Crystal Palace, City e Liverpool: Os motivos pelo qual Evanílson não fechou com nenhum clube inglês

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Evanílson acertou sua saída do Flu e irá para o futebol português. O jogador deverá embarcar para o país nessa terça-feira para assinar um contrato com o FC Porto pelas próximas temporadas. O clube do norte de Portugal “atravessou” as negociações que o atacante estava tendo com Crystal Palace, Manchester City e até sondagens do Liverpool para ficar com o atleta de 20 anos.

Entretanto, nossa reportagem apurou que as negociações de Evanílson com os clubes ingleses não estavam andando e provavelmente, não iam se concluir. Isso pelo fato das novas leis trabalhistas e de vistos da Football Association (FA) ficaram mais rígidas e o atacante não conseguiria se adequar a praticamente nenhuma dessas regras.

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Nessa matéria especial, explicaremos de forma esclarecedora como funciona essas novas regras de transferências na Inglaterra e os motivos pelo qual Evanílson não conseguiu se acertar com nenhum clube inglês.

Esse novo cenário foi construído diante da rigidez das regras da Football Association (FA) para emitir vistos de trabalho para jogadores estrangeiros e começou a mudar com a transferência de Richarlison para o Watford na temporada 2017/18.

O sistema de vistos para jogadores de futebol não europeus no país é bastante rígido. Ele foi desenhado de tal modo que, obtém o visto de maneira automática – sem necessidade de outras comprovações e solicitações – apenas jogadores de alto nível em seus países de origem. Essas determinações estabelecem que esse visto “automático” seja dado a jogadores em nível de seleção e somente de seleções que figurem até a posição 50 no Ranking da FIFA.

Como dito, um dos critérios para ingressar na Premier League é a participação dos jogadores pelas seleções nacionais, mas na avaliação da FA, há também aspectos subjetivos e pode ser influenciada pelo investimento feito pelos clubes e pela probabilidade de o jogador ser titular na equipe contratante. Esse caso se aplica à Evanílson

Esse último aspecto é apontado como diferencial para que Douglas Luiz, ex-Vasco reforço do Aston Villa na temporada passada, tenha conseguido o visto após uma negativa na última edição, quando foi chamado por Pep Guardiola de volta do empréstimo ao Girona. Sem a autorização, o volante voltou à Espanha. E temporada passada, foi vendido pelo Manchester City aos Villans por R$ 71 milhões.

Existe inclusive uma tabela, que determina a % de jogos que o atleta deve ter jogado pela seleção de seu país nos últimos 24 meses, e o % varia de acordo a posição do país no ranking FIFA da seguinte maneira:

  • Posição 1 a 10 – mínimo de 30% de participação nos jogos da seleção
  • Posição 11 a 20 – mínimo de 45% de participação nos jogos da seleção
  • Posição 21 a 30 – mínimo de 60% de participação nos jogos da seleção
  • Posição 31 a 50 – mínimo de 75% de participação nos jogos da seleção

Isso não significa que seja impossível obter vistos para jogadores que não cumpram os requisitos, mas é preciso comprovar alguma questão específica que justifique a atuação do atleta no país.

Reformulação na regra com Greg Dyke

O presidente da FA na época, Greg Dyke, explicou que o sistema atual precisava ser mais rígido para permitir apenas aos jogadores não-EEE que são:

  • “Estabelecidos internacionalmente no mais alto nível”; e
  • “Cujo emprego contribuirá de forma significativa para o desenvolvimento do esporte no mais alto nível”.

Uma série de estatísticas importantes foram utilizadas pela FA para demonstrar a sua visão de que muitos estrangeiros de sub-elite podiam jogar no Reino Unido, bloqueando as vias dos jogadores ingleses até a primeira equipe. Tais estatísticas incluíram:

  • Aproximadamente 50% de todos os jogadores não-EEE se juntaram a clubes através do painel de recursos;
  • 79% de todos os recursos foram bem sucedidos;
  • 55% dos jogadores não-EEE que se juntaram aos clubes da Premier League jogaram menos do que o número médio de minutos da liga; e
  • Apenas 58% dos jogadores que receberam vistos de trabalho jogaram futebol na Premier League na segunda temporada

Dyke estava interessado em afirmar que:

“O novo sistema tornará muito mais fácil para nós identificar e atrair jogadores de qualidade superior que realmente estão no nível de elite, e isso tornará muito mais difícil para aqueles que não atendem ao padrão de qualidade para começar a jogar na Grã-Bretanha.”

Como o novo sistema de visto de trabalho o funciona?

Anteriormente, para se qualificar para jogar no Reino Unido, os jogadores de futebol precisavam ter jogado em pelo menos 75% das partidas internacionais no time principal de seu país nos últimos dois anos. Houve também um processo de recurso se esse critério não fosse cumprido. Sob o sistema anterior, os jogadores devem ter jogado para um país classificado até o número 70 no ranking da FIFA (em média em dois anos). Isso agora foi alterado para um país entre os 50 do ranking.

Esses regulamentos já não se aplicam. A elegibilidade agora é determinada de acordo com o ranking de uma equipe nacional, conforme estabelecido na tabela abaixo:

Ranking FIFA  % exigida de jogos internacionais nos últimos 24 meses
FIFA 1-10 30% acima
FIFA 11-20 45% acima
FIFA 21-30 60% acima
FIFA 31-50 75% acima

Exemplo: Para se qualificar automaticamente para um visto de trabalho para jogar na Premier League, um jogador brasileiro só é obrigado a jogar pelo menos 30% das partidas da seleção nacional nos últimos dois anos (dado que o Brasil está no top 10 do Ranking da FIFA. No momento, a Costa do Marfim está em 56º lugar, o que significa que um jogador da Costa do Marfim deverá ter participado em 75% dos jogos nos últimos dois anos. No entanto, o período de dois anos é reduzido para um ano para os jogadores com idade igual ou inferior a 21 anos no momento da aplicação, para tornar mais fácil para talentos jovens e notáveis ​​evitar a desvantagem.

Um jogador ainda pode apelar se inicialmente for rejeitado?

Se o critério automático mencionado acima não for cumprido, o jogador pode sim solicitar que um órgão de apelação (chamado Painel de Exceções) considere a experiência e o valor do jogador para decidir se o jogador deve, no entanto, ser autorizado a se juntar ao clube.

O processo de recurso é um sistema baseado em pontos sob o qual o painel irá atribuir pontos, dependendo das circunstâncias da transferência. Se um jogador marcar quatro pontos ou mais, o painel pode recomendar que o pedido seja concedido. No entanto, o painel ainda pode rejeitar, mesmo que quatro ou mais pontos sejam marcados.

Critério  Pontos
O valor da taxa de transferência paga pelo jogador está no top 25% de todas as transferências para os clubes da Premier League nas 2 janelas anteriores 3 pontos
O valor da taxa de transferência paga pelo jogador está entre o 50º e o 75º% de todas as transferências para os clubes da Premier League nas 2 janelas anteriores 2 pontos
O salário pago ao jogador pelo clube candidato está entre os 25% superiores dos 30 principais ganhadores do clube 3 pontos
Os salários pagos ao jogador pelo clube candidato estão entre os 50 e 75% de todos os 30 principais ganhadores do clube 2 pontos
O clube atual do jogador está em uma Liga (Top-3) e o jogador jogou em 30% ou mais dos minutos da liga doméstica disponíveis 1 pontos
O clube atual do jogador jogou nas fases de grupos ou na Champions League, Europa League ou Copa Libertadores nos últimos 12 meses e o jogador jogou em 30% ou mais dos minutos da liga doméstica disponíveis 1 pontos

Se o jogador não cumprir a revisão do sistema baseado em pontos acima, há um exame secundário em que, se o jogador marcar 5 pontos ou mais, o painel pode recomendar que um pedido seja concedido. Os pontos podem ser marcados se, por exemplo, o jogador jogou nas rodadas finais de qualificação da Champions League, Europa League ou da Copa Libertadores nos últimos 12 meses e o jogador jogou em 30% ou mais dos minutos da liga doméstica disponíveis. A revisão nesta fase é mais flexível, o que significa que o painel pode levar em consideração as circunstâncias se nenhuma taxa de transferência for paga (talvez porque o jogador tenha chegado ao final do contrato) ou se o jogador satisfizer alguns, mas não todos, os critérios automáticos .

Isso fará a diferença na Premier League?

Agora nas janelas de transferências, os clubes não só estão olhando cuidadosamente o tipo de jogador necessário para reforçar seu time, mas agora podem ter um tempo mais difícil de receber com sucesso os vistos de trabalho para possíveis alvos. Conforme explicado acima, sob os antigos regulamentos, houve uma alta probabilidade de sucesso em recurso quando um pedido de permissão de trabalho inicial foi rejeitado. No entanto, os clubes devem considerar a probabilidade de os alvos satisfazerem os novos critérios automáticos, uma vez que a rota do painel de recurso pode, no futuro, ser uma rota mais difícil para navegar com sucesso.

A FA estima que 33% dos jogadores que ganharam entrada no antigo sistema não receberão uma autorização de trabalho de acordo com as novas regras. Com a vitória do Brexit, no referendo para aqueles que desejam o Reino Unido fora da UE, agora pode se tornar mais fácil restringir o número de futebolistas que queiram jogar na Premier League e Football League.

COMO ISSO SE APLICA NO EVANÍLSON?

Evanilson comemorando o gol ao lado de Marcos Paulo
Foto: Reprodução/Fluminense Football Club

Após todas essas explicações, vimos que, de fato, as condições para Evanílson poder tirar o visto de trabalho eram bem pequenas. Aos 20 anos, ele, por ser um jogador que “estourou de forma tardia no futebol”, não passou por nenhuma categoria de base de seleção nacional.

Como visto anteriormente, os clubes ingleses até poderiam tentar apelar para tentar conseguir tal visto, mas seria preciso comprovar alguma questão específica que justifique a atuação do atleta no país. O jogador, provavelmente, iria ser um jogador bem reserva, sendo moldado para o futuro – Até quem sabe, emprestado.

O valor do jogador também importa para decidir se o jogador deve, no entanto, ser autorizado a se juntar ao clube. E na negociação com os ingleses, isso se tornou um empecilho. Evanílson estava avaliado, segundo o Transfermarkt, em 4 milhões de euros, o que não justificaria uma apelação de visto dos clubes ingleses para sua entrada no país.

Como visto na tabela de critérios de pontos da apelação, Evanílson não conseguiria atingir os valores necessários para uma apelação de visto.

Sendo assim, nenhum clube inglês ficou com o jogador. Hoje, O FC Porto, pagou cerca de 9 milhões de euros ao Tombense, clube detentor dos seus direitos, pelo jogador, que deixa o Fluminense.

ST

João Eduardo Gurgel


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