Personalidade, teimosia e a linha tênue que as separa
Fernando Diniz tem uma personalidade forte. Ele já demonstrou isso e nós todos já tivemos a oportunidade de observar isso. Ele banca seu estilo de jogo, aplica seus métodos de treinamentos inovadores e consegue que todos ao seu redor, e comando, sigam à risca aquilo que ele propõe. Mas a grande questão é: onde está a linha que divide a personalidade da teimosia? Ela é tênue, difícil de se encontrar, mas é ali que ele tem que estar. No limite entre elas. Suas convicções não se sobrepõem aos fatos e isso é o que está gerando descontentamento de parte da torcida e por conta disso os resultados não estão vindo.
A começar pela camisa número 1, ou melhor, a posição número 1. Em nenhum planeta da galáxia Agenor supera Muriel. Alias, mais fácil acreditar que Agenor sequer fosse jogador profissional. Não falo do “CPF” dele, nem o conheço. Falo do atleta mesmo, da sua performance debaixo das traves. E aí não dá, e não dá mesmo. Ele tem quase 30 anos e completou 100 jogos como profissional há pouco. Ora, isso só se justificaria se ele fosse reserva do Rogério Ceni, quando jogava pelo São Paulo, ou do Marcos, quando defendia o Palmeiras. Mas não, ele não foi. Ao contrário, passou por clubes de menor expressão sempre no banco. Surgiu no Inter, foi para o Criciúma, Joinville, Guarani, Sport e chegou ao Fluminense.
Os gols sofridos ontem são prova disso. No primeiro soltou uma bola ridícula nos pés do atacante deles. No segundo, demorou uma eternidade para ir na bola mais do que defensável na cobrança de falta. Não dá para mantê-lo no time nem só com Marcos Felipe no banco, quanto mais agora com a chegada de Muriel. Isso, Diniz meu caro, não é personalidade… é teimosia.
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Outro ponto é a questão do estilo de jogo proposto. É muito bom, funciona – já vimos grandes atuações, contra times de elenco mais badalado – mas só quando temos as principais peças do elenco à disposição. Simples demais de constatar isso. O time performa muito bem quando temos Allan e Ganso na meiuca. Sem eles esse esquema fica comprometido. A bola não sai com qualidade da defesa, ou chega no ataque quadrada ou se perde a bola na intermediária, criando chances perigosas para o adversário.
Novamente, em nenhum planeta da galáxia, pode-se esperar que Yuri e Bruno Silva entreguem a saída de bola que Ganso e Allan conseguem entregar. Se sem um desses dois o jogo já fica mais complicado, sem os dois então… E aí vem a segunda diferença entre a personalidade e a teimosia. O Flu precisa saber jogar de forma diferente, em jogos diferentes, com situações diferentes e, sobretudo, quando seu time principal não puder ir a campo. Ponto, parágrafo, letra maiúscula.
Diniz precisa identificar isso, e nem é tão difícil assim. Temos uma molecada talentosa no banco, e alguns já iniciando as partidas. Ontem, contra o Vasco, saímos vencendo o primeiro tempo por 1 x 0. Se tivéssemos fechado a casinha ali atrás, aliviando as investidas deles, talvez nossa sorte fosse outra. Joga no erro dos caras… no desespero deles. Estavam em casa, atrás no placar e atrás de nós na tabela. Manda a bola para frente e põe a molecada para correr atrás. Não precisa propôr esse estilo sempre. Isso não é personalidade, meu caro Diniz, é teimosia.
Pra finalizar, um outro ponto que está claríssimo. Pedro e João Pedro são centroavantes e não conseguem desenvolver o que têm de melhor jogando juntos, desde o início. As leis da física são claras: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Pedro e João Pedro também não. Um prejudica o outro, tomando os espaços, embolando o jogo no meio, facilitando a marcação. E deslocar JP para a ponta tira o sentido de tê-lo em campo, pois o futebol dele desaparece. Mesma coisa com o Pedro. Ele aparece fora da área para buscar a jogada e correr para receber lá dentro. Insistir com isso, de novo caríssimo treinador, é teimosia.
A linha que divide a personalidade da teimosia, como dissemos, é tênue, finíssima, quase imperceptível. Mas Diniz precisa encontrá-la imediatamente. Estão começando o processo de fritura dele – não discuto quem tem ou não razão, se é merecido ou não. Mas o fato é que decorridos praticamente um terço do campeonato, temos um aproveitamento preocupantemente baixo, de time rebaixado. São 9 pontos em 33 disputados. Perdemos muitos pontos por erros do VAR (Goiás, Bahia e Santos), merecíamos melhor sorte em alguns jogos (Ceará, Flamengo e Botafogo) mas isso não conta na tabela, não quer dizer absolutamente nada em termos de colocação.
Particularmente torço muito para o sucesso de Diniz. Gosto muito dele. Das suas ideias, dos seus métodos de treinamento, da forma como trata a todos – não só trata todo mundo bem, mas como faz questão absoluta disso. Vejo que ele tem muita coisa boa e entende muito de futebol. Mas, se não encontrar uma forma diferente de perceber as coisas, a personalidade pode se transformar em teimosia e aí…
Grande domingo a todos.
Saudações Tricolores,
Washington de Assis