Entre o campo e o microfone: torcida amplia desconforto com Renato Gaúcho

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Sequência de resultados ruins e entrevistas pós-jogo intensificam desconforto; feitos recentes são reconhecidos, mas não blindam decisões contestadas

O Fluminense vive um momento de efervescência, e não apenas dentro das quatro linhas. Com uma sequência recente de resultados aquém do esperado – quatro derrotas em seis jogos, incluindo revezes para Red Bull Bragantino, Bahia (BR), Corinthians e Lanús –, o técnico Renato Gaúcho se vê no centro de um furacão que testa a paciência da já apreensiva torcida tricolor. O descontentamento, agora, está tão presente no desempenho do time quanto na forma como o treinador tem abordado as polêmicas nas coletivas de imprensa, criando um abismo de percepções com a arquibancada.

É inegável o reconhecimento pelas conquistas recentes, como a semifinal da Copa do Brasil e a semifinal do Campeonato Mundial. Contudo, para a torcida, essas credenciais não podem servir de “muleta” para escolhas equivocadas e um discurso que, para muitos, soa como um “mundo paralelo” em relação ao que é percebido fora do vestiário.

As Justificativas de Renato: Tática, Ritmo e Pés no Chão

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Na entrevista após a derrota para o Lanús, Renato Gaúcho buscou explicar suas decisões. Sobre as substituições, defendeu a saída de Martinelli, que ele acreditava estar cansado (embora o jogador tenha negado depois), para a entrada de Facundo Bernal, justificando como uma troca “de um volante por outro” para manter a estrutura. A entrada de Soteldo, ou melhor: a insistência por Soteldo, vem irritando as arquibancadas que entedem que o venezulano não atravessa bom momento (para ser mais sútil nas críticas) e que o treinador tem opções melhores no banco. Além das alterações consideradas equívocadas, a torcida ainda entende que o treinador mexe tarde nos jogos. Dessa vez, aos 38 minutos do segundo tempo, quando Cano, Acosta e Fidélis entraram em campo para “tentar” algo diferente. A ideia visava “reter um pouco mais a bola” e até buscar a vitória, um pensamento que se chocou com o gol sofrido no contra-ataque.

O treinador descreveu o jogo contra o Lanús como “bastante disputado, pegado, tático”, com “poucas oportunidades para ambas as equipes”, e enfatizou a importância do jogo de volta no Maracanã. Em sua visão, o controle da partida era uma prioridade, e o resultado não estava completamente fora de controle.

Quando questionado sobre as comparações financeiras com outros clubes, Renato reiterou que “o Fluminense não tem dinheiro”, opera com “os pés no chão” e que os méritos da chegada à Sul-Americana são tanto do Fluminense quanto do Lanús. Ele também defendeu a gestão de novos jogadores, como Lezcano, Lavega e Santi, explicando que, diante de uma sequência de jogos a cada três dias, é preciso dar atenção aos atletas com ritmo de jogo e “lapidar” os mais novos para evitar que “caiam na desgraça de alguns jornalistas” e sofram críticas prematuras, citando Arias como exemplo de adaptação. A máxima “não pode é vocês acharem que vocês conhecem mais do que o treinador” selou sua defesa.

O Contraponto da Torcida: Teimosia, Futebol Pobre e Desculpas Replicadas

A visão do torcedor, porém, diverge radicalmente. A sequência de maus resultados e o “futebol pobre” apresentado pelo time são a base da insatisfação. As justificativas de Renato, como a sobrecarga de três competições (sendo o Fluminense o único brasileiro em três competições) e a falta de dinheiro para contratações, já não encontram eco. A percepção é que essas desculpas se tornaram repetitivas e não condizem com o cenário.

A “teimosia” de Renato é um ponto central da crítica. A insistência em “mesmas figuras para fazerem as mesmas funções” em um esquema tático que, para a torcida, não potencializa o elenco, gera frustração. A escolha por atletas mais “rodados” em detrimento de jovens promessas com maior expectativa de rendimento é vista como um erro. A situação de reforços como Luccho Acosta, Santi Moreno, e até mesmo Lezcano e Lavega, que “nunca entram”, enquanto o time continua a apresentar um futebol medíocre, aprofunda o abismo.

A insistência em Soteldo, em particular, irrita o torcedor, que enxerga outras opções no banco de reservas. A perplexidade aumenta ao considerar que o time foi poupado na rodada anterior contra o Corinthians e teve uma Data FIFA para descanso e preparação, mas segue sem engrenar.

Conclusão: A Necessidade de Reconciliação entre Discurso e Resultado

O Fluminense de Renato Gaúcho enfrenta um momento delicado onde a confiança está em xeque. Embora o treinador apresente sua lógica tática e de gestão de elenco, a torcida, munida dos resultados em campo e das percepções do dia a dia, enxerga um “mundo paralelo”. Os sucessos do passado, embora importantes, não podem ser um escudo permanente para as escolhas atuais.

Para reverter o cenário e reconectar-se com sua apaixonada torcida, o Fluminense precisa de mais do que explicações: precisa de resultados consistentes em campo e de um alinhamento de discurso que demonstre compreensão e responsabilidade. O desafio de Renato Gaúcho é provar que sua lógica, por vezes controversa, pode, de fato, levar o Fluminense ao caminho das vitórias e dissipar a crescente onda de descontentamento.

Para finalizar: óbvio que o time voltando a vencer, a jogar bem e convencer, a torcida vai junto, assim como as opiniões dos jornalistas e dos próprios torcedores. Na realidade, todos querem celebrar e apontar os feitos e conquistas do treinador. Mas, e também por obviedade, quando as coisas são inversamente proporcionais, a reação também será.

 

 


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