esta no Maracanã ontem e joga mal no outro dia é achincalhado e ainda cobramos que esse garoto tenha base emocional para suportar essa pressão. Não tem e quase ninguém tem. Então meu desejo é que a gente mude o olhar do futebol para as pessoas que trabalham direto e comece a analisar o trabalho. O resultado é importante, mas desde que seja consequência de um bom trabalho”, completou Diniz.

Diniz também foi perguntado a respeito de Eduardo Barros e Wagner, seus auxiliares. O treinador trabalha com os dois há anos e elogiou a qualidade deles.

“Os dois contribuem muito. Eduardo é um jovem treinador e nesse momento auxiliar. Já dirigiu times de base e equipes profissionais em algum momento. Um cara apaixonado pelo futebol. A gente trabalhou junto no Audax, depois no Athletico-PR. Ele sabe de tudo, sabe do ataque, da defesa. Lá no Audax a gente não tinha scout e nem análise de desempenho,era nós dois  praticamente que fazíamos as análises. O Wagner é meu braço direito e esquerdo. Ele me entende pelo olhar e devo muito a ele. São os dois auxiliares que eu trouxe que agregam muito no trabalho. Funciona muito bonito. Tive na Europa em 2018 e  as montagens dos treinos aqui no Fluminense é muito alta, então estamos muito bem servidos fora do campo”, falou Diniz.

Diniz fala das análises do seu trabalho e sobre nó tático no jogo: “Disposição e solidariedade corrige erros táticos, mas a falta disso não tem tática que resolva”
Mailson Santana/FFC

Após o primeiro jogo foi falado sobre um nó tático do Flamengo em cima do Fluminense e agora ao contrário. Diniz falou na entrevista que acha uma análise rasa e vê nó tático em nenhuma das partidas.

“Imprensa falou que o Vitor Pereira deu nó tático. Vocês são parte da imprensa. Mas onde teve nó tático? Montou estratégia, Flamengo fez dois gols, nós tivemos chance. Arbitragem horrorosa que deu tudo para o Flamengo. Ontem ela foi isenta na maior parte do jogo. Teve um lance do Pedro muito similar ao do Samuel Xavier. E não estou reclamando do Pedro não ser expulso, mas sim do Samuel e da não expulsão do Leo Pereira. Quando ganhamos de 2 a 1 também foi muito ruim a arbitragem. Por que teve nó tático? De acordo com vocês até  jogamos melhor no primeiro tempo. As ideias você reconhece muito melhor no primeiro tempo. Para perguntar de nó tático, acho que você deve concordar. De onde tira o nó tático? Eu não vi. Flamengo foi melhor, mas não teve nó. E ontem também não teve. O jogo é muito mais que a questão tática. Assim como toda atividade humana tem a questão anímica. Disposição e solidariedade corrige erros táticos, mas a falta disso não tem tática que resolva”

Confira outras perguntas:

Atuação do Felipe Melo?

“Quando fala do Felipe Melo, que Flamengo não soube explorar… Felipe Melo jogou muito bem, mas querem achar um jeito de ferrar o cara. Ele jogou bem. Flamengo tentou, estavam ele e o Marcelo. O que Flamengo produziu? Flamengo não conseguiu ou eles foram bem? Você acha que eu estou aqui e não vejo o Felipe Melo treinar? Boto Felipe Melo para ferrar o Fluminense, a mim e ao próprio jogador? O Felipe Melo se cuida e melhorou do ano passado para cá. Talvez seja o melhor Felipe Melo desde que chegou ao Fluminense. Pega no começo e e vê se ele fez uma partida melhor que a de ontem. No Peru achei falta, ele tinha acertado três bolas de 60 metros, que ninguém fala quase. Tem um talento especial. Não significa que ele será titular absoluto, ele está perto do fim. Quando querem pegar um para Cristo…quando é garoto acaba, mas ele tem estofo. Eu vou morrer e viver em cima das minhas ideias. Temos de ser mais justo. Ganhou bola no alto e bateu no Fabricio Bruno. Acertou quase tudo no jogo. Vamos procurar defeito hoje? Esse tipo de injustiça não gosto.”

Posicionamento do Marcelo?

“É uma coisa que o modelo de jogo que a gente adota permite e favorece. Acho que o Marcelo pela qualidade que tem e trata o jogo de futebol, vai conseguir ser muito bem acolhido. Vai ter mais espaço para jogadas como aquela. Ele sabe aproveitar as brechas. Não me lembro de ter feito uma jogada pelo lado direito do campo no Real Madrid ou na Seleção. Ainda assim, em pouco tempo ele conseguiu perceber e fazer um gol determinante para o nosso sucesso ontem.”

Preleção?

“Preleção a gente organizou da maneira que achou melhor para ontem. Foi construída por muitas mãos. Pessoal da análise me ajudou muito. O toque final foi conseguido no Maracanã. O Gabriel Oliveira teve um trabalho exemplar. Achou  um vídeo que já tinha, achei que ia casar bem ali com a história breve do Fluminense, uma música a respeito. Achei que serviu bem pra fechar. Trabalhamos a semana inteira sobre Flamengo, e a carga emocional favoreceu para os jogadres entrarem fortalecidos emocionalmente.”

De onde vem essa convicção?

“A minha convicção vem do sofrimento que eu tive quando jogava futebol. Eu sei o que é ser jogador e da pior parte. Se sentir o tempo todo exposto para ser massacrado. Pela imprensa, pela torcida, ambiente interno, que não protege. A gente acha que ser jogador é fácil. É muito difícil. Tenho um cunhado que é empresário que fala que jamais conseguiria trabalhar no futebol. Toda quarta e domingo. Quando ele erra é de 3 em 3 meses e resolve isso de forma interna. O jogar toda semana tem que dar conta de ser enaltecido ou ser  massacrado. Eu não quero saber só o que o jogador produz, quero saber o que ele é.”

“O futebol para mim é um meio de ajudar os jogadores a serem pessoas melhores. Não é jornalista, torcedor ou pessoa de fora, que vai determinar o meu tamanho e dos jogadores que estão comigo. Eu acho que o tempo vai passando e a gente vai aprendendo a errar menos. Eu não faço mais porque eu não consigo. Mas vou me aprimorando para poder fazer cada vez mais. A gente não consegue fazer nada sem os jogadores. Tem que entender quem joga. A pessoa que está por trás do jogador. Esse é o meu maior objeto de estudo e a paixão. De fato, é ver os jogadores bem e depois deles as pessoas que estão no meu entorno.”


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