O ambicioso projeto do Flu
Paulo Angioni enxerga o futebol com outros olhos. E ele pensa de uma forma, que se bem compreendida, não há quem possa duvidar dessa visão. Ou pelo menos é muito difícil achar alguém que o faça. O diretor tricolor tem uma percepção de que os jovens talentos no Brasil são precocemente maturados e jogados ao profissional sem ainda estarem prontos e, com isso, com maiores chances de serem descartados:
– Duas coisas me incomodam muito no futebol. Uma delas é que o futebol brasileiro passou a ter escassez de jogadores em função de um processo muito precoce para tratar a base na transição para o profissional. Ou seja, esta se maturando jogador com 18, 19 anos o que é um crime no meu entendimento. Eu entendo que o futebol brasileiro deva maturar jogador até 24, 25 anos porque é um país que tem abundância de jogador. Só que estão encurtando isso. Já encurtaram a vida útil do jogador, lá atrás, quando o jogador encerrava a carreira com 30 anos. Alguns jogadores contribuíram muito para que se avançasse essa idade para 35 anos. Em seguida começou a ter o termo velho, e encurtaram a idade máxima do jogador. E agora começaram a cortar a idade aqui embaixo do jogador, e isso é muito prejudicial ao futebol brasileiro – disse o dirigente.
E prossegue:
Você conhece nosso canal no Youtube? Clique e se inscreva! Siga também no Instagram
– Hoje quando você vê a escassez de jogador é porque foi maturado muito cedo e o resto fica descartado. E isso é muito agressivo para o futuro do futebol brasileiro. Isso é uma tese minha, muito bem fundamentada, e eu estou disposto a conversar com os maiores especialistas no assunto, até porque estudei bastante esse tema.
Angioni vai além. Ele consegue identificar uma “doença mental” por falta exatamente de maturação apropriada:
– E outro assunto que me preocupa, mas que muita gente aborda, é a “doença mental” do jogador. Tá se vendo toda hora isso ai. Hoje, o jogador está mais consciente, e está explicitando isso para o público: “Eu vou me afastar que eu estou com problema”. E isso é outro tema para a gente discutir, pois é muito fácil a gente apontar o dedo para o jogador, numa situação irregular de comportamento dele. As pessoas não estão olhando para trás e vendo quantas coisas estão ficando, de pessoas que adoeceram com futebol, e que muitos deles foram avaliados com “badboy“. Será que, já naquela época, eles não estavam adoecidos? Essas são as duas teses que eu gosto de discutir e te agradeço muito por você ter pontuado esse tema para mim (referindo-se ao Pedro Rangel), porque são duas teses que eu gosto muito de discutir e que acende de uma forma muito grande.
O diretor ainda revela que gostaria de implantar isso no Flu, que tem uma base espetacular, e que na sua passagem pelo clube em 2014 já se falava nessa questão. Para Paulo, o tricolor deveria ter, na sua equipe principal, pelo menos 50% dos jogadores formados em Xerém:
– Eu gostaria muito de fazer isso aqui no Fluminense. Em 2014, quando passei por aqui, eu falava muito que o time principal do Fluminense tinha que ter, por ter uma base bem formada, bem fundamentada, com critérios interessantes, e que olha para o futuro, já naquela época eu dizia isso, que o Fluminense precisa aproveitar 50% do seu contingente profissional de jogadores formados no clube, e continuo com esse tema. Isso porque ele atinge dois objetivos: ele avança na maturação dos jogadores, não desperdiça homens, e nem tão pouco custo. Avança um pouco mais, você forma melhor e tem resultados melhores, inclusive na folha de pagamento. E você passa a trabalhar numa realidade financeira melhor.
Angioni segue seu projeto, para preencher uma lacuna, para jovens talentos que não se enquadram mais nos juniores mas não se firmam no profissional. Ou ainda de atletas que o scout do clube indica mas ainda sem a experiência desejada. Algo muito próximo ao que o Fluminense já faz com o Samorin, na Eslováquia, e a experiência que o Caique, do Guarani, estaria vindo compor.
Num trecho da entrevista, essa dada ao Globo Esporte, o diretor fala de custos, das necessidades e da expectativa de conseguir implementar ainda em 2019 essa categoria de aspirantes:
– A falta de mais um campo no CT dificultava essa ideia. Mas vamos começar a construí-lo ainda em dezembro, já temos a verba. Não podemos criar algo e trazer mais custos nessa bagagem. Vamos aproveitar quem já está na casa, trabalhando diariamente no CT. Seriam jogadores que atuam pelo time de aspirantes, mas que estão sempre à disposição do profissional.
Talvez a grande saída para o Flu seja essa mesmo. Aproveitar melhor seus jovens talentos aqui, em casa. Vamos acompanhar de perto esse projeto, torcendo para o Flu estar novamente na vanguarda do futebol.
ST
Trecho da entrevista final: Globo Esporte
Entrevista principal: ST