Clássico é clássico – e vice-versa
Um dos maiores bordões do mundo do futebol pode ajudar a compreender o que assistimos ontem à noite, no maior palco do esporte bretão do planeta: “clássico é clássico, e vice-versa”, frase essa, como lembrou bem na sua coluna de hoje PVC, atribuída ao Jardel, ex-centroavante. E foi. E como foi. Após um primeiro tempo apequenado, acolhido e amedrontado pela equipe rival, o Fluminense parece ter se lembrado de quem realmente é. E, na volta do intervalo da partida, se agigantou diante dos milionários do milionário time midiático. Se impôs, relembrando aquele Fluminense que todos estávamos acostumados a assistir.
O primeiro tempo, como disse, foi tenebroso. Uma mistura de “Sexta-feira XIII” e a sátira “Corra que a polícia vem aí”. Era uma mix de um filme “pastelão”, onde o mocinho só fazia besteiras, e um filme de terror, quando “os caras” se aproximavam de nossa área. Teste para cardíaco. Penso que o primeiro lance, de tão cedo que ocorreu, arrepiou os mortos, que levantaram de suas tumbas – como consagrou Nelson Rodrigues, em uma de suas dezenas de frases eternas – e quase transportou algum dos vivos ao mundo deles. Gabriel isola, na marca do pênalti. Na sequência, o titularzaço Marcos Felipe, espalma para escanteio um tiro de cabeça de Rodrigo Caio. E tome “isordil”, “rivotril” e “p*** que me paril” . “O pior estava por vir”, pensou o mais tibetano dos tricolores. Os demais, seria impossível transcrever o sentimento.
Que time era aquele de branco lá, no lugar do Flu? Não sei. Ninguém sabe. Mas, para a nossa felicidade, ele desapareceu no túnel, que conduz aos vestiários do Mário Filho. Aquele time pastelão-terror deu lugar a um time mais ousado; o medo de perder desapareceu e assistimos Guerreiros com vontade de ganhar; a desconfiança saiu para a entrada da coragem. E esses, meus queridos, juntos com a lendária camisa tricolor, atrelado à mística do Fla x Flu, foram os ingredientes para um ressurgimento que, para muitos, é um “ai, Jesus”.
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Logo aos nove minutos, nosso “Blade Tricolor” empatou a partida. E, após o lance no nosso travessão, o Flu se aproximava muito mais do segundo gol, do que eles. A disposição que víamos em campo, com os laterais se dedicando, se multiplicando, elevando a marcação à níveis próximos aos de Ironman – como deve ser – se somou aos encontros ofensivos, que começaram a incomodar o milionário time dos milionários midiáticos. E isso incomoda mesmo, né? Pois, é. Sabemos.
No final, a coroação. Um vacilo, um descuido, tal qual o gol que sofremos, foi suficiente para Yago, aquele mesmo do Flusquinha, que se recuperou em tempo recorde, que treinou na praia na folga, e que caminha a passos largos para encontrar uma idolatria nas Laranjeiras, surgiu “do nada” e empurrou para as redes a linda assistência de Felipe Luís (como joga bem esse lateral, não. Que visão de jogo. Encaixou uma bola entre o volante e o goleiro). A impressão é que ele podia sair dali, do Maraca, e ir correr a São Silvestre (tradicional corrida de São Paulo, cancelada pela pandemia) direto, tamanha a disposição do autor do gol. Aliás, se me permitem o trocadilho: em 1995, a bola foi na barriga e entrou; em 2021, a bola entrou e depois foi parar na barriga – (hoje vale até trocadilho ruim).
E não. Não está às 1000 maravilhas. Mas se o Flu retomar esse espírito, essa pegada e essa dedicação… Sim, podemos sonhar com a Libertadores 2021.
Uma grande quinta, sexta, sábado…. e que venha o Corinthians.
ST
Washington de Assis.