Primeiro jogo de Roger; “campo de observação” e entrosamento – o que vi do Fla x Flu
Mesmo com a estreia com vitória, que também marcou a primeira da temporada tricolor, Roger Machado não saiu satisfeito do que viu em campo. Também não era para menos. Seu time, formado por jogadores “mais cascudos”, reforçado com reservas do elenco profissional, encontrou muitas dificuldades diante de um Flamengo mais organizado e objetivo – apesar de ainda ser uma equipe de “aspirantes”, o time do lado de lá atua juntos desde a base, o que gera um entrosamento interessante. E isso, sem dúvidas, foi o fiel da balança.
O Flu corria atrás da molecada do Flamengo, que era melhor no jogo. A marcação tricolor, sobre tudo do lado esquerdo da defesa, sofria com as investidas rubro-negras e, logo no início do jogo, o Flu só não sofreu um gol pois o atacante deles cabeceou, sozinho, para fora. A zaga, formada por Ferraz e Frazan, tinha muitas dificuldades pois as jogadas rápidas do time adversário explodiam na cara deles. André e Yuri formaram uma dupla de volantes que, teoricamente ofereceria mais proteção, mas que na prática deixou o time mais lento e que não era capaz de segurar o ímpeto do ataque adversário. Sem falar na saída de jogo, desastrosa, pois nenhum deles tem esse cacoete.
Outro ponto a ser destacado, foi o posicionamento do Ganso. Falso 9? Falso 10? O que Roger pretendia ao escalar o Ganso ali não ficou claro. Primeiro porque a bola não chegava em condições dele buscar alguma jogada. Segundo que, sem explosão, sem aquele sprint final, dificilmente um segundo atacante se “cria” hoje em dia em cima das defesas adversárias. E com ele longe da segunda linha de marcação, o Flamengo encontrava os espaços exatamente nas costas dele, chegando com velocidade em cima dos volantes.
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Além disso, Caio Paulista e Michel Araújo entraram no time para fazer uma função parecida com Lucca e Luiz Henrique. Quando o Flu não tem a bola, eles deveriam fechar os espaços, na segunda linha. E quando recuperar, puxar os contra-ataques. Mas não funcionou. O meio não conseguiu ficar compacto, os setores estavam muito distantes e o que se via era passes do Flamengo e a galera tricolor correndo atrás. Não conseguiu encaixar a marcação e nem tampouco os contra-ataques que, quando saiam, eram sem organização.
AS ALTERAÇÕES:
Roger percebeu que seu time não estava produzindo em campo e ainda sofria com as chegadas do adversário. No intervalo, o treinador optou pela entrada de Gabriel Teixeira e proveu a estreia de Wellington, que entrou no lugar de André. Com a saída de Pacheco, Ganso voltou a ocupar o meio, ao lado de Michel Araújo, enquanto Gabriel abria o jogo pela canhota. Com isso, Caio Paulista veio para a direita. O Flu conseguiu melhorar, mas ainda estava aquém daquilo que o treinador, e a torcida, queriam.
A entrada de Kayky no lugar de Caio Paulista, foi interessante. Se trouxe mais qualidade e ousadia na ponta direita, trouxe mais preocupações defensivas pois, apesar de ter muita dificuldade na marcação, Caio conseguia um balanço defensivo melhor do que a joia tricolor. Razão pela qual Roger, ao meu sentir, promoveu a alteração seguinte.
A entrada de Daniel, no lugar de Michel Araújo, espantou muitos tricolores, que viram Julião assumir uma posição no meio de campo. O Flu passou a ter uma trica de volantes no meio, com Ganso tentando orquestrar as jogadas para os moleques que acabaram de entrar. Mas por pouco tempo. O camisa 10 deu lugar a John Kennedy e o Flu conseguiu levar mais perigo ao gol adversário. Kayky e Gabriel Teixeira muito à vontade em campo, buscando espaços, procurando as jogadas. O Flu cresceu e encontrou, aos trancos e barrancos, um equilíbrio melhor no meio e igualou o jogo.
E o destaque final, quem diria, vai para o “meia” Igor Julião que, após 15 minutos atuando por ali, meteu um tirambaço, sem dó nem piedade, no ângulo, anotando o gol tricolor. Coisas de futebol.
LABORATÓRIO:
Roger, em entrevista, ressaltou que o entrosamento do time foi o que mais pesou na sua estreia, mas admitiu que o Flu não jogou bem. Ressaltando que a conquista do Carioca faz parte do objetivo tricolor, o treinador ainda destacou que a formação ideal do Flu poderá ser encontrada ali, no que ele chamou de “campo de observação”:
– Preciso conhecer os atletas dentro do campo nas principais virtudes e características. Optei como estratégia desse jogo buscar uma equipe equilibrada, mas que pudesse ter velocidade nos contra-ataques. O fato de não ter conseguido encaixar o timing da marcação, sobretudo no primeiro tempo, com as amplitudes do Flamengo, que é uma equipe muito bem treinada pelo Maurício, fizeram com que a gente, quando retomasse a bola, não conseguisse conectar os jogadores de mais velocidade à frente, com a figura do Ganso fazendo essa conexão com os atacantes. Sofremos com o volume de jogo do Flamengo, porém, dentro da área conseguimos defender bem a nossa meta.
– Não vejo o Carioca como laboratório, vejo como um campeonato muito importante que queremos também vencê-lo e como importante estágio para as competições que a gente tem no ano. E a mais imediata delas é a Libertadores. Então não é um laboratório para mim, mas sim um campo de observação. Todas as observações feitas no dia do jogo e nos treinamentos vão me ajudar a tomar algumas definições em relação à elenco.
CONCLUSÃO
Dificilmente qualquer conclusão que se pretenda fazer hoje, com apenas um jogo e sem poder contar com a força máxima do elenco, será correta. O que vi de bom no jogo, além, evidentemente, da vitória, foi um treinador inquieto no banco de reservas, que a toda hora trocava informações com seu auxiliar técnico, Roberto Ribas, para melhorar o que se via em campo.
As mexidas do treinador, gostando ou não, tiveram alguma coerência no meu modo de ver – e independente de concordar ou não, foi dessa forma que as compreendi:
Não gostou do que viu no primeiro tempo? Não esperou o segundo, voltou do intervalo com Gabriel Teixeira e Wellington, nos lugares de Fernando Pacheco e André. Buscou ai um equilíbrio maior no meio, com um atacante aberto pelas pontas para tentar algo diferente no ataque.
Na sequência, colocou Kayky no lugar de Caio Paulista – que saiu de maca. Ganhou em qualidade na frente, perdeu no poder de combate atrás. Buscou reequilibrar as ações, com a ida de Julião para o meio e a entrada de Daniel na lateral. John Kennedy entra no lugar de Ganso para buscar pressionar a linha alta do ataque.
Gabriel sofreu duas faltas perigosas, infernizou a vida dos marcadores rivais. Kayky se sentiu entre os sub-17 mesmo, com autoridade conduzia a bola, levantava a cabeça e buscava a melhor opção. John Kennedy, muito marcado pela zaga, conseguiu se movimentar e abrir espaços. A prova maior de que esses moleques tem que jogar.
No final, o Flu conseguiu injetar um ânimo novo na equipe e foi premiado com um gol. Alias, golaço do meia-lateral.
SEQUÊNCIA
O Flu se reapresenta amanhã, quando iniciam os preparativos para a próxima partida, contra o Bangu, no sábado – ainda em local a ser definido. Os atletas titulares retornam somente na próxima quarta (17). Com isso, o Flu deve enfrentar o Bangu novamente com o time misto.
ST