Éramos só torcedoras

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O Estádio das Laranjeiras foi palco de inúmeros eventos históricos para o futebol brasileiro.

Em 1906, sediou o primeiro jogo oficial de competições do futebol carioca; em 1914, a estreia oficial da Seleção Brasileira; dois anos depois, o público presenciou a primeira invasão de campo no Rio de Janeiro, protagonizada pelo ilustre Henrique Coelho Netto. Esses e outros episódios explicam de forma contundente o motivo pelo qual é apelidado de “berço do futebol brasileiro”.

No entanto, além dos jogadores que entram em campo, há outro elemento que faz do futebol o esporte mais popular do mundo e que o diferencia dos demais. Esse componente, essencial tanto quanto a própria bola que faz a partida acontecer, também teve origem neste mesmo local. Os responsáveis por tornar o jogo ainda mais apaixonante, pelas festas mais bonitas e pelo silêncio mais melancólico: a torcida.

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Torcedoras do Fluminense
Foto: Flu-Memória

Vejam bem, quem acompanha futebol sabe que o torcedor não é mero espectador. É quem melhor representa as emoções da partida, é um jogador fora de campo. O termo foi popularizado nas prosas de Coelho Netto, o mesmo que invadiu o campo no Fla-Flu em 1916, consternado com uma marcação de pênalti para o rival do Tricolor. Ao observar o público feminino em uma das partidas do Fluminense, descreveu as moças em uma de suas crônicas como “torcedoras” por conta do gesto de “torcer” lenços e luvas nos momentos de apreensão.

Se na época estas torcedoras continham suas emoções naqueles gestos, hoje não é mais assim. Um olhar nada atento às arquibancadas pelo Brasil mostra que as mulheres herdaram a paixão incondicional tão bem representada na figura de Chico Guanabara. Não que tenha sido fácil chegar até esse momento, com certeza não foi. Mulheres valentes lutaram pelo direito de amar o futebol e de caminhar lado a lado com os seus clubes do coração. Esse amor que nos foi negado por tanto tempo e que por vezes ainda tentam usurpar de nós. Mas, bravamente, resistimos.

E enquanto ocupávamos a arquibancada e reforçávamos o coro que alenta o time em busca da vitória, outras de nós travavam outras batalhas: para estar em campo, nas transmissões, nas posições de gerência do clube e por ai vai. Evidentemente, ainda temos um longo caminho a percorrer, mas é preciso reforçar o quanto avançamos e que não há espaço para retrocessos. Aos poucos estamos ocupando os espaços que são nossos por direito e mostrando que isso não é uma fase ou uma “onda”, mas que chegamos para ficar.

Foto: Marina Garcia

Sempre fundamental olharmos para dentro com olhar crítico, por isso sempre fiz questão de apontar onde eu entendia que o Fluminense errava ou se omitia quando se tratava desta pauta. Hoje, em 2022, olho otimista para o caminho que o clube vem construindo, entendendo que ainda há possibilidade de melhora – pois estamos longe da igualdade de fato, sobretudo quando se trata de mulheres trans -, mas que a mulher é cada vez mais valorizada e respeitada pela instituição.

Estamos na Flu TV, no campo, na comissão técnica, na gestão, nas coletivas de imprensa e onde mais quisermos estar.

Ah, e claro, na arquibancada.

Às mulheres, que lutam e resistem todos os dias, desejo que no próximo ano possamos comemorar mais avanços e a nossa liberdade de sermos o que bem entendermos. Por mais respeito e igualdade.

#TimeDeTodas


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