“Vai passar nessa avenida um clube popular, de todas as cores, com pé no samba”: escola de samba da torcida do Fluminense homenageia Chico Guanabara no Carnaval
“Chico, negro herói da Guanabara/Retinto guerreiro, um pioneiro/Ginga, malandro, capoeira/Fez de Laranjeiras o seu terreiro/Fluminense no gramado/Corre o sangue encarnado/Herança africana é tradição/No povo preto, acendeu uma paixão”, embalada por estes versos, a Guerreiros Tricolores vai desfilar no Carnaval 2023. A Escola de Samba, fundada em 2019, vai homenagear o torcedor-símbolo do clube nas décadas de 1910 e 1920, assim como outras personalidades negras da história do Flu.
Na Série Bronze — a quarta divisão —, a agremiação vai ser a segunda a desfilar na segunda-feira de Carnaval (21). Este ano, aliás, a apresentação vai ocorrer na Avenida Ernani Cardoso — a 250 a Intendente Magalhães, onde saíam as escolas da terceira e da quarta divisões.
A Guerreiros Tricolores anunciou, em Junho de 2022, “Herdeiros de Chico Guanabara” como enredo para 2023. Além de falar sobre o capoeirista, a Escola promete tratar sobre “a vilanização do Fluminense no contexto da ‘democracia racial'”. Assim como contar a história de ídolos negros e colocar o Flu como um “time de todos e todas”.
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“Em 35 minutos de desfile, será complicado contar tudo… Mas, quando se olha para a arquibancada, há uma legião de tricolores negros. Vamos exaltar os grandes bambas do samba, como Cartola, Donga, Noca da Portela… Todos tricolores. São protagonistas do Fluminense nos campos, na cultura e em todos os espaços de empoderamento. Rótulos negativos se quebram com ações e políticas afirmativas. É uma forma de fazer as pessoas refletirem sobre esse o racismo, esse problema crônico brasileiro”, explicou o presidente da Guerreiros Tricolores, Gian Gonçalves, em entrevista ao Jogada10.
Herdeiros de Chico Guanabara: do canal do Fluminense no YouTube para o Carnaval
O enredo da Guerreiros Tricolores vai na esteira de uma websérie de mesmo nome lançada pela FluTV em 2022. A produção — assim como a Escola pretende mostrar — tinha como objetivo desmitificar a imagem do Flu como um clube elitista. Para isso, parte da história de Chico Guanabara, um ilustre torcedor negro e capoeirista, definido pelo crônista Mário Filho como “valentão de chapéu de aba cortada, do alto da cabeça, lenço no pescoço, navalha no cinto, tamanco saindo do pé”.
De acordo com o irmão de Nelson Rodrigues, “ninguém ousava falar mal do Fluminense perto dele: como bom capoeirista, ‘passava a rasteira'”. Morador do Retiro Guanabara — por isso o apelido — Chico chamava a atenção entre os torcedores da época.
“Naquela época, a sociedade brasileira era racista: não existia só no Fluminense. Assim, ao conhecer a história de Chico, um negro, capoeirista e tricolor, nos sentimos totalmente identificados. Ele deu mais emoção e alegria à maneira de torcer. Então, não tenho medo nenhum de dizer que os torcedores de hoje, de qualquer clube, são herdeiros de Chico Guanabara”, continuou Gian Gonçalves.
“Herdeiros de Chico Guanabara” é o terceiro enredo sobre o Fluminense da Guerreiros Tricolores no Carnaval carioca. Em 2020, a Escola se classificou em quinto no Grupo de Avaliação com “Nós Somos a História”, conquistando assim uma vaga na Série Bronze. Depois de um ano sem desfiles por causa da pandemia, voltaram então com “Forjados nas Cores do Guerreiro, Nosso Lema é Vencer ou Vencer!”. Ficando em sétimo, mas a apenas um décimo do acesso para a Série Prata. Além disso, a Acadêmicos da Rocinha homenageou o Centenário do Flu na Marquês de Sapucaí no Carnaval de 2003.
Samba-enredo
“Chico, negro herói da Guanabara
Retinto guerreiro, um pioneiro
Ginga, malandro, capoeira
Fez de Laranjeiras o seu terreiro
Fluminense no gramado
Corre o sangue encarnado
Herança africana é tradição
No povo preto, acendeu uma paixãoDesceu do Retiro, valente temido
O lenço torcido, navalha no cinto
Batalhas e cantos seu grito ecoou
Vestiu a camisa e se eternizouFoi sentinela
Semente do samba que Donga gerou
Cartola, Mangueira, favela
Noca da Portela, Selminha encantou
Meu caro amigo, desculpe dizer
Quem nasceu tricolor
Já nasceu pra vencer
Sorriso no rosto, mistura essência
No grito do gol a raiz, resistênciaVai passar nessa avenida um clube popular
De todas as cores, com pé no samba
Que se orgulha da sua gente bambaVai passar nessa avenida
Um clube popular
De tantas glórias e tantas vitórias
Que tem orgulho da sua história”
Compositores: Alexandre Araújo, Guilherme Salgueiro, Rodrigo Gauz e Léo Peres
ST
