A Voz das Arquibancadas – “Uma explosão de lembranças e pensamentos me fez reviver junho de 1995”
Fazendo algumas buscas aleatórios no youtube, como por um afago no coração, após um videoclipe dos Rolling Stones, apareceu um vídeo da comemoração dos 20 anos do Carioca de 1995. Uma explosão de lembranças e pensamentos me fez reviver junho de 1995, com 18 anos, saindo da adolescência, vindo de um período de seca de dez anos. Não era qualquer seca, era a seca de títulos na adolescência, era a seca no justo período em que comecei a acompanhar o futebol de perto. Era a seca após a fartura proporcionada pelo casal 20 e Cia.
Dez anos esperando e veio com a mística das coisas que acontecem ao Fluminense. Veio com o gigantismo de quem está predestinado, veio com glória! Naquela semana sentia um astral diferente, e quando ouvia algum torcedor do outro lado falando que a taça seria deles pensava em silêncio: essa não, essa vai para Laranjeiras. Sabia, não sei como, que aquela constelação em forma de time, com Sávio, Romário e Edmundo não seria capaz de derrubar nosso “timinho” capitaneado por Renato Gaúcho em uma fase cheia de brio.
Lembro de ter dado uma fugida do trabalho, em Benfica, na hora do almoço e fui pra fila do Maraca comprar ingresso. Fila grande, tumulto, polícia controlando a desordem com a gentileza da ponta do cassetete. Ingresso meu, e do meu irmão na mão, frio na barriga, ansiedade, lembro de ter olhado pro céu e sorrir. Dia do jogo. Chegamos cedo ao Maracanã, aquele anel gigante de concreto, sem cadeiras, ainda com poucas pessoas. Cidade respirando o clássico, buzinaços, bandeiras, fogos, cantos e gritos. Que clima! Que festa!
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Maraca vai enchendo, lembro de ter olhado pra uma das traves e ter lembrado do título perdido no ano anterior com uma canelada do Jardel. Olhei pro céu pra espantar o agouro! Hoje é nosso! Incrível como o futebol nos faz ter tantas lembranças, incrível como o Fluminense mexe com os sentimentos. Uma hora antes do jogo já é difícil ficar sem encostar em alguém, ficar sentado não é mais uma opção. Por ser baixinho, já começo a mexer a cabeça para um lado e outro buscando a visão do que acontecia no gramado. As torcidas começam a se enfrentar no grito, aquela acústica espetacular que só o Maracanã era capaz de nos proporcionar.
Um pequeno grupo começou a balançar a bandeira do rival na saudosa geral, levou um saco de mijo cima. Eu ri. Poucos minutos para o início da partida, começo a poupar a garganta. Pessoal da Young Flu não parava um minuto. Times em campo, desde aquela época é difícil ganhar da nossa torcida no grito. “Uh, tererê!” era o grito da moda em 95. Fiquei triste pelo Super Ézio ficar no banco,mas pensei de novo: hoje é nosso.
Começa o jogo, massacre do Flu! Só nós jogávamos! Nem acreditava! Marcação alta, o meio era nosso. Primeiro gol, festa tricolor, euforia! Pensei: não pode relaxar, continua a pegada, vai pra cima! Gritava como se fosse possível comandar o time. Não me ouviram, mas vieram pra cima. Dois a zero, agora ninguém mais tira da gente! Voltamos pra segunda etapa, pressão como era de se esperar. Torcida adversária quieta, desesperançosa, torcida do Flu não parava um minuto.
Falta pra eles na intermediária, Branco ajeita pra bater. Penso: você não! Você não! Mandou um torpedo no travessão, tão forte que a bola voltou pro meio de campo. O barulho foi ouvido em todo o estádio. Bastou para acordar a torcida meia bomba do lado oposto. Vieram pra cima, o camisa 11 faz o seu, com Romário não se brinca! Tensão, pressão, aflição, dor no coração! Empataram, e o empate levava o título pra beira da lagoa.
Desespero, tudo desandando. Jogadores expulsos, tínhamos homem a menos. Lembro de ter parado de ouvir tudo, como se fosse surdo. Via pessoas indo embora, xingando, jurando nunca mais ver o Flu. Torcida oposta gritava “é campeão!” E eu pensei, hoje não! Puxei do fundo da alma um grito de Nense! Ninguém acompanhou, mais gente indo embora. Não arredo pé! Hoje é nosso, hoje é nosso, hoje é nosso! Metade da torcida tinha saído, isso não perdoo! E nem eles se perdoariam…
Lançamento do meio de campo, Aílton pra um lado e Charles Guerreiro pro outro, duas vezes, frio na barriga! Um chute!!! Não vi na hora, estava no lado oposto, não dava pra ver que tinha sido gol na confusão dentro do área! O grito veio chegando até a gente, como se fosse uma ola, e olhamos para o campo e vimos os jogadores comemorando! Goooooollll porraaaaaa!!!!!! Hoje é nosso! Hoje é nosso!
Uma avalanche de gente voltando, perderam um dos maiores momentos da história do Maracanã! Perderam um gol histórico! O placar informava gol do Aílton, e somente em casa fui saber que Renato Gaúcho havia feito de barriga. A festa do título foi linda, fiquei com a imagem do Ézio vibrando com a gente na linha de fundo, de boné, ele é muito meu ídolo (pena ter ido tão cedo)! Foi um dos poucos que se salvava na época das vacas magras.
Acho que nunca o título de um clube foi tão comemorado na história do futebol.
É histórico, e se é história… é com o Fluminense!
ST!