Falamos com Cacá Cardoso – “Fomos traídos pelo presidente, que nunca confiou em nós”
Cacá Cardoso, do grupo Unido e Forte, concedeu ontem uma entrevista exclusiva ao nosso portal. Preocupado com a situação do Fluminense, o ex-vice-presidente abordou temas dos mais diversos. Da composição da aliança com o atual presidente – onde abdicou da própria candidatura – das dispensas dos jogadores por whatsapp; da atual situação do clube e, por fim, da forma com ele e seu grupo foram traídos e usados pelo atual mandatário tricolor para se garantir na presidência do clube. Confira os principais trechos da entrevista:
– Em primeiro, lugar obrigado pelo convite. É um prazer falar com toda a galera tricolor, através aí do saudações tricolores. com
– Em relação à união que houve, às vésperas da eleição de 2016, houve por parte dos últimos momentos da nossa candidatura, em que pese todo um trabalho feito, com grandes profissionais executivos de grande porte empresários, à semelhança de um clube rival, que logrou êxito nas eleições lá, nós tínhamos uma pesquisa que não indicava a nossa candidatura como a vencedora no pleito. Aí nós fomos procurados, às vésperas das inscrições das chapas, pela candidatura Pedro Abad, que procurou alguns dos nossos membros do grupo, e ofereceu participar da gestão. E quanto a isso, foi colocado como condição básica o respeito e o cumprimento ao nosso programa de gestão. Esse programa já tinha praticamente 2 anos de estudos e de elaboração, previa mudanças radicais na estrutura do clube, no seu atual modelo social, de forma a protegê-lo, dando mais transparência. Mais transparência aos sócios, aos torcedores e ao mercado, de forma a atrair recursos e atrair investimentos. E o então candidato Pedro Abad aceitou essa condição, e foi dessa forma que nós, que parte do nosso grupo, entendeu que deveria ser a solução viável naquele instante para acelerar as mudanças no clube naquela ocasião necessitava e que hoje, infelizmente, necessitamos muito mais. Dois anos depois, nós vimos que houve um retrocesso em muitas questões. Isso quer dizer que ao invés de nós evoluirmos nós olhamos para trás. E foi por esse motivo que então nós fizemos aquela coligação, para contribuirmos com um programa de gestão por nós realizado, já que estava tudo pronto, mudando de forma radical essa questão do Fluminense como clube, a divisão do futebol dos esportes olímpicos, das áreas sociais e protegendo a instituição evitando que o presidente tenha plenos poderes com vem tendo, e foi isso que Pedro Abad sinalizou positivamente, aceitando introduzir essas mudanças no clube.
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Sobre o desembarque da gestão:
– Infelizmente, para a nossa surpresa, essas mudanças não vieram, em que pese o esforço nosso, nesse sentido. Inclusive até iniciou-se um processo de estudo de conhecimento das diversas áreas do clube, por uma grande empresa de consultoria do mundo, e esse estudo foi feito, foi elaborado e não foi concluído, não foi levado adiante. E isso, de certa forma, causou muita frustração, porque era a pedra fundamental da nossa proposta para modernizar o clube, para proteger o clube, para dar profissionalismo e transparência em todas as suas atividades em todas as suas áreas e infelizmente isso não foi adiante.
– Não foi adiante por pura falta de vontade política do presidente. Nós tivemos muitas resistências, de vários setores do clube, que não viam com bons olhos essa nossa proposta. Temos ciência que, isso de certa forma, causam mal-estar, você está mexendo com “status quo”, com a situação vigente naquela ocasião, que ainda se mantém, permanece inalterado, e infelizmente essas mudanças não foram adiante. E isso foi ponto fundamental para que nós reavaliássemos a nossa presença na gestão do clube, já que o compromisso assumido conosco era justamente esse, de levar adiante as mudanças que são extremamente necessárias ao Fluminense, para ele atingir um patamar que ele é merecedor. A gente confiava que, com essas mudanças, nós traríamos para o clube a credibilidade necessária para atrair os recursos indispensáveis para se fazer no clube forte só que isso não ocorreu.
Sobre a gestão colegiada, a frustração e traição:
– A questão da gestão compartilhada nunca existiu na prática. Foi um blefe isso. O presidente sempre adotou as decisões de forma isolada, e em várias das oportunidades, e é fato notório como a questão da venda dos ingressos, que ele assumiu isso sozinho. E eu me refiro às torcidas organizadas, e ele tinha ciência que isso era vedado, que nós não concordávamos com isso, por uma série de motivos. O ministério público estava em cima disso, o tribunal de justiça, onde nós acompanhamos em diversas reuniões, para disciplinar essa questão do relacionamento com torcida organizada, e ele, de forma sorrateira por trás, assumiu essa conduta de fornecer ingressos aos torcedores. Isso resultou que o Fluminense foi parar nas páginas policiais, ao invés das páginas esportivas. Isso nos deixou bastante irritados, nos sentimos traídos. Foi um dos primeiros episódios, de muitos, que ele tomava as medidas da cabeça dele, sem discutir, sem levar às pessoas que, em tese, deveriam ser da confiança dele, membros de seu conselho diretor. E isso foi uma ação recorrente por parte do presidente, e isso foi minando a nossa permanência, porque era tudo contrário ao que nós desejávamos para o clube.
– Essa questão dos ingressos, motivou da minha parte, pessoalmente, uma carta ao conselho diretor, reprovando e recriminando as iniciativas do presidente. Essa carta foi lida em reunião do conselho diretor, todos tomaram ciência ali. Infelizmente conselho diretor até hoje não tem uma ata de reunião, e isso também foi um dos pontos que nós batemos muito, o fato do conselho diretor não ter uma ata de reunião.
A dispensa dos jogadores por whatsapp:
– Logo em seguida, no final de 2017, veio a questão das dispensas dos jogadores por WhatsApp. E isso ali também causou mais um profundo desagrado de nossa parte. Porque não havia sido nada disso combinado. Não havia sido nada combinado nesse sentido, de dispensar ninguém por whatsapp. Aliás ninguém demite ninguém, às vésperas do réveillon e ainda mais alguns com histórico vitorioso dentro do clube. Mais uma vez o presidente Pedro Abad, descumprindo o que foi combinado previamente, estudado meticulosamente. Ele infelizmente, mais uma vez não honrou a sua parte e retardou esse processo todo, motivando aquela insatisfação generalizada dos jogadores, acarretando um arranhão na imagem do clube.
Os passos para sair da situação atual:
– Continuo afirmando, desde lá de trás, é providenciar com a urgência máxima a reforma estatuária para alterar o modelo social do clube é mais do que necessária. Já perdemos muito tempo. O Fluminense vai levar algum tempo ai para se recuperar. Valores, por exemplo, que estão fora do ato trabalhista, já somam um passivo relevante. E por estar fora do guarda-chuva do ato, suas contas estão sujeitas a penhora. E essa reforma estatutária, que por nós foi defendida lá atrás, para tirar certos poderes do presidente isoladamente, dividindo esse poder por mais pessoas na gestão, criar determinadas proteções nas diversas formas de decisão e profissionalizar. Mas não essas indicações políticas e sim contratar por meritocracia profissionais capacitados para tocar a vida do clube. Sempre baseando as condutas na mais absoluta transparência, onde todos possam ver onde cada centavo do clube está sendo investido, porque e qual a meta a ser alcançada com esse investimento. Sem isso, o Fluminense vai continuar sofrendo e penando como está hoje.
Presidência do Conselho:
– Fernando Leite foi um nome de consenso junto ao conselho deliberativo do Fluminense. Foi uma candidatura única. E dessa candidatura única não se teve notícia de que ele teria uma preferência por “A” ou “B”. Inclusive ele foi eleito numa sessão onde sua candidatura foi de consenso entre todos os grupos presentes no conselho deliberativo. Cheguei até a criticá-lo algumas vezes, por algumas decisões que ele tomou, mas não vejo nada que se possa falar sobre a figura dele na presidência do conselho, na condução dos principais temas que à ele foram subordinados.
Renúncia e poder com o Fernando Leite. Novas eleições?
– Em relação à essa notícia teria demonstrado a intenção de renunciar eu não acredito. Não acredito mesmo. Agora, além disso, dele não fazer justificando para tal deixar o poder do clube com o Fernando Leite, eu sinceramente, pelo pouco que eu conheço do presidente Fernando Leite, do conselho deliberativo, eu entendo que ele, e é a minha opinião pessoal, eu acho que ele vai seguir o estatuto. Eu acho que se o estatuto prevê um prazo, que ele fixa, para a convocação de novas eleições, ele vai ter que agir dessa forma. Tanto em caso de impeachment, como no caso de renúncia. Mas eu não acredito em renúncia, e isso eu gosto de frisar.
Presidência e antecipação das eleições:
– Para esclarecer, eu vim como candidato da Flu2050, que é composta por executivos de grandes empresas, empresários, de profissionais de sucesso, de grandes tricolores, que viam em meu nome, na experiência de clube que eu tenho, com mais de 30 anos de serviços prestados a clube, de forma não remunerada, uma pessoa que estaria capaz de coordenar, de levar a frete essa proposta de governança que havia sido estruturada nesse programa.
– Hoje, nosso grupo ainda não tomou nenhuma decisão nesse sentido, e nem os outros grupos que compõem a Unido e Forte, e eu hoje já antecipo que tenho uma outra condição e não penso em sair mais candidato à presidência do clube. Mas meu grupo tem totais condições de identificar e alavancar um nome de muito conhecimento na área empresarial, que possa somar, um nome forte e de muito prestigio, capaz de trazer o fluminense ao lugar que o Flu nunca deveria ter saído, protagonizando as competições.
– Em relação as antecipações das eleição eu sou favorável a cumprir o estatuto. Se houver previsão estatutária nesse sentido, e eu entendo que não haja, eu acho que a eleição que tem que ter é aquela prevista no estatuto, caso venha a ser considerado vaga a presidência do clube. E insisto nisso, sou um cumpridor do estatuto e tem que ser cumprido o estatuto nesse sentido. Para garantir a estabilidade política do clube temos que seguir o estatuto. Para evitar o que agora aconteceu. De levar o nome do Fluminense para justiça, lamentando que o clube tenha sido acionado pelo seu próprio presidente. Realmente causa espécie essa inciativa do presidente, que já disse em diversas vezes não estar amarrado ao poder e se for melhor para o clube ele sai, mas a gente vê que na pratica que o discurso dele não se confirma. Eu apenas lamento. Falta muito de grandeza para evitar de levar o Fluminense para justiça. Isso causa tristeza em todos no clube, no seu associado, no seu torcedor. Ninguém quer ver o Fluminense ser acionado, quanto mais pelo seu próprio presidente.
Dissociação da imagem do Cacá Cardoso e Pedro Abad.
– Em um dado momento nós nos unimos, eu e o meu grupo, pois imaginávamos que ali seria uma forma de trazer benefícios ao clube, seria uma forma de implementarmos as medidas necessárias para trazer grandes investimentos para o Fluminense. Só que a partir do momento que o presidente Pedro Abad tomou posse da cadeira presidencial, lamentavelmente tudo aquilo que fora combinado pelas partes não foi levada a efeito, pelo presidente. Não foi cumprido, não foi honrado. Isso por falta de palavra, isso está bem documentado inclusive. Nós desembarcamos da gestão quando percebemos que ele não iria mudar suas atitudes e iria continuar a tomar as mesmas decisões sozinho e isso, obviamente, chegou a um ponto insustentável. Eu estava meramente como uma figura decorativa, ou quem sabe para ter a culpa terceirizada em mim ou no meu grupo por esses erros, esses muitos erros. Nada daquilo que nós esperávamos fazer foi levado em consideração. Em momento algum ele confiou na gente, e hoje, lamentavelmente, quem paga a conta é o clube e seus torcedores.
– Eu sei que é difícil, mas não esmoreça torcedor tricolor. Eu tenho 53 anos de dedicação e amor à essas três cores que traduzem tradição. Já vivi outros momentos desagradáveis, mas eu nunca arredei pé de colaborar de bater no peito e defender esse clube. O importante agora é o torcedor, aquele que tenha condições, para que venha participar na politica, o clube precisa de uma renovação, precisa de pessoas que amam esse clube, sem interesse, sem vaidades e queiram colaborar sem esperar vantagens pessoais. Vamos passar o Flu a limpo! Vamos fazer o Fluminense retornar a sua história de conquistas e de glórias mil!
ST