Gigante como sempre
Eu acredito em um futebol.
Um que extrapola contratos milionários, multas rescisórias e negociações.
O século XX foi repleto de mudanças pelo Brasil e, conforme se acostumava com a casa nova, o jogo inglês, se abrasileirando, as acompanhava. Deixou de ser o jogo dos rapazes de “boa família” e se espalhou literalmente por qualquer canto em que desse para rolar a bola de meia e improvisar as balizas com o que tivesse mais próximo. Tornou-se o jogo do brasileiro. Do branco e do rico, mas também do negro e do pobre. Nada de football, era futebol.
Você conhece nosso canal no Youtube? Clique e se inscreva! Siga também no Instagram
Hoje, é o esporte mais popular do país, além de ser o mais democrático. Querendo ou não, todo brasileiro, em alguma medida, acompanha o futebol. Não tem classe social, raça, sexo ou religião (pelo menos não deveria ter!), é de todo mundo.
Isso faz com que o alcance dos clubes seja imenso, diariamente se comunicando com os diversos segmentos da nossa sociedade. Torcedores ou não. Eles sabem o que o clube faz, se ganhou ou perdeu, as decisões que toma e as posturas que adota.
E por que digo isso?
Porque entendo que, diante disso, os clubes deveriam se atentar muito mais à responsabilidade que carregam como agente cultural.
O futebol foi instrumento na luta conta a discriminação racial, contra o nazismo que tomava conta da Europa e contra a ditadura militar brasileira, pra dizer o mínimo. O estádio, muito mais do que o palco da festa, era palco de manifestações políticas, como ocorreu em jogo contra o Vasco, este, diga-se, em plena final do Campeonato Brasileiro de 1984. Eram 130 mil tricolores e vascaínos, rivais, fazendo ecoar no Estádio Mario Filho o grito pela democracia.
Esse papel que o futebol desempenhou e vem desempenhando (menos do que deveria), trata da sua contribuição para sociedade enquanto elemento cultural que representa o Brasil mundo afora. Como ele atua? O que ele faz como agente de enorme potencial de transformação?
Atravessamos uma pandemia fora de controle, uma crise generalizada agravada pela carência de uma liderança que nos conduza nesses tempos. Estamos lidando com centenas de mortes por dia e assistindo ao colapso do sistema de saúde. Profissionais arriscando a sua saúde e a segurança de sua família para salvar a nossa.
Ainda assim, há quem defenda o retorno das atividades.
Não há clima para tratar disso. Tamanha falta de empatia, de respeito, de solidariedade. Quanto vale uma vida? A vida do seu jogador? Do funcionário? E da família deles?
Já adianto que não entrarei no mérito do desespero financeiro que assola o futebol brasileiro, meu ponto aqui é outro – e porque esse já vem de muito antes, a pandemia não inventou as dívidas e os salários atrasados. Me limito, aqui, a dizer que é tempo de buscar alternativas.
O futebol que eu acredito, agora, não estaria preocupado em fazer dinheiro, mas em ajudar sua enorme torcida que já não mais se distingue pela cor da camisa.
E é por isso que me orgulho tanto do Fluminense. E cada dia mais.
Somos exemplo, somos vanguarda.
O Fluminense entendeu a situação e, principalmente, o seu papel diante dela.
Do presidente que entendeu o cenário que se desenhava e paralisou as atividades do clube imediatamente, se organizando para evitar demissões, passando pelos dirigentes que renunciaram parte de seu salário para ajudar funcionários que recebem menos e pelo elenco que aceitou as reduções salariais. Da realização da Corrente Tricolor aos ex-jogadores que, mesmo do outro lado do mundo, enviaram cestas básicas aos funcionários do Flu e para suas comunidades.
Sem mencionar o ato quase heroico, compartilhado com o Botafogo, de não assinar o absurdo promovido pela FERJ e os demais.
Nossa postura é impecável. O Fluminense está, mais uma vez, escrevendo seu nome na história ao mostrar que o futebol não se expressa só por meio de cifras ou títulos. Que esse esporte, que já foi ferramenta, hoje deve ser agente de transformação.
Eu acredito na função social do futebol. Acredito muito.
Somos infinitamente maiores do que a grandeza que se materializa na nossa sala de troféus.
É orgulho que não cabe!
ST