Liga dos Clubes: tudo o que foi falado até o momento no futebol brasileiro

Compartilhe

Nas últimas semanas, a notícia da criação de uma Liga Nacional organizada pelos clubes tem movimentado os bastidores do futebol brasileiro. No dia 15 de Junho, alguns dirigentes visitaram a sede da CBF para entregar uma carta assinada por presidentes de 19 dos 20 times da Série A confirmando a intenção. E agora, o ST resume tudo que vem sendo falado sobre esta possível mudança.

Uma organização para defender o interesse dos clubes não chega a ser novidade. Em 1987, dirigentes de Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, São Paulo, Santos e Vasco fundaram o Clube dos 13. Em período de grave crise financeira e institucional da CBF, o grupo — que chegou a ter 20 membros, mas manteve o nome — organizou a Copa União no mesmo ano, primeira competição a ter investimento privado. Depois “devolveu” o comando do futebol a CBF, ficando responsável por negociar coletivamente os direitos de transmissão. Entretanto — diante de um imbróglio judicial envolvendo o Gama — em 2000, a entidade voltou a cena para organizar a Copa João Havelange. E acabou implodida em 2011 após discussões envolvendo a reeleição de Fabio Koff, cotas de TV, além das saídas de Corinthians e Flamengo.

Anos depois, a insatisfação com as federações estaduais levou a dupla Fla-Flu, além de clubes de Minas Gerais e dos estados da região sul do país a criar então a Primeira Liga do futebol brasileiro. O grupo conseguiu organizar a Copa da Primeira Liga em 2016, vencida pelo Fluminense, e 2017. Mas, acabou se dissolvendo por brigas entre dirigentes e pelas cotas de TV.

Você conhece nosso canal no YoutubeClique e se inscreva! Siga também no Instagram

Assim como em 1987, a CBF se encontra em uma crise institucional. O presidente Rogério Caboclo está afastado por denúncia de assédio sexual. Por isso, os dirigentes consideram este o momento ideal para levar a iniciativa adiante.

Calendário, receitas, rebaixamento: o que pode mudar no futebol brasileiro com a Liga de Clubes

Liga de clubes pode causar mudança no futebol brasileiro
(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

A Liga — que recebeu a adesão de clubes da Série B do futebol brasileiro — visa copiar os moldes das grandes ligas europeias, sobretudo a Inglesa. Assim como acontece na Inglaterra, um CEO ficaria responsável por administrar, capitalizar receitas e dividi-la de maneira equânime entre os membros das Séries A e B. Enquanto a CBF ficaria com a Copa do Brasil, Série C, D, além da Seleção Brasileira. E as federações continuaram com os Estaduais.

Segundo o jornalista Rodrigo Capelo, do Grupo Globo, desde que anunciaram o movimento, os dirigente já ouviram duas propostas em um hotel em São Paulo. Uma liderada pela consultoria KPMG aliada a TGA e a Dream Factory, empresa que gere o marketing do Rock In Rio. Enquanto a outra tem o advogado Flavio Zveiter e Ricardo Fort, ex-executivo da Coca-Cola, como mentores junto a Magrath.

Para solucionar a crise financeiras dos clubes, ambas as propostas miram nos fundos “private equity”, ou seja, empresas estabelecidas e com capital fechado, sem ações na bolsa. As empresas, por sua vez, se tornariam sócias e dividiram os lucros no futuro. A KPMG promete de R$ 1,5 a 3 bilhões de reais e Zveiter falou em US$ 750 milhões de dólares (R$ 3,5 bilhões de reais). Além disso, as duas falam em multiplicar as receitas com a padronização de placas publicitárias nos estádios e a venda de direitos de transmissão em blocos separados (TV aberta, pay-per-view, internet e internacional) — diferente do atual modelo, onde a maior parte das equipes fecharam um “pacote” com o Grupo Globo.

Mas diferem em outros pontos. Como, por exemplo:

KPMG, TGA e Dream Factory Zveiter, Fort e Magrath
Estrutura jurídica Consórcio S/A
Alteração de calendário Não Sim
Detalhou a distribuição de receitas Não Sim
Pretende mudar o número de rebaixados Não Sim

 

Diferença nas propostas

A KPMG pretende criar um consórcio, ou seja, quando duas ou mais pessoas jurídicas firmam um contrato com obrigações e deveres comuns. Embora tenha CNPJ e também possa contratar funcionários, difere da proposta de Zveiter, que consiste em fundar uma S/A (sociedade anônima), onde os membros ficariam com um percentual. Vale destacar que, em nenhuma das duas, haveria obrigação dos membros de se tornarem clubes-empresa.

Por outro lado, a KPMG preferiu não falar sobre calendário, rebaixamento e distribuição de receitas. Por isso, temos apenas as informações relacionadas a proposta apresentada por Zveiter e Fort. De acordo com Capelo, o dinheiro capitalizado em um primeiro momento ficaria dividido da seguinte forma:

  • 81,5% para a Série A
  • 18,5% para a Série B

As receitas com os patrocínios da Liga seriam divididas de maneira igual. Já os direitos de transmissão ficariam assim:

TV aberta e fechada

  • 50% iguais para todos os clubes da divisão
  • 50% pela posição na tabela

Pay-per-view

  • 70% em relação a quantidade de assinantes
  • 30% iguais para todos da divisão

Internacional

  • 40% iguais para da divisão
  • 30% em relação a posição na tabela
  • 30% de acordo com “fama” (medida através de pesquisa)

A proposta de Zveiter também fala em mudanças na disputa do Campeonato Brasileiro. O advogado falou, por exemplo, em colocar os jogos da Série B aos sábados e da Série A aos domingos. O meio de semana ficaria livre para as partidas da Copa do Brasil, Sul Americana e Libertadores. Além disso, haveria um tempo de “intertemporada” para excursões e amistosos pela Europa e Ásia, como era comum no passado.

Por fim — do lado esportivo — nesta nova Liga subiriam apenas os dois primeiros da Série B, enquanto o terceiro disputaria um play off com o 18º da Série A.

ST

Lucas Meireles


Compartilhe

Lucas Meireles

Jornalista formado pela UFRRJ, apaixonado por esportes e pelas boas histórias.