Ao Saudações, Eduardo Oliveira, técnico do sub-20, fala sobre o processo de formação dos jogadores em Xerém e construção do DNA Tricolor
É de conhecimento público e notório que Xerém é uma das maiores, se não a maior, fábrica de talentos do futebol brasileiro. Ao observar a temporada do futebol das categorias de base do Fluminense, o sub-17, por exemplo, conquistou o título brasileiro e os vice-campeonatos da Copa do Brasil e da Supercopa do Brasil. Jogadores que iniciaram a temporada atuando pelas equipes sub-20 e 23 terminam integrados ao time principal. Alguns deles como Luiz Henrique (20), Calegari (18) e Martinelli (19) são, inclusive, titulares na equipe comandada por Marcão.
Mas antes de chegarem ao profissional é preciso que atravessem as etapas de desenvolvimento planejadas pelo clube. O repórter João Gurgel, do Saudações Tricolores, conversou com Eduardo Oliveira, técnico da equipe sub-20 do Fluminense, para entender como funciona o processo de formação desses atletas, bem como a construção do chamado DNA Tricolor (vídeo abaixo). O treinador, que chegou ao clube em 2017 como Coordenador Metodológico, também falou sobre a importância da qualificação dos profissionais que trabalham com o futebol de base e sobre seus planos de carreira para o futuro.

Qual a função de um Coordenador Metodológico dentro do clube?
“Eu quis muito vir para o Fluminense e o clube também quis muito que eu viesse. Xerém já me chamava atenção há muito tempo. Eu tinha esse objetivo na carreira, que era trabalhar no Fluminense e fazer parte desse DNA de Xerém. Um Coordenador Metodológico alinha as ideias do clube ao jogador, que é o centro do projeto, para que ele aproveite da melhor maneira possível o programa de desenvolvimento do talento e, assim, consigamos passar fase a fase com esse atleta, desde o futsal até chegar ao sub-20 e, consequentemente, ao futebol profissional.”
O que é o DNA Tricolor?
“Eu sou parte de um processo, ninguém desenvolve um programa de formação sozinho. E a verdade é que o Fluminense já tem um DNA. A minha função foi estudar o clube, entender o que é esse DNA Tricolor, que já existia, e colocá-lo no papel para que todos os profissionais de Xerém entendam o que a gente tem que desenvolver em cada jogador. A primeira parte de uma metodologia é responder a seguinte pergunta: “o que desenvolver?” Cada clube tem seu DNA. E não só em Xerém, mas também em Laranjeiras. E hoje esse DNA está no papel, o que facilita muito para nós o processarmos no dia a dia e dentro de campo em Xerém.”
https://youtu.be/6_HlfU3bi4Q
Sobre a importância da qualificação dos profissionais do futebol de base
“Quando retornei ao Brasil, tive a oportunidade de trabalhar na CBF. Trabalhei dois anos na Seleção Feminina como preparador físico e auxiliar técnico. Depois fui convidado para ser instrutor dos cursos da CBF lá no início de 2010. Então vivenciei toda essa evolução que hoje a chamada CBF Academy tem. Fiz a Licença A e a Licença Pro e vejo que o profissional da base é quem está fomentando esse curso da CBF. O treinador de base hoje tem um perfil muito interessante, de um profissional que quer sempre se atualizar. São pessoas que estão procurando evoluir a cada dia. Por isso acho que a valorização profissional e financeira estão caminhando. Entendo as dificuldades, mas o movimento de qualificação feito por esses treinadores e integrantes de comissões técnicas lá na frente terá também o retorno financeiro também. Até porque cada vez mais os jogadores da base são valorizados, então uma hora vai ter que ser refletido em quem está formando esses jogadores.”
Primeiro ano do comando do sub-20 e calendário atípico
“Foi um ano de muito aprendizado. Passei dois anos no sub-17, onde eu tinha os melhores jogadores da geração que o clube tinha sob contrato. No sub-20, você tem um fenômeno que acontece não só no Fluminense, mas também em outros clubes, no qual muitas vezes os melhores jogadores da categoria já não estão mais nela. Ou foram negociados, ou estão fazendo parte do time principal. E como treinador do sub-20 eu preciso entender também que jogadores de destaque do sub-17 muitas vezes vão pular etapas. Por isso, preciso desenvolver os jogadores individualmente. Até porque muitas vezes no sub-20 a gente vai conseguir desenvolver atletas que nunca foram protagonistas e que esses nomes possam ascender ao time profissional.”
Formação e contratação de jogadores para a base
“O processo que a gente fomenta dentro do clube é vertical. Quanto mais jogadores estiverem com a gente durante um período longo de tempo e fizerem parte desse processo de desenvolvimento, maior a chance de sucesso. Por exemplo, Matheus Martins Martins, Metinho e Kayky estão com a gente desde o início do processo, então a gente consegue ter a certeza de que eles estão participando de um processo onde os conteúdos estão sendo passados a eles em uma progressão pedagógica e a chance deles terem sucesso ao final deste processo aumenta drasticamente.”
“Só que também existem jogadores que se destacam em outras equipes já na fase de especialização e profissionalização (16 até os 20 anos), onde a gente precisa estar antenado para que possamos, algumas vezes, suprir alguma lacuna, ou até mesmo porque o jogador está realmente se destacando, e quanto mais jogadores de destaque nas nossas categorias de formação, melhor.”
“Para a avaliação principalmente desses jogadores, nós temos um nivelamento entre os jogos que vai do nível 1 ao 5. A gente precisa observar o desempenho desse jogador em um jogo nível 1, nível 2, etc. para a gente entender se esse atleta está apto a jogar um de nível 5 como, por exemplo, um Fla-Flu valendo título. São situações que talvez o jogador nunca tenha vivenciado, porque às vezes ele vem de um clube menor e precisa se acostumar a representar o Fluminense para que a gente possa errar menos. Por isso temos um acompanhamento de tudo, tanto de treino quanto de jogo, e assim a gente consegue enxergar a curva de evolução desse jogador (se ele está evoluindo, estagnado ou decrescendo). Isso é importante porque não adianta ter um elenco inchado e não conseguir oportunizar todos em algum momento. É um processe estratégico dentro do clube, porque esses jogadores são um ativo do clube. Agora, temos que entender que alguns jogadores vão ter mais dificuldades para performar e, por isso, é preciso ter tranquilidade para avaliar isso. Se não a gente rotula e não dá oportunidade para um jogador que tem muito potencial e só não está atravessando um bom momento. É preciso dar o estímulo certo para o jogador correto no momento”
Objetivo para o futuro profissional
“Eu faço parte de um projeto de desenvolvimento de pessoas, é isso que a gente está fazendo em Xerém. Eu estou aprendendo demais. Estou feliz como treinador do sub-20, venho evoluindo a cada dia com isso e o clube vem me promovendo novos desafios. Então, não sei quando, e também não tenho pressa, mas quero continuar minha evolução. Se um dia eu vou chegar a ser treinador profissional do Fluminense eu não sei, mas se me oportunizarem eu preciso estar preparado.”
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Veja a entrevista completa com Eduardo Oliveira no canal do Saudações Tricolores no Youtube:
