Hoje é dia 5 de dezembro! 14 anos do Tri
Vinte e seis anos. Vinte e seis anos de um silêncio que não era apenas silêncio. Estava mais para um grito sufocado, um soluço preso na garganta de milhões de tricolores. Era como se o Fluminense, clube que transcende o futebol e a própria essência do esporte, tivesse sido condenado a um purgatório sem fim. E, no entanto, naquele 5 de dezembro de 2010, no Engenhão, sob o céu cúmplice do Rio de Janeiro, o destino, esse dramaturgo cruel e genial, decidiu que era hora de libertar o grito.
O jogo contra o Guarani não era apenas um jogo. Era um parto. E como todo parto, foi doloroso, suado, cheio de sangue e lágrimas. O primeiro tempo foi uma ópera de nervos. A bola, essa deusa caprichosa, parecia zombar do Fluminense. Escapava dos pés de Emerson, fugia do domínio de Conca, desviava-se das cabeçadas de Fred. O gramado do Engenhão, mais apropriado para uma batalha medieval do que para um espetáculo de futebol, transformava cada passe em um ato de heroísmo.
A torcida, essa massa de almas atormentadas, não assistia ao jogo. Ela vivia o jogo, respirava o jogo, sentia o jogo. Jogava junto. Jogávamos juntos como nunca e como sempre ao mesmo tempo. Coisa que só quem é tricolor sabe traduzir. Cada erro era um punhal no peito. Cada ataque frustrado, uma nova dose de angústia. E quando o Guarani, esse time modesto e valente, ameaçava, o coração tricolor parava. Aos 39 minutos do primeiro tempo, quando Reinaldo quase marcou, o Engenhão inteiro prendeu a respiração. Era como se o destino estivesse brincando com os tricolores, testando sua fé, sua paciência, sua capacidade de sofrer.
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Mas o Fluminense é, antes de tudo, um clube de milagres. E o segundo tempo trouxe o milagre que todos esperavam. Aos 16 minutos, num lance que parecia saído de uma peça de teatro, Carlinhos, pela canhota, faz que vai mas não foi e acabou indo. Washington, o Coração Valente, que parecia ter trocado de mal com as redes, raspou de cabeça para Emerson, o Sheik, que, com a frieza de um matador, chutou por entre as pernas do zagueiro. E do goleiro. A bola entrou. E o grito, aquele grito sufocado por 26 anos, explodiu.
Ah, meus amigos, que grito foi aquele! Não era apenas o grito de um gol. Era o grito de uma geração inteira. Era o grito de quem viu o Fluminense navegar nas sombras da morte, flertar perigosamente com sua própria extinção e ressurgir. Renascer das cinzas. Era o grito de quem acreditou quando ninguém mais acreditava. Era o grito de um clube que, mesmo nos momentos mais sombrios, nunca perdeu sua alma, sua essência, sua vocação para o impossível.
E o jogo continuou. Já no banco de reservas, Fred e Emerson se contorciam como em um ritual pagão, implorando pelo apito final. E quando Simon soprou seu apito pela última vez, não era mais um time que comemorava: era uma legião inteira que se libertava! O gol de Emerson não foi apenas um gol. Foi um poema. Foi uma epifania. Foi a prova de que o futebol, esse esporte tão banal e tão sublime, é capaz de transformar sofrimento em alegria, desespero em êxtase, morte em vida.
Quando o árbitro apitou o fim do jogo, o Engenhão virou um carnaval. O Engenhão explodiu! Uma catarse coletiva! Vinte e seis anos espera, sofrimento e angústia se dissolveram num único momento de êxtase! Homens choravam como meninos. Os céus pareciam aplaudir! A torcida tricolor, resiliente, apaixonada e única, soltou o grito que estava preso há 26 anos. E o Fluminense, esse clube que é mais do que um clube, voltou a ser campeão brasileiro.
O Fluminense, meus caros, não apenas venceu um jogo. Ele exorcizou demônios, ressuscitou suas glórias e escreveu seu nome, com letras de fogo e lágrimas, no livro sagrado do futebol brasileiro!
Mas, no fundo, o título era apenas um detalhe. O que importava, o que realmente importava, era o que aquele gol, aquele jogo, aquele dia significavam. Era a prova de que o Fluminense, mesmo depois de 26 anos, ainda era o Fluminense. E isso, meus amigos, é tudo.
Porque, como diria o próprio Nelson Rodrigues, o Fluminense não é apenas um time. É uma religião. E hoje, no Engenhão, milhões de tricolores renovaram sua fé.
ST
Washington de Assis