Um ano Tricolor: enfim, voltamos!
De fato, ninguém poria a mão no fogo pelo Tricolor e eu acrescento: – nem os próprios tricolores.
Começo a coluna de hoje citando ninguém menos que o nosso profeta Nelson Rodrigues que, com suas palavras atemporais, descrevia a torcida tricolor com uma precisão cirúrgica e uma maestria digna de um camisa 10.
A temporada do Fluminense começou assim: com a torcida muito desconfiada, a imprensa nos colocando no mais baixo escalão do futebol nacional, um elenco razoável e uma gestão que prometia nos levar de volta à elite futebolística. No Carioca, uma boa campanha que culminou em um vice-campeonato com sabor muito menos amargo do que o que ficou para os nossos rivais. Na Copa do Brasil e na Sul-americana, eliminações vergonhosas que minaram qualquer pretensão e otimismo tricolor. Incessantes críticas ao técnico, ao time, ao presidente e, se tivesse mais gente para criticar, criticaríamos. Uma torcida possessa, enfurecida e sobretudo frustrada que, durante um lockdown, nada pôde fazer se não esbravejar nas redes sociais.
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Iniciamos 2020 como um verdadeiro timinho, fazendo jus ao diminutivo – aliás a todos os diminutivos, se houvesse como diminuir ainda mais, também seríamos merecedores. O desengrandecimento momentâneo do Fluminense se deu, como falei, pelas eliminações por equipes piores e de menor expressão – os verdadeiros timinhos. E para castigar ainda mais o torcedor, lidamos com a perda de importantes peças para o time; Gilberto, Evanílson e Dodi (aquele que era volante antes do Martinelli).
No Brasileirão, um início de tabela complicado tratou de confirmar, por ora, as expectativas tricolores: mais um ano brigando para não cair. O que ninguém esperava era que, após essas rodadas, após a tempestade, o sol se abriria e apontaria ao Fluminense o caminho para o fim do arco íris que se pintava de verde, branco e grená. Rodada por rodada, somando ponto a ponto, o Tricolor subia na tabela como o pó de arroz que é lançado aos ventos pelo torcedor eufórico.
O Flu vencia, mas não convencia. A estética de suas vitórias não agradava e por isso tivemos também que lidar com a desconfiança da imprensa, que nos taxava de intrusos, penetras. Um timinho com sorte. A torcida, que até então fazia o mesmo, não admitiu as palavras e indignou-se, defendendo com unhas e dentes aquele time que antes não era digno de qualquer esforço.
– Só nós podemos falar mal do nosso time, vocês não.
Mas a já decidida imprensa seguia com a narrativa, a cada rodada acrescentando uma ressalva até que o discurso mudasse por completo e reconhecesse o bom trabalho realizado em Laranjeiras. Não que precisássemos disso, afinal nunca contamos com esse tipo de amparo midiático, mas que é bom vê-los queimando a língua, com certeza é.
Nessa temporada completamente atípica, com uma pandemia assolando o mundo, inundando o dia a dia de notícias ruins, a Felicidade chamava-se Fluminense. Trouxemos nosso ídolo de volta: ao som emocionante de Nando Reis, diante dos pedais de Fred, Laranjeiras sorria novamente com a camisa tricolor tremulando ao vento enquanto nosso camisa 9 chegava em Álvaro Chaves.
Também nesse ano, atestamos mais uma vez a força de Xerém. Aqueles que pareciam desfalques irreparáveis no início de 2020, logo foram esquecidos. Martinelli, Callegari, Luiz Henrique, Marcos Felipe e companhia tornaram-se absolutos na posição e imprescindíveis ao bom futebol.
Hoje, jogaremos a última partida do Brasileirão, jogo decisivo que pode coroar essa temporada surpreendente com uma vaga direta na Libertadores 2021. Era dia em que todos os caminhos levariam a um Maracanã lotado, com mosaico, bandeiras, pó de arroz e tudo o que tivéssemos direito para a festa mais linda da melhor e mais bonita torcida do país.
Independente disso, encerramos 2020 não como o timinho em seu sentido literal, mas como o timinho de 1951 ou de 1959, fazendo jus a esse apelido cujo tempo tratou de adequar ao tamanho de nossa história e de nossas conquistas.
Eu diria que este ano foi Tricolor; Tricolor como há muito tempo não víamos. De agora em diante, que todos os anos sejam assim: cada vez mais Tricolores.