Lugar de mulher é…
Pensando em um tema para iniciar, nada mais me veio à cabeça além do que me trouxe até as redes sociais: minha paixão pelo Fluminense. Melhor. Ser mulher, frequentar estádios, me comunicar sobre e ser apaixonada por um esporte essencialmente masculino. E, olha, não é fácil não, viu??!
Que futebol é a paixão nacional, todo mundo já está cansado de saber né? E a frequência das mulheres na arquibancada não é um movimento atual, as primeiras participações de mulheres em eventos esportivos remetem ao início do século 20. Especificamente no Fluminense, todos conhecem a história das famosas mulheres que frequentavam o Estádio das Laranjeiras e torciam suas luvas em um gesto de angústia com as partidas de futebol.
A ansiedade para cada rodada ou fase de um campeonato, a tensão pré-jogo, a emoção indescritível de comemorar cada vitória e a tristeza ou frustração em uma derrota, todos esses sentimentos com certeza são compartilhados por ambos os gêneros, afinal, tais sentimentos são reações químicas do corpo humano, não é exclusivo do homem ou da mulher. Então por que é tão difícil aceitar a participação ativa das mulheres como torcedoras??
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Inúmeros são os relatos de assédio, de menosprezo e preconceito, o que naturalmente deixa uma boa parte das torcedoras com medo de frequentar o estádio. Em algumas torcidas organizadas existem códigos de conduta que impedem mulheres de participarem de caravanas, de balançar bandeira e tocar bateria nos jogos, além de não poderem ocupar cargos na diretoria da organizada. Proibições que certamente não têm nenhuma explicação razoável. Não tenho informações se isso acontece nas do Fluminense, espero que não.
Mas apesar de ainda ser soberana a presença masculina, cada vez mais eclodem pelo mundo movimentos de torcedoras a fim de democratizar a arquibancada. Surgiram torcidas organizadas exclusivamente femininas, grupos de mulheres que se unem para irem juntas ao estádio, perfis em redes sociais comandados por mulheres, além do número crescente de sócias-torcedoras e de muitos produtos do clube sendo comprados por mulheres.
O Irã, único país que ainda mantinha proibição de mulher em estádios, depois da morte de uma mulher que foi condenada à prisão por assistir a uma partida, além da pressão da FIFA e de diversas ONGs, autorizou a presença de mulheres em uma partida de futebol. O resultado foi que cerca de 3.500 mulheres estiveram presentes no Estádio Azadi, em Teerã, na partida realizada em outubro de 2019.
Os próprios clubes iniciaram campanhas de incentivo à participação da mulher, popularizando hashtags de apoio como o nosso #timedetodas, #respeitaasminas #deixaelatorcer, #repense, etc. Obviamente só essas ações ainda são pouco diante do cenário, mas para qualquer coisa é necessário um primeiro passo.
Mulheres consomem, participam e acompanham futebol, esse é um caminho sem volta. Basta olhar ao seu redor na bancada, quantas mulheres ecoam com você os cantos de sua torcida?? Dividem sua cerveja? Vestem a camisa de seus times??? Nossa presença é realidade e objetivo é o mesmo: TORCER PELO NOSSO CLUBE DO CORAÇÃO. Toda e qualquer voz é bem vinda quanto se trata do nosso time.
Se você ainda olha uma mulher na arquibancada, no campo ou em qualquer lugar, e pensa o que ela está fazendo ali, sugiro que você repense sua postura como torcedor e, principalmente, como um ser humano que vive no século 21.
ST.
Carol Berger