LEONARDO BAGNO – O nome dela é Fluiza
Liguei a televisão despretensiosamente para ver o jogo de volta, válido pela semifinal do Campeonato Brasileiro feminino sub-18, contra o Santos. O que eu vi me fez refletir sobre a minha relação com o futebol e com o Fluminense.
Isso porque eu vi um time formado por meninas abaixo dos 18 anos muito bem organizado em campo, aguerrido e com qualidade técnica. Jogadas bem criadas; dribles objetivos e, ao mesmo tempo, desconcertantes; e chutes certeiros (três deles uma pintura que resultaram em gols).
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Além disso, eu vi nelas o que me faz ir ao Maracanã duas vezes por semana: paixão pelo Fluminense.
Que alegria ver meninas adolescentes, iniciando a vida adulta, defendendo as cores do Fluminense com orgulho, como se estivessem na arquibancada, empurrando o time profissional para o gol derradeiro, que decreta a nossa vitória.
Ravena, Andressa, Tarciane (uma monstra!), Núbia, Sabrina, Luany, Luiza, Carolina, Lara, Leandra, Kailane, Rayssa, Kethilyn, Larissa, Duda Calazans, Duda Cerqueira, Luana e Sandrielly.
Meninas-mulheres que vestiram a camisa do Fluminense na Vila Belmiro, num sábado de manhã, e me fizeram lembrar de Castilho e Preguinho.

Castilho que amputou parte de um dedo para continuar defendendo o Fluminense imediatamente, sem precisar se ausentar dos campos para recuperar-se de uma lesão justamente no dedo que se foi.
Aliás, fato que foi noticiado por um dos veículos que representam até hoje a grande mídia com a seguinte manchete: “O futebol vale um dedo”.
Não, não é o futebol que vale um dedo. É o Fluminense, seus canalhas!
E não só um dedo. O Fluminense vale tudo, inclusive abrir mão de salário, quando o futebol se profissionalizou, como fez Preguinho – autor do primeiro gol da seleção brasileira em Copas do Mundo – em 1933.

Preguinho que, em 1925, nadou 600 metros pela equipe do Fluminense, ajudando a equipe tricolor a conquistar o tricampeonato estadual de natação, e pegou um táxi para ir direto para as Laranjeiras, pois ele tinha que entrar em campo contra o São Cristóvão para ser campeão do Torneio Início daquele ano.
Tudo isso foi desencadeado por conta da atuação dessas meninas-mulheres em campo e, em especial, pela declaração da Luiza Travassos, autora do gol mais bonito do jogo, para o SporTV (que transmitiu a partida) após a vitória.
Luiza, aos prantos, disse que é muito bom ver – e viver – tudo o que estava acontecendo naquele momento: a vitória, o sentimento de que estão no caminho certo, os desafios assumidos, os preconceitos vencidos e a alegria de fazer tudo isso vestindo a camisa do Fluminense. Interpelada pelo repórter de onde vinha toda aquela emoção, respondeu de bate-pronto: – Eu sou tricolor de coração.
Que tristeza constatar que o futebol profissional se distanciou dessa paixão, dessa conexão jogador-instituição-torcida. Que chama torcedor de consumidor (nunca vi manifestação na sede da Coca-Cola, pedindo a cabeça do CEO, por ter vendido menos do que a Pepsi no exercício que se findou).
Quando vejo um jogador entrar em campo com a camisa do Fluminense, eu me enxergo em campo, lutando e defendendo as nossas cores. Por isso que exijo dele o que eu faria se lá estivesse. Afinal, se eu faria isso de graça, imagina recebendo!
Carrinho de cabeça, rompimento musculares por acreditar até o fim, chutes com a intenção de, caso não seja gol, levar a óbito o goleiro, porrada em juízes como o de quinta passada e conquista de títulos. É isso que eu espero de jogadores que vistam a camisa do Fluminense. Nada menos do que isso.
Hoje eu me vi representado pelas meninas-mulheres do sub-18.
Portanto, Luiza, obrigado por existir, por ser Fluminense e por declarar para todos o amor que sentimos por ele. Somos todos tricolores de coração. É por Ele que estamos aqui. É por Ele que nos emocionamos. É por Ele que lutamos, vivemos e ficamos radiantes após vitórias como a dessa manhã.
A Luiza ficou preocupada por estar feia ao chorar e declarar seu amor ao Fluminense para o Brasil inteiro. Eu discordo. Ela nunca foi tão linda na vida dela. Inclusive, para mim, a partir de hoje, ela se chama Fluiza.
Seremos campeãs!
Saudações Tricolores,
Leonardo Bagno