LEONARDO BAGNO – Não merecemos isso

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Tricolores,

Eu tenho 40 anos e faço parte da geração maldita tricolor. Quem é meu contemporâneo sabe do que eu estou falando. Para o pessoal mais jovem (o mais foi proposital), explico. Comecei a ir ao estádio com o meu pai, que me levava a tudo que era jogo. Fui a Campos, Três Rios, Juiz de Fora, Curitiba, Niterói… Tudo levado por ele. Aqui no Rio, fui a Bangu, Campo Grande, Madureira, Olaria, Ilha do Governador… Tudo também por causa dele. Só que ele começou a me levar aos jogos por volta dos meus 10 anos. Ou seja, nascido em 1978, passei a ir aos jogos em 1988 mais ou menos. Portanto, não experimentei o que foi 83-84-85. A não ser através do aparelho Betamax que o meu pai tinha. Não faz ideia do que seja um Betamax? Culpa minha. Betamax era uma marca, concorrente da VHS, e fabricava vídeos cassetes. Foi através de fitas de vídeo cassete que eu vivi o que foi a era dourada do Fluminense.

Fiquei de 1988 a 1995 no quase. O Fluminense foi vice-campeão do Carioca inúmeras vezes. Chegou longe no Brasileiro várias outras. Foi vice da Copa do Brasil num dos jogos mais roubados que eu já vi. E lutou contra o rebaixamento somente uma vez, pelo que me lembro, quando Alexandre Torres nos salvou nas Laranjeiras numa cobrança de pênalti eterna (ele teve que cobrar três vezes e fez as três!). Não me lembro quem era o adversário. Nem importa.

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Como é possível observar, não fomos campeões. E eu ia a todos os jogos. Passei a ir sozinho para os estádios do Rio de Janeiro em 1994. E finalmente entendi o que era ser campeão em 1995 no jogo mais espetacular que o Universo já experimentou. No ano seguinte, descobri o que era sofrer de verdade, com o rebaixamento que acabou não vindo graças ao caso Ivens Mendes, envelovendo diretamente o Atlético-PR e Corínthians, que compravam os juízes para favorecê-los.

Em 1997, por conta de uma atitude que deveria virar sinônimo de cretinice no dicionário (o nosso presidente à época resolveu comemorar o não rebaixamento estourando um espumante na frente da imprensa e virou capa de jornal no dia seguinte), o Brasil inteiro passou a odiar o Fluminense. O Brasil inteiro! Não foi o Fluminense que foi rebaixado em 1998. O Brasil rebaixou o Fluminense. Pessoas foram para a rua comemorar o nosso rebaixamento. A torcida do Fluminense ficou inteiramente sozinha.

Conseguimos retornar em 2000, depois que o Brasil descobriu que há gato no futebol (quem diria?). A CBF afastou-se da organização do Brasileiro e o Clube dos 13 realizou a chamada Copa João Havelange. Fluminense e Bahia foram convidados a disputar o módulo que os times grandes disputavam e foi o terceiro colocado na fase de classificação, fazendo uma campanha que encheu de orgulho todos os tricolores depois de termos experimentado o que era o Inferno.

De 1988 a 2000, testemunhamos jogadores que sequer eram medíocres. Faltava muita qualidade para que se tornassem medíocres. Júlio Cesar, Marcelo Gomes, Marcelo Barreto, Davi, Macula, Tião Motorista, Maldonado, Carlinhos Itaberá, Jorge Luís, Márcio Baby, Hugo, Télvio, Mano, Alê, Andjelkovic… O Fluminense contratava dois times a cada seis meses. O caos era a nossa regra.

Agora, eu tenho o desprazer de ver o Fluminense repetindo tudo aquilo que nos levou ao Inferno. Ainda resta um jogo. No Maracanã. A torcida do Fluminense não merece tal sofrimento. A minha geração, então, menos ainda. Que o Fluminense se livre desse pesadelo e que as pessoas que estão à frente dele entendam que não podemos mais ter um ano como o de 2018. Não aguentaremos. Deem lugar para outras. Vocês tentaram e fracassaram. Bem-intencionados ou não, não deu certo. O Fluminense simplesmente não pode se dar ao luxo de ter mais uma temporada como a deste ano. Entendam isso de uma vez. É o que eu peço de coração a vocês.

Saudações Tricolores,

Leonardo Bagno


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