Um breve resumo da histórica relação entre Fluminense e o pó-de-arroz

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Há 70 mil anos a humanidade atravessava o que o história chama de Revolução Cognitiva. A partir daquele momento, o ser humano desenvolvia uma de suas características fundamentais e que o tornam diferente de qualquer outra espécie: sua capacidade em utilizar de linguagem ficcional para contar histórias. No entanto, tal ferramenta permite também que fatos sejam, muitas vezes, distorcidos a cada vez que uma história é contada. É o caso do Fluminense e do pó-de-arroz.

É provável que pessoas que já estiveram no Maracanã em uma partida envolvendo o Fluminense, seja na parte tricolor ou do lado oposto da arquibancada, já tenham visto a torcida arremessar um pó branco assim que o time entra em campo para disputar uma partida. Mas afinal, o que é e por que é arremessado? Para quem arremessa é um ato simbólico. Já para aqueles do outro lado, é algo a ser criticado. Mas com base em quê exatamente?

Torcida do Fluminense arremessando “pó-de-arroz” na entrada do time em campo no Maracanã (Foto: Reprodução)

O ano era 1914. O contexto, o futebol carioca.

Em meio aos tradicionais clubes de futebol da cidade do Rio de Janeiro havia o América, que naquele ano atravessava um momento de crise e via a saída de vários membros do clube rumo aos rivais cariocas. Um deles foi Carlos Alberto Fonseca Neto. Ou simplesmente, Carlos Alberto. Seria apenas mais um jogador a usar a camisa tricolor, não fosse um hábito individual, a princípio “bobo”, mas que se tornaria um marco na história do clube.

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Quando ainda era jogador do América, Carlos Alberto tinha o costume de usar um pó branco no rosto após fazer a barba. Algo que até então nunca havia chamado atenção. Até que no dia 13 de maio de 1914, Fluminense e América se enfrentariam e Carlos Alberto jogaria, pela primeira vez, contra seu ex-clube.

Ao entrar no campo da Laranjeiras com a camisa do Fluminense ao invés da alvirrubra, a torcida do América fez o que qualquer outra torcida teria feito naquele momento. Buscou algum artifício que pudesse usar para provocar Carlos Alberto, o “traidor”. Os torcedores americanos passaram então a entoar que o Fluminense era o time do “pó-de-arroz”, fazendo alusão ao produto que Carlos Alberto fazia uso. Grito que passou a ser utilizado também por outras torcidas adversárias, como as do Flamengo e Botafogo. O Tricolor, por sua vez, absorveu a hostilidade e a transformou em tradição própria.

 

Carlos Alberto com a camisa do Fluminense (Foto: Reprodução)

De fato, Carlos Alberto era um dos poucos negros em meio a um esporte dominado pela elite branca carioca. Mas ele não foi o primeiro, nem seria o último. Tanto no futebol carioca, quanto no Fluminense. Porém, sua história foi contada de formas tão variadas por quem a escutava que fez com que a narrativa tomasse um rumo no qual a verdade fosse deixada em segundo plano.

Principalmente por ter sido reproduzida tantas vezes ao longo dos anos – em grande maioria pelas torcidas rivais –  a história que boa parte das pessoas acredita ser verdade nos dias atuais é a de que o Fluminense obrigava o jogador a passar o produto para que sua pele negra “embranquecesse” e não causasse desconforto em meio a aristocracia carioca da época. Algo que não é verdade de fato, mas se tornou porque assim determinou quem conta a história.

 


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