FLUtebol feminino é realidade

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Tem um assunto que vem ganhando cada vez mais destaque dentro da torcida tricolor.

Pensou no G5, né? Na possibilidade de voltarmos à Libertadores depois de anos de privação e saudade de ver o Flu brigando pela América… Mas não é sobre isso que vim falar. Hoje, pela primeira vez em pouco mais de um ano escrevendo aqui, cerca de 40 colunas depois, o assunto é futebol feminino. Ou melhor, futebol de mulheres.

Já escrevi sobre a mulher no futebol (aqui), mas como torcedora apaixonada, que pertence e tem direito de ocupar os espaços como bem entende. E quando defendemos que o nosso lugar é onde quisermos estar, evidente que as quatro linhas não seriam barreiras capazes de criar uma exceção à essa regra – embora ainda haja quem pense nelas como algo intransponível e restritas a determinado gênero.

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Em uma breve contextualização, durante o Estado Novo, em 1941, Getúlio Vargas proibiu a prática do futebol por mulheres, já que o esporte era considerado bruto e “incompatível com natureza feminina” – delicada, sensível, frágil. Esse decreto não impediu que mulheres seguissem jogando clandestinamente, mas a partir de 1965 a situação piora quando o governo militar reforça a proibição. Até 1979, esse era o cenário no Brasil e, enquanto a seleção masculina já era tricampeã do mundo, a feminina ainda nem era regulamentada, o que só acontece em 1983.

O primeiro campeonato mundial aconteceu em 1988, organizado pela FIFA em caráter experimental, e a seleção brasileira, que conquistou a medalha de bronze, sequer tinha uniformes próprios, tendo que usar as sobras de roupas dos homens. Inclusive, é por isso que damos tanto valor quando uma marca produz linhas femininas para os times. Não porque veste melhor ou algo do tipo, mas porque se eles têm camisas e shorts pensadas para eles, merecemos ter também. Sonho com o dia que comprarei shorts de jogo do Flu que caibam em mim e sejam feitos para o meu corpo. Enfim, a partir de 1991 a Copa do Mundo se torna realidade, em 1996 o futebol feminino estreia nas Olimpíadas e mesmo com “isso tudo” acontecendo, os grandes clubes demoraram ainda muitos anos pra dar atenção à modalidade. Diria que o grande marco para o desenvolvimento foi a exigência criada pela Conmebol em 2016 – que não era o ideal, mas foi necessária.

Bom, a história está aí e vocês podem imaginar o tanto de dificuldade que as atletas passaram. Agora vamos falar de Fluminense.

Para quem não lembra, essa exigência foi a novidade do estatuto e regulamento da entidade. Para participarem das competições masculinas da Conmebol, os clubes ficaram obrigados criar uma equipe principal feminina e pelo menos uma de base, ou se associarem a times já existentes, como foi o nosso caso com o Daminhas da Bola, projeto da nossa treinadora Thaissan Passos. Além disso, dar todo suporte e estrutura para o seu desenvolvimento. A regra passou a valer para as competições de 2019.

Com essa imposição da entidade sul-americana, o futebol feminino do Flu renasce. Tivemos outros times antes, mas a importância dada a eles pelo clube não passava nem perto do que é hoje. Diria até que, para passar longe, faltariam centenas de quilômetros.

Desde o casamento do Flu com o Daminhas da Bola, nesse pouquíssimo tempo – que ainda contou com um certo vírus inconveniente -, testemunhamos um trabalho de excelência e seriedade, cujos frutos já começam a ser colhidos. Do vice campeonato carioca em 2019, a boa e convincente campanha na A2 em 2020, as inúmeras convocações para a seleção principal e de base, e muito mais. Ontem, terça feira, 4 de nossas meninas foram convocadas para um período de treino com a seleção sub-20, fomos o time do Rio com mais presenças na lista do técnico Jonas Urias. Ficamos até em pé de igualdade com as paulistas, que estão anos luz a nossa frente na modalidade.

Quando me cederam esse espaço pelo qual falamos semanalmente (ou quase), prometi a mim mesma que faria o meu máximo pra aproximar o futebol feminino da nossa torcida e que tentaria colocá-lo em pauta com alguma frequência. A cada semana que eu não o fazia, era uma frustração. Assumi um compromisso comigo mesma e hoje posso começar a cumpri-lo, sabendo ainda que tem muito chão pela frente. Por isso, considero esse texto um ponto de partida. A partir de agora o assunto não será a história do futebol feminino ou de como a modalidade deu um salto de desenvolvimento, mas as partidas, as jogadoras e o trabalho que vem sendo feito. Afinal, precisamos avançar com a pauta.

Diferente das colunas anteriores, desta vez eu rascunho meus pensamentos em uma folha de papel e a ponta do lápis traduz tudo o que sinto de forma mais espontânea e fluída. E o impulso que me vem nessa madrugada é motivado pelo orgulho imenso que sinto quando vejo nossos times em campo. Vejo que o trabalho é levado a sério, que busca a excelência e não meramente cumprir uma exigência; que as meninas vestem nossa armadura e se identificam cada vez mais com as três cores que traduzem tradição; que contamos com profissionais competentes que mataram no peito o desafio e que não descansarão até estarmos no topo, como deve ser.

Ansiosa pelo que o futuro nos guarda.

Pra cima delas, meninas!

ST


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