LEONARDO BAGNO – Nada é impossível para o Fluminense

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Tricolores,

Existem inúmeros exemplos na nossa história que provam e comprovam que o Fluminense desafia a lógica. Poderia citar o título brasileiro de 1970 como o maior exemplo de todos, quando vencemos um Brasileiro disputado por verdadeiras seleções (todos os jogadores da seleção brasileira, que se sagrou tricampeã mundial no México, disputaram aquela que é considerada a maior edição de um campeonato nacional já disputada até hoje). O triangular final teve participação decisiva de um atacante reserva, chamado Mickey, que fez gols em todas as partidas da reta final e que podemos compará-lo, guardadas as devidas proporções, ao Adriano Magrão daquele time. Poderia citar, também, a arrancada de 2009, quando absolutamente todos, exceto o meu amigo Emiliano Tolivia, já davam como certo o rebaixamento tricolor para o Brasileiro de 2010, o que, como sabemos, não veio a acontecer. Contudo, ficarei com o milagre que é o meu predileto. Aquele que lembro como se fosse hoje e para o qual eu gostaria de retornar para vivê-lo novamente se assim me permitissem: o Carioca de 1995.

Não vou falar da final contra o Flamengo. Isso eu deixo para outra hora. Aliás, começo falando que nem final aquele jogo foi, pois fazia parte da última rodada do octogonal final, que calhou de colocar Fluminense e Flamengo frente à frente, com os dois times sendo os únicos concorrentes ao título daquele ano naquele momento. Todos os demais já estavam eliminados e não conseguiriam superar a pontuação da dupla Fla-Flu para vencer a fase decisiva do campeonato. Eu quero falar justamente deste octogonal. Vejam só a saga tricolor. Acredito que concordarão comigo sobre o milagre que o Fluminense operou para sagrar-se campeão.

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O sistema de disputa daquele campeonato foi extremamente confuso. Se hoje você acha que o Carioca tem uma fórmula de disputa ruim, espere para conhecer a de 1995. Eram 16 clubes divididos em dois grupos, ficando 8 para cada lado. Inicialmente, o campeonato foi disputado em dois turnos, válidos pela primeira fase da competição. Os vencedores de cada grupo ao término dos dois turnos da primeira fase disputaram a Taça Guanabara. Os quatro primeiros de cada grupo, diante desta classificação final da primeira fase (ou seja, após a disputa dos dois turnos), formaram um novo grupo que disputou o octogonal final. Nele, alguns times iniciaram a disputa da fase decisiva com bonificação de pontos. Os vencedores de cada grupo ao término do primeiro turno receberam um ponto extra. O mesmo ocorreu com os vencedores de cada grupo no segundo turno. Por fim, o vencedor da Taça Guanabara recebeu mais um ponto extra.

Desta maneira, Flamengo (por ter chegado em primeiro lugar no seu grupo nos dois turnos e por ter conquistado a Taça Guanabara) recebeu três pontos extras. Vasco e Botafogo (por terem chegado em primeiro lugar nos seus grupos no primeiro e segundo turno, respectivamente) receberam apenas um. Os demais times, portanto, não receberam bonificação.

Assim começou a disputa do título para o Fluminense: zero ponto, vendo o Flamengo no topo da tabela com três pontos à frente (uma vitória). Nossos primeiros resultados no octogonal foram pífios. Empatamos com o América em pleno Maracanã e perdemos para o Botafogo, na rodada seguinte, no mesmo estádio. Assim, o Flamengo, que já estava com três pontos na nossa frente no início da disputa, terminou a segunda rodada com nove pontos (duas vitórias nas duas primeiras rodadas). Nós terminamos com um ponto. O Fluminense tinha, com isso, que tirar oito pontos de diferença do Flamengo para conseguir ser campeão num campeonato disputado por quatro times grandes e quatro times pequenos, sendo que estes quase nunca tiravam pontos daqueles, o que tornava ainda mais difícil a tarefa do Fluminense.

Importante lembrar que o Fluminense foi, dos grandes, o que menos investiu para a disputa do Carioca. O Vasco tentava conquistar o tetracampeonato e tinha em Valdir, ídolo cruzmaltino, o grande jogador daquele ano. Botafogo montou um excelente time, que veio a coroar o investimento com o título Brasileiro daquele mesmo ano (que, diga-se de passagem, perdemos graças ao Joel Santana, que deveria ser persona non grata no Fluminense, mas, para minha tristeza, ainda treinou o nosso time algumas outras vezes depois do episódio de ter treinado o Flu na véspera da partida decisiva contra o Santos completamente embriagado). Já o Flamengo, que naquele ano comemorava seu centenário de fundação (vocês não têm ideia de quanto foi insuportável a imprensa nesse ano!), contratou vários jogadores interessantes e contava, ainda, com Sávio, que era um jogador acima da média. Além disso, ainda contratou do Barcelona simplesmente o Romário, que era o melhor jogador do mundo em 1995 (em 1994, ganhou a Copa do Mundo). Era como se o Flamengo, para o Carioca de 2019, tirasse o Messi do mesmo Barcelona para comandar o seu ataque. Ou o Cristiano Ronaldo. Ou o Neymar. Ou o Mbappé. Enfim, deu para entender, né? E, no Fluminense, ainda tinha o drama dos salários atrasados (que muitas das vezes era suportado pelo próprio Renato Gaúcho!). Alguma semelhança com os dias atuais?

Pois bem, fato é que o Fluminense tinha que vencer tudo e todos a partir da terceira rodada se quisesse sagrar-se campeão do Carioca e ainda torcer para tropeços inesperados do Flamengo contra times que eram muito inferiores tecnicamente em relação a ele. Todos sabem o que aconteceu. Não só fomos campeões como finalizamos a campanha vencendo o maior jogo de futebol que já existiu na história do próprio futebol em todos os tempos no mundo!

O Fluminense, senhoras e senhores, adora aprontar das suas. E são vitórias épicas, inesquecíveis, que duram muito mais do que 90 minutos. Quem não esteve no Maracanã no dia 25 de junho de 1995 simplesmente não viveu. O mesmo posso falar para Fluminense x São Paulo pela Libertadores de 2008. Ou Fluminense x América do México na Libertadores de 2011.

Rafael Silva, um grande tricolor que tive o prazer de conhecer no recebimento do Fluminense no aeroporto Galeão depois da desastrosa derrota para a LDU no primeiro jogo da final da Sul-americana de 2009, disse muito bem sobre o jogo que acontecerá no dia 21 de novembro: “Em 1995, tive a maior aula de torcer da minha vida. Não insisti com meu pai em ir ao Fla x Flu e até hoje me arrependo de não ter visto o Gol de Barriga ao vivo. Desde lá, tenho o seguinte lema: Muito melhor a TRISTEZA de sair derrotado do Maracanã do que a RAIVA de não estar no estádio nas vitórias. Principalmente as históricas.”

Não fique em casa. Vai se arrepender!

Saudações Tricolores,

Leonardo Bagno

 

Siga-me no Twitter: @LeoBagno


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