A necessidade de se opinar sobre tudo, mesmo sem ter a certeza de nada (Washington de Assis)

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Não sou nenhum especialista em internet, redes sociais – nas suas mais diferidas formas – e muito menos estudioso em comportamento humano, seja ele em que contexto for, seja em que idade ou fase da vida for, seja qualquer outra linha de corte. Mas, como um ser que observa muito e tem opinião, percebi que existe hoje a necessidade de alguns em opinar sobre tudo. Salta-me aos olhos a necessidade de muitos falarem sobre assuntos diversos dos quais os mesmos não têm o mínimo, quanto mais absoluto, conhecimento para formar opinião a respeito – nem condições de formar opinião própria com o parco conhecimento, muito menos em formar opinião de outrem? Vivemos num momento onde um ser se sente em condições de falar sobre um oceano de assuntos, mas com 1mm de profundidade em cada um.

Lembro que meu pai me dizia que eu poderia ser tudo aquilo que eu quisesse, mas com algumas pontuações: eu preciso escolher algo e estudar, me preparar, me dedicar muito se quisesse realmente ser “alguém”; e segundo, mas não menos importante: eu posso escolher, dentre todas as opções, o que eu quero ser, mas não posso ser todas ao mesmo tempo pois não seria reconhecidamente nada em nenhuma delas.

Mas vivemos num mundo, e me perdoem não lembrar onde vi escrito isso, onde a visão, opinião e argumentos de um professor de Harvard, com anos de experiências e estudos, é igualado a visões de um ‘alguém’ cuja a experiência e expertise no assunto em baila nunca foi aferida, comprovada ou, o que é pior: sequer questionada. Os motivos? As pessoas não buscam mais informações, e sim pessoas que compartilham da mesma ideia. E aí, meus amigos, nasce a famosa bolha da internet. E mais precisamente do Twitter. Não se tem mais debates e troca de ideias. Existe um ‘tipo’ dominante – que não necessariamente é maioria, e na maioria dos casos não a são – que acende as tochas quando alguém ousar trazer à tona qualquer pensamento que diverge da própria opinião da turba.
Nesse sentido, a Aero Magazine fez um exercício muito interessante para buscar explicar esse fenômeno e usou a matemática para comprovar que pequenos grupos, com interesses muito específicos de uma bolha, acabam por dominar o debate acerca de determinados assuntos e ditam as regras naquele ambiente. A matéria abordou o princípio de Pareto. Lembra dele? No início do século passado, em 1906, o matemático Vilfredo Pareto notou que a proporção 80/20 era vista em diversos universos diferentes e acontecia de forma natural.

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O Twitter, voltando ao cerne da questão, parece ser uma regra para muitos, um verdadeiro termômetro. Mas, e na realidade – segundo alguns levantamentos – é composto por minorias, no sentido de que concentra uma fração pequena de determinado grupo de pessoas, com algo em comum. E mais, os assuntos que viralizam são aqueles que defendem um posicionamento frente a um outro e suposto posicionamento – seja esse fictício ou não – daqueles que se opõe ao posicionamento defendido. Entendem? “Se você não concordar comigo e postar algo que minha ‘galera’ discorda, você está perdido pois não vamos te perdoar e você será alvo de nossa fúria”.

O problema maior, segundo ainda o levantamento da Aero Magazine, uma pequena minoria com conta no twitter confere seu perfil diariamente. A grande maioria sequer tem conta no twitter e os que têm, não acessam frequentemente. Ainda assim, as discussões mais acaloradas na rede mundial ganham a imprensa e viram tema na hora – dentro e fora do mundo do futebol. E o pior: muitos ‘jornalistas’ não conseguem discernir o que é uma “indignação genuína” de um “ataque em enxame”. E olha que isso tanto pode ser a coisa mais banal do mundo, como um grupo de adolescentes que se juntam para um ataque, ou até mesmo de respostas robóticas (as quais não imagino como acontecem). E é fácil de notar. Basta observarmos, pois essa ação acontece de forma orquestrada pelos mesmos e da mesma forma. E a disseminação da polêmica – seja ela informação ou desinformação – é a mesma. Ou seja, um acende a tocha, os outros, cegos pela luz, o seguem.
E esse tipo de evento ganhou tanta proporção que o “New York Times”, um dos mais prestigiados jornais do mundo, lançou um memorando pedindo para que seus jornalistas se desintoxicassem, isso mesmo, se desintoxicassem do twitter. E foi através de um memorando que o editor-executivo do jornal, Dean Baquet, externou sua preocupação: “Podemos estar focados excessivamente em como o Twitter reagirá ao nosso trabalho, em detrimento da nossa missão e independência. Podemos dar respostas improvisadas que prejudicam nossa reputação jornalística”.

Enfim.
Estamos nos aproximando de um ano eleitoral duplo. Para a presidência da república e para a presidência do nosso clube. Ataques à honra aqui, calúnias e difamação por lá são esperadas de todos os lados. O que esperamos? É que a galera procure saber do que está falando, indo atrás das fontes daquilo que é dito. E respeite o amigo, colega, ou simplesmente outro tricolor que pense diferente.

Grande abraço a todos,
Washington de Assis


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