A mentira, que contada 1001 vezes, 1002, 1003…. Como o Flamengo faturou mais que Vasco, Botafogo e Fluminense juntos

Compartilhe

Cotas de TV, meus caros. Não abrir, inciar, começar qualquer texto para se falar no distanciamento financeiro, que separam Flamengo de Fluminense, Vasco e Botafogo, sem falar no efeito “Cotas de TV” não só é errado, mas como na minha opinião, é uma covardia com o torcedor comum. Isso mesmo: covardia. Não tem empresário no mundo, nenhum gestor na galáxia, que pegue um clube com quase R$ 1 bilhão em dívidas e o transforme na máquina de fazer dinheiro sem um empuxo adicional de muito, mas muito dinheiro mesmo. O resultado disso tudo? O início do fim do futebol como conhecemos.

Ano passado o Flamengo arrecadou algo próximo a R$ 950 milhões, enquanto Botafogo, Fluminense e Vasco — juntos — somaram R$ 669 milhões. Pois é. Que aula de gestão, não? Não. Não é. Com todo respeito aos feitos de Bandeira de Mello e todos que dirigiram (e ainda dirigem o clube de regatas até hoje), o que ocorreu foi uma enxurrada de dinheiro nos cofres da Gávea, que fizeram a roda rubro-negra girar. Quer entender o raciocínio?

Sabidamente, aqui no no nosso futebol, as receitas dos principais clubes vêm principalmente de direitos de  transmissão de jogos na televisão. Esse tipo de receita representa de 30 a 60% das receitas dos grandes clubes e, direta ou indiretamente, influenciam na geração das demais receitas, sobretudo no “girar da roda”. Isso porque, as demais fontes de rendas vêm da venda de ingressos para competições, patrocínios, premiações por títulos e por classificação em cada fase das competições  – que ainda podem garantir participação em competições internacionais mais lucrativas –  uso do espaço social das sedes para a prática de esporte amador, ações de marketing e, cada vez mais, da venda de atletas ou até mesmo da compra de “estrelas” que atraem investimentos vultosos em marketing.

Você conhece nosso canal no YoutubeClique e se inscreva! Siga também no Instagram

Pois bem. O ponto de partida é esse: com mais dinheiro em caixa o clube tem condições de investir melhor no seu elenco, com nomes de peso. Isso aumenta as chances de classificação nas fases das competições, chances de títulos, atrai mais o seu torcedor para ser “sócio-futebol” (ou qualquer nome que se dê para esse tipo de programa), que por sua vez gera mais ações de marketing, que arrecada mais. Com isso, o clube não precisa se desfazer de alguma “joia” de sua base mais cedo, podendo alcançar números melhores mais na frente. Ou seja, a roda começa a girar com o investimento inicial. E ainda, com a contratação de nomes fortes do futebol, se atrai mais mídia e, com isso, patrocinadores interessados. Quer um exemplo? O que seria mais lógico: um patrocinador preferir estampar seu nome numa camisa que Deco veste ou numa camisa que Romarinho veste? Fácil de compreender.

Portanto, mas nem tão simples assim, quanto mais se investe coerentemente no futebol, maior serão as receitas advindas do mesmo. Mas como começar a investir? Como um clube consegue atrair maiores investidores, sócios e etc? Partindo de um investimento inicial. A partir daí, o restante vem como consequência. Seja ela prevista ou não.

As gestões dos clubes no Brasil sempre foram parecidas no quesito precariedade, amadorismo e temeridade. Pouquíssimos dirigentes se preocuparam com o futuro do clube e acumularam dívidas absurdas. Se fossemos um país mais rigoroso nenhum clube hoje existiria. Teriam sido liquidados para adimplir com tais dívidas. E todos partiram desse mesmo desespero, uns em situação horrorosa e outros em situação caótica. Após o aporte absurdamente desigual, a partir de 2012, observe a diferença gerada no Brasil:

Percebam que o salto na tabela se desenha conforme explicado aqui:

2012-2015
G1 – R$ 110 milhões/ano (Flamengo e Corinthians)
G1 – R$ 80 milhões/ano (São Paulo)
G3 – R$ 70 milhões/ano (Palmeiras e Vasco)
G4 – R$ 60 milhões/ano (Santos)
G5 – R$ 45 milhões/ano (Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Inter, Flu e Botafogo) 
G7 – R$ 27 milhões/ano (Sport, Bahia, Vitória, Atlético-PR, Coritiba e Goiás)
G8 – R$ 18 milhões/ano (demais clubes)
Série B – R$ 3 milhões (demais clubes)
Séries C e D – sem cota (demais clubes)

Mas não para por aí não:

2016-2018
G1 – R$ 170 milhões/ano (Flamengo e Corinthians)
G1 – R$ 110 milhões/ano (São Paulo)
G3 – R$ 100 milhões/ano (Palmeiras e Vasco)
G4 – R$ 80 milhões/ano (Santos)
G5 – R$ 60 milhões/ano (Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Inter, Flu e Botafogo) 
G7 – R$ 35 milhões/ano (Sport, Bahia, Vitória, Atlético-PR, Coritiba e Goiás)
G8 – R$ 23 milhões/ano (demais clubes)
Série B – R$ 5 milhões (demais clubes)
Séries C e  D – sem cota (demais clubes)

E olha que coincidência: os programas de sócio-torcedor, bilheterias, venda de produtos oficiais e todo o resto, começaram a aumentar após o aumento das Cotas de TV. Coincidência, não? Não, não é!

Fonte: Editoria de Arte do O Globo

No ano de 2019, o ápice de diferença: enquanto Flamengo disputava a Libertadores (onde ganhou) e foi ao Mundial, Vasco, Fluminense e Botafogo figuravam no Brasileiro e brigaram, quase que o tempo todo para não cair. Claro que a má gestão dos clubes é o grande vilão da situação em que os mesmos se encontram. Mas o Flamengo também estava ali, juntinho dos 3. O que ocorreu? Já dissemos.

E não me venham dizer que cada um que venda melhor seu peixe para as emissoras pois em primeiro lugar sabemos que não funciona assim. Eles vão pagar mais para quem lhes convier. Ponto. Ainda mais com a situação dos clubes, em estado quase que terminal, com o “pires na mão” implorando por migalhas. O problema é que o preâmbulo esportivo morreu no Brasil. Aqui só querem saber de arrecadação e ponto. Quer ver outra coincidência, que também abordamos aqui?

Flamengo – 12 jogos – média de 27,7 pontos
Vasco – 8 jogos – média 21,9 pontos
Fluminense – 11 jogos – média 20 pontos
Botafogo – 7 jogos – média 18,7 pontos

Brasileirão 2018 – Números divulgados pela Globo durante o Brasileirão 2018. Cada ponto no Ibope na região metropolitana do Rio de Janeiro equivale a 45.253 residências.

Ora, que o Flamengo tem mais audiência nos parece óbvio. Que ele receba mais por isso, idem. Mas por que tamanha desproporção?

Numa matemática grosseira, cada ponto de média de cada time:

Flamengo R$ 170 milhões / por 27,7 pontos de audiência = R$ 6.137.184,12 – por ponto
Vasco – R$ 100 milhões / por 21,9 pontos de audiência = R$ 4.566.210, 05 – por ponto
Fluminense – R$ 60 milhões / 20 pontos de audiência = R$ 3.000.000,00 – por ponto
Botafogo – R$ 60 milhões / 18,7 pontos de audiência = R$ 3.208.556,15 – por ponto

A pergunta é: por que os pontos de audiência são remunerados de forma tão desigual. Nós fomos os primeiros a levantar essa lebre por aqui – até que teve uma repercussão legal. Mas é incompreensível. (coluna publicada em 24/10/2019 – clique aqui)

 O ponto é: todos partimos hoje de uma mesma linha de largada atolada em dívidas. A diferença é que uns ganharam um empuxo adicional, e injusto, em detrimento de outros. Não queremos ser beneficiados, e nem tratados de forma diferentes. O que queremos é o mesmo tratamento, é que seja mais justo o nosso futebol. Nada além disso.

Mas por que os clubes não negociam melhor os seus contratos com as emissoras?

Outro ponto interessante. Primeiro porque não existe união entre eles. E isso é excelente para toda e qualquer emissora, que queira comprar e, o pior, administrar o campeonato (colocando jogos no dia e horário que mais lhe convier – como por exemplo colocar um clube jogando mais vezes em horários nobres e outros na segunda a noite). Dessa forma, os interesses comerciais se sobrepõem aos esportivos. Os papéis se invertem de forma também absurda. O campeonato passa a ser um produto da emissora, e não a emissora ser um veículo de transmissão do campeonato. Compreendem a diferença? Clubes centenários ficam à mercê da vontade de meia dúzia de diretores, cujo objetivos podem não ser o melhor para o campeonato em si, e sim o melhor para os próprios.

Em relação à uma melhor negociação, é meio óbvio, não? A maioria dos clubes está com o pires na mão, em situação pré-falimentar, infelizmente. E sabem disso. Não adianta forçar muito, pois não cedem. Ponto, parágrafo, letra maiúscula. É tipo simples assim mesmo. Não tem concorrência por aqui, para a transmissão…

Os clubes são desunidos. A CBF, que deveria tomar conta somente da Seleção Brasileira – e olhe lá – não quer largar o osso. Sabe que se deixar nas mãos dos clubes o poder será dividido e isso, meus amigos, não interessa à ninguém.

A saída?

A saída dessa sinuca de bico está nas arquibancadas, na torcida. Precisamos nos convencer que somos A ÚNICA saída. REPITA-SE MIL VEZES – SÓCIO-TORCEDOR É A ÚNICA SAÍDA. Veja o caso do Athlético-PR… Olha a estrutura deles, o recente histórico. Claro que tem a ver com gestão, óbvio até. Mas estamos iniciando uma nova era, com novas ideias. Você pode não gostar do Mário, do Celso, da tiazinha que serve o café. Mas eles só poderão fazer alguma coisa diferente – ainda que seja para sua crítica – se tiverem dinheiro. Caso contrário, a receita será a mesma. Não existe varinha mágica, nem gênio da lâmpada. Mas existe o sentimento verde, branco e grená.

Ou viramos sócios e resgatamos o nosso clube ou assistiremos, através das telas de nossos computadores, tablets e celulares, a derrocada de nosso clube.

ST

Washington de Assis

 


Compartilhe