O Fluminense não é brincadeira!
Falamos ontem aqui sobre a rivalidade e sobre a discrepância, injustificável, do tratamento que a imprensa dá aos clubes brasileiros. Essa coluna de hoje tende a finalizar a argumentação, falando um pouco mais sobre as receitas recorrentes, pontuais e de estratégias de Marketing que os clubes utilizam no seu dia a dia, enfocando, evidentemente, no nosso Fluminense. Para tanto, vamos pegar dados apurados pela revista Exame, numa matéria publicada em maio desse ano, por Vanessa Barbosa, intitulada: “Ranking revela quem são os gigantes da bola quando o assunto é dinheiro”. (clique aqui)
Sabidamente, aqui no no nosso futebol, as receitas dos principais clubes vêm principalmente de direitos de transmissão de jogos na televisão. Esse tipo de receita representa de 30 a 60% das receitas dos grandes clubes e, direta ou indiretamente, influenciam na geração das demais receitas, sobretudo no “girar da roda”. Isso porque, as demais fontes de rendas vêm da venda de ingressos para competições, patrocínios, premiações por títulos e por classificação em cada fase das competições – que ainda podem garantir participação em competições internacionais mais lucrativas – uso do espaço social das sedes para a prática de esporte amador, ações de marketing e, cada vez mais, da venda de atletas ou até mesmo da compra de “estrelas” que atraem investimentos vultosos em marketing.
Pois bem. O ponto de partida é esse: com mais dinheiro em caixa o clube tem condições de investir melhor no seu elenco, com nomes de peso. Isso aumenta as chances de classificação nas fases das competições, chances de títulos, atrai mais o seu torcedor para ser “sócio-futebol” (ou qualquer nome que se dê para esse tipo de programa), que por sua vez gera mais ações de marketing, que arrecada mais. Com isso, o clube não precisa se desfazer de alguma “joia” de sua base mais cedo, podendo alcançar números melhores mais na frente. Ou seja, a roda começa a girar com o investimento inicial. E ainda, com a contratação de nomes fortes do futebol, se atrai mais mídia e, com isso, patrocinadores interessados. Quer um exemplo? O que seria mais lógico: um patrocinador preferir estampar seu nome numa camisa que Deco veste ou numa camisa que Romarinho veste? Fácil de compreender.
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Portanto, mas nem tão simples assim, quanto mais se investe coerentemente no futebol, maior serão as receitas advindas do mesmo. Mas como começar a investir? Como um clube consegue atrair maiores investidores, sócios e etc? Partindo de um investimento inicial. A partir daí, o restante vem como consequência. Seja ela prevista ou não.
As gestões dos clubes no Brasil sempre foram parecidas no quesito precariedade, amadorismo e temeridade. Pouquíssimos dirigentes se preocuparam com o futuro do clube e acumularam dívidas absurdas. Se fossemos um país mais rigoroso nenhum clube hoje existiria. Teriam sido liquidados para adimplir com tais dívidas. E todos partiram desse mesmo desespero, uns em situação horrorosa e outros em situação caótica. Veja as dívidas acumuladas pelos clubes:
Botafogo – R$ 657.041.000,00
Atlético-MG – R$ 583.509.000,00
Athletico-PR – R$ 444.161.000,00
Vasco – R$ 440.248.000,00
Palmeiras – R$ 437.394.000,00
Cruzeiro – R$ 427.836.000,00
Flamengo – R$ 397.858.000,00
Fluminense – R$ 389.670.000,00
Corinthians – R$ 352.304.000,00
São Paulo – R$ 332.447.000,00
Santos – R$ 294.728.000,00
Internacional – R$ 280.214.000,00
Grêmio – R$ 228.510.000,00
Bahia – R$ 134.050.000,00
Fonte: UOL, em maio de 2019
Bom, percebe-se que os clubes brasileiros não são exemplo de gestão para nenhuma barraquinha de quitanda, ou empresa de esquina, quanto mais para alguma grande corporação. Mas o que difere um clube do outro, quando se conseguem investir da forma que está sendo feita? Outra resposta simples: tirando o Palmeiras, que tem uma patrocinadora-torcedora, os demais clubes precisam, dependem, ou pior são adictos das cotas de TV. Sobretudo para começar a girar essa roda de investimentos. De novo vamos recorrer a tabelinhas das cotas de TV:
Flamengo R$ 170 milhões / por 27,7 pontos de audiência = R$ 6.137.184,12 – por ponto
Vasco – R$ 100 milhões / por 21,9 pontos de audiência = R$ 4.566.210, 05 – por ponto
Fluminense – R$ 60 milhões / 20 pontos de audiência = R$ 3.000.000,00 – por ponto
Botafogo – R$ 60 milhões / 18,7 pontos de audiência = R$ 3.208.556,15 – por ponto
média de audiência no Brasileirão 2018 – fonte: Globo
Para esclarecer ainda mais o ponto de vista:
2012-2015
G1 – R$ 110 milhões/ano (Flamengo e Corinthians)
G1 – R$ 80 milhões/ano (São Paulo)
G3 – R$ 70 milhões/ano (Palmeiras e Vasco)
G4 – R$ 60 milhões/ano (Santos)
G5 – R$ 45 milhões/ano (Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Inter, Flu e Botafogo)
G7 – R$ 27 milhões/ano (Sport, Bahia, Vitória, Atlético-PR, Coritiba e Goiás)
G8 – R$ 18 milhões/ano (demais clubes)
Série B – R$ 3 milhões (demais clubes)
Séries C e D – sem cota (demais clubes)
Maior diferença entre cotas da elite (G1 x G8): R$ 92 milhões (6,1 x mais)
2016-2018
G1 – R$ 170 milhões/ano (Flamengo e Corinthians)
G1 – R$ 110 milhões/ano (São Paulo)
G3 – R$ 100 milhões/ano (Palmeiras e Vasco)
G4 – R$ 80 milhões/ano (Santos)
G5 – R$ 60 milhões/ano (Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Inter, Flu e Botafogo)
G7 – R$ 35 milhões/ano (Sport, Bahia, Vitória, Atlético-PR, Coritiba e Goiás)
G8 – R$ 23 milhões/ano (demais clubes)
Série B – R$ 5 milhões (demais clubes)
Séries C e D – sem cota (demais clubes)
Vejam que coincidência. A partir de 2016, quando o queridinho começou a ganhar R$ 170 milhões, a receita deles explode. Por que será? Girou a roda… com maiores investimentos – desde 2012 recebendo muito mais do que os rivais – o queridinho consegue investir melhor, administrar melhor a sua dívida, atrair mais mídia, mais patrocinadores, mais sócios e por aí afora. Não mencionar isso, ao se tecer qualquer comentário, é covardia com o público em geral. Os caras receberam cerca de R$ 500 milhões a mais em cotas de TV do que o Fluminense, de 2012 para cá. Vejam a desproporção na primeira tabela. Recebem mais do que o dobro por ponto de audiência. Mas por que isso? Inexplicável. Mas o aumento das receitas, a partir daí, fica claro.
O Flamengo só perde pro Palmeiras, na geração de receita. Mas em patrocínios e transferência de jogadores, pois em cotas de TV, eles ainda lideram com quase R$ 100 milhões a mais. Absurdo, não? Pois é (números da Exame)
2. Flamengo
Receita em 2018: R$ 542,8 milhões
Variação 2017-2018: -16%
Direitos de TV: R$ 222 milhões
Patrocínios: R$ 90 milhões
Transferências de jogadores: R$ 64
Clube Social: R$ 52 milhões
Sócio-Torcedor: R$ 48 milhões
Bilheteria: R$ 45 milhões
Outras: R$ 22 milhões
Quando falamos de Fluminense, o quadro é o seguinte:
7. Fluminense
Receita em 2018: R$ 297,4 milhões
Variação 2017-2018: 30%
Transferências de Jogadores: R$ 119 milhões
Direitos de TV: R$ 113 milhões
Social e Amador: R$ 18 milhões
Patrocínio e Publicidade: R$ 13 milhões
Bilheteria: R$ 11 milhões
Sócio Torcedor: R$ 5 milhões milhões
Outras: R$ 18 milhões
Ora, basta um olhar cru, sem experiência, para identificar que a diferença é absurda. Não só nas cotas de TV, em que recebemos pouco mais da metade deles. Mas em patrocínios (90mi x 13mi); em bilheteria (45mi x 11mi); sócio-torcedor (48mi x 5mi) clube social e esporte amador (52mi x 18mi). E aqui se mostra a conclusão de mais esse raciocínio. Quais são os motivos deles terem essa receita muito maior do que nós? A torcida ser muito maior? Não, meus caros. O impulso inicial, advindo da detentora dos direitos.
Com um time melhor, como já dissemos, se atrai mais investidores, patrocinadores, sócio-torcedores…. O abismo criado pela emissora ainda é reversível, mas estamos no limite de sua reversão. Se nada for feito agora, teremos finalmente a espanholização do futebol brasileiro, com dois times sempre nas disputas e outros tantos penando pelos terceiros lugares, por uma classificação para um torneio secundário e afins. Passaremos a ver clubes com o peso da história nos ombros, como é o nosso caso, como vemos Real Club Deportivo de La Coruña entre outros.
O ponto é: todos partimos hoje de uma mesma linha de largada atolada em dívidas. A diferença é que uns ganharam um empuxo adicional, e injusto, em detrimento de outros. Não queremos ser beneficiados, e nem tratados de forma diferentes. O que queremos é o mesmo tratamento, é que seja mais justo o nosso futebol. Nada além disso.
E isso para nós, tricolores, assim como para todos os demais clubes brasileiros que vivem e convivem com esse absurdo imposto goela abaixo.
Ou os clubes se organizam já para acabar com essa palhaçada, ou o que vai acabar é o futebol da forma que conhecemos.
ST
Washington de Assis