É sobre elas!

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Lara Dantas e Luiza Travassos. Foto: Thais Magalhães/CBF

Os textos mais difíceis de escrever são aqueles em que tentamos traduzir de forma minimamente fiel uma emoção. Talvez isso explique o porquê da demora para falar sobre o final de semana repleto de futebol feminino com direito à título inédito. Após digerir a informação, processar toda a importância do momento e aproveitar a comemoração – que ainda está rolando e deveria mesmo -, lá vamos nós.

Que o futebol feminino é a minha causa, muitos de vocês já devem saber – para quem não sabe, agora está sabendo, muito prazer. Que eu chorei junto com elas no quarto pênalti defendido pela Ravena, muitos de vocês devem imaginar. Mas isso não é sobre mim, é sobre elas. Tudo o que fiz até então, toda a cobertura realizada pelo Saudações Tricolores até o título, não era somente pelo dever de informar, pois isso é inerente a qualquer veículo sério que pratique o bom jornalismo, tudo isso foi e é por elas.

Para criar interesse, é preciso conhecer. Afinal, ninguém se interessa por algo que nunca ouviu falar. O papel da informação, aqui, era esse: fazer com que a torcida jogue junto com um time que honra as três cores que traduzem tradição, que vibre com as suas vitórias e lamente suas derrotas, que cobre resultados e investimentos.

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É sobre elas: as campeãs – que seriam merecedoras destas mesmas palavras ainda que não tivessem sido. É sobre todas as barreiras que elas superaram para chegar até o topo do país. Sobre a entrega nos mais de 1040 minutos jogados debaixo de sol e o foco no título após uma derrota que poderia dar fim a um sonho.

Comemorando a vaga na semi-final. Foto: Adriano Fontes/CBF

O Fluminense chegou desacreditado por todos, o tal do “trabalho de escolinha”. Ainda por cima caiu em grupo com São Paulo, Grêmio e Corinthians. As paulistas têm longa tradição no futebol feminino: o time do Parque São Jorge já venceu uma Libertadores, é bicampeão brasileiro na categoria de cima e hoje tem Tamires, lateral da seleção, na equipe; o tricolor paulista foi vice campeão do Brasileirão Feminino sub-18 em 2019 e em no de 2020 só perdeu seu primeiro jogo na volta da semifinal; a camisa já foi envergada por Sissi e Katia Cilene. O Grêmio se assemelha um pouco mais ao Flu, mas tem mais tempo, já venceu um estadual e está na série A1.

Diante de equipes supostamente melhores, nossas Guerreiras surpreenderam. Atuações consistentes, defesa sólida e ataque eficiente. Assim avançaram para a segunda fase, quando caíram novamente com as são paulinas, além de Ferroviária e Avaí Kindermann – que, pasmem, também possuem mais histórico que o Flu na modalidade. Na semifinal, deram um banho de futebol nas Sereias da Vila, que jogavam em casa. Na final, banho de maturidade e psicológico em qualquer um que as assistiu.

Ou vocês acharam que Kailane, que caiu no choro quando o juiz apitou o fim do jogo, teria calma pra fazer uma das melhores cobranças do time? Que Ravena pegaria o pênalti decisivo quando ainda estava 3 a 3? Que Lara Dantas, nossa camisa 10, nos seus 15 anos de idade, teria a frieza para converter a primeira penalidade? Que Kethilyn e Núbia, nossa dupla de zaga, acertariam suas cobranças após 4 gols sofridos nos 80 minutos?

Com toda a sinceridade, eu duvidei. Não por desconfiança na qualidade de cada uma, muito menos por desconfiança no trabalho, mas por medo de que aquela trajetória fosse acabar com um final feliz para outras pessoas. O cenário não era favorável para as nossas meninas, mas o triunfo delas me fez lembrar do seguinte: nunca duvide do Fluminense. 

Taça do Brasileirão na Sala de Troféus do Flu. Foto: Mailson Santana/FFC

Pesou a camisa, pesou o trabalho, pesou a dedicação de cada uma ao longo da preparação e do campeonato. O mérito é, sem sombra de dúvidas, todo delas, mas tenho certeza que, em algum lugar do Beira Rio, Gravatinha e João de Deus torciam por elas. Pela primeira vez, por elas. Sabiam que torcer era o suficiente, pois o resto nossas Guerreiras fariam.

Naquela noite, o Beira Rio era verde, branco e grená; a comemoração era com pó de arroz; a bandeira estendida, a do Fluminense Football Club e o hino que tocaria na premiação, o mais bonito de todos.

Orgulho demais dessas jogadoras que, tão novas, já me ensinaram tanto e, em tão pouco tempo, já nos mostraram do que são capazes. Temos um futuro brilhante no futebol feminino. Que a nossa torcida siga acompanhando elas, porque a sementinha já foi plantada e nós, por aqui, continuaremos regando. A história está só começando.

Vence o Fluminense, o campeão do Brasileirão Feminino sub-18 de 2020!

 


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