Era para Miguel festejar o título no Sub-17… Pouco aproveitado, meia perde oportunidades de desenvolvimento

Compartilhe

Pela pouca idade, o meia Miguel poderia estar reforçando o time Sub-17 do Fluminense. E se assim estivesse, a jovem promessa tricolor, estaria festejando o título do Brasileiro da categoria, conquistado na última segunda-feira (21). Além de receber outras oportunidades nas seleções de base — o que era corriqueiro na carreira do jogador.

Contudo, por razões contratuais, o jovem talento segue entre os profissionais, onde tem recebido pouquíssimas oportunidades. Entre os profissionais, Miguel não tem mais conseguido se destacar, a ponto de receber mais oportunidades no time de cima.

Aos 17 anos, o meia poderia, e deveria, estar jogando ao lado de Arthur, Kayky, Metinho e Matheus Martins, principais nomes do Flu na vitoriosa campanha no Brasileiro Sub-17. Ou ainda figurando como um dos principais nomes do sub-20, ao lado de Wallace, Gabriel Teixeira, Gabryel Martins, Miguel (seu xará), Samuel e John Kennedy, por exemplo. E, com uma sequência de jogos, hoje poderia até estar com mais chances no time de cima. No entanto, ao invés disso, o jovem jogador entrou em campo apenas uma vez nos últimos 15 jogos do time principal.

Você conhece nosso canal no YoutubeClique e se inscreva! Siga também no Instagram

Miguel teve um começo promissor entre os profissionais. Talvez esse início é que hoje traga a falsa sensação de que o atleta é preterido por questões extracampo e não pelo seu desenvolvimento no dia-a-dia. A falta de jogos destoa do início do jogador que, com apenas 16 anos e 73 dias, se tornou o mais jovem a vestir a camisa do Flu na era profissional.

Subida aos profissionais

Em março de 2019, o então treinador tricolor Fernando Diniz, com muitos desfalques para a partida diante do Cruzeiro — pelo jogo de ida das oitavas-de-final da Copa do Brasil —  relacionou o meia Miguel. Essa foi a primeira vez da joia entre os profissionais. Na ocasião, por diversas razões, Diniz não podia contar com Yuri, Guilherme, Pedro, Léo Santos, Digão, Bruno Silva, Paulo Ricardo, Airton e Mascarenhas.

Miguel sempre foi considerado uma das principais joias da base. Ele, a exemplo de Arthur, pulou do sub-15 para o sub-17 e se destacou. Se hoje Arthur é titular do time campeão brasileiro, Miguel anotou 41 gols em 87 partidas, quando esteve por lá, e era constantemente convocado para as categorias de base da seleção, onde chegou até a disputar o Slu-Americano Sub-17 (mesmo com 15 anos).

Sua estreia nos profissionais aconteceu aos 44 minutos do segundo tempo do jogo de volta contra o Cruzeiro, quando Diniz ousou ao colocar um garoto de apenas 16 anos e que ainda sequer havia assinado o primeiro contrato profissional. Sobretudo em uma partida de oitavas-de-final da Copa do Brasil, com o time precisando marcar. E a aposta do treinador deu certo. O garoto teve participação no golaço de bicicleta de outro Moleque de Xerém, João Pedro.

Desde então, Miguel vem queimando etapas no Fluminense. Para garantir a permanência do meia, a diretoria tricolor teve de aceitar uma exigência do pai e representante do jogador, o advogado José Roberto Lopes, que pediu a subida imediata do filho para o elenco profissional. A assinatura do primeiro contrato ocorreu no apagar das luzes da gestão Abad.

A jovem promessa ainda entrou no decorrer de mais três jogos em 2019. E, em 2020, realizou a pré-temporada junto com os profissionais em vez de disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, por exemplo. Mais uma vez, o jovem talento ficou “apenas” treinando enquanto seus companheiros disputavam a principal competição da base brasileira.

Bom início de Miguel no Fluminense em 2020

Enquanto o técnico Odair Hellmann não podia contar com alguns reforços e com Paulo Henrique Ganso, que precisou de uma preparação estendida, Miguel chegou a ser bastante utilizado.

A habilidade, a velocidade e, sobretudo, a boa leitura de jogo o transformaram em uma arma contra as retrancas impostas pelas equipes de menor investimento no Cariocão. E o jovem não demorou a se tornar um xodó da torcida tricolor.

Contra a Portuguesa, por exemplo, Miguel participou do segundo gol do Fluminense, marcado por Gilberto. Além disso, o garoto brincalhão ainda chamou Nenê de “avô” durante a entrevista.

Se não balançou as redes, o meia contribui com assistências. Foram quatro no Campeonato Carioca. O terceiro com mais passes para gol no Tricolor durante o Estadual.

Contudo, o próprio Odair Hellmann tratou de frear a empolgação com o jovem talento. De acordo com o treinador, o menino ainda precisava passar por um tempo de maturação.

É um menino de muito talento, 16 anos, talentoso, ainda em processo de transformação física. (Precisamos) tomar cuidado porque o jogo é técnico, mas ele tem imposição física também. Que bom que está conseguindo passar por esse processo já amadurecendo, principalmente o físico. O que tenho conversado com ele é que faça o processo gradativo, com calma, no que puder vou ajudar. Mais um talento da escola de Xerém. Mas vamos com calma“, disse o treinador ainda em Fevereiro.

Poucas oportunidades no Brasileirão

Números de Miguel em 2020
Além dos 14 que disputou, Miguel permaneceu no banco de reservas em mais 27 jogos na temporada 2020. Ou seja, Miguel fez parte da relação em 82% das partidas, mas só atuou em 11,2% dos minutos regulamentares (Arte: Lucas Meireles)

Desde que o Fluminense voltou a jogar durante a pandemia da COVID19, as chances de Miguel tem sido cada vez mais raras. Contando a reta final do Cariocão, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, por exemplo, o meia entrou somente em seis partidas. Foram apenas 68 minutos em campo. Realidade distante dos 436 minutos nos oito jogos no início do ano, somando Campeonato Carioca e Copa Sul Americana.

Miguel, Ganso e André treinando no Fluminense
Embora seja talentoso, diferença na musculatura de Miguel para o restante do elenco é visível (Foto: Reprodução/Fluminense Football Club)

Muitos dos jornalistas que cobrem o Flu diariamente, além de fontes ligadas ao clube, também relatam que o jovem não consegue mais impressionar no dia-a-dia. Os maiores motivos são o corpo franzino de menino e o fato do jogador não estar mais conseguindo desenvolver as jogadas que tanto impressionaram. A isso, atribuem à falta de ritmo de jogo e a subida precoce da joia aos profissionais, pulando etapas do desenvolvimento do atleta como um todo.

O repórter Victor Lessa, das rádios Globo e CBN e um dos principais setoristas do clube, ainda esclarece o boato de que o treinador Odair Hellmann teria se desentendido com o pai do atleta. E, por isso, esse não escalava o jovem.

“Apurei algumas coisas sobre a situação do Miguel. O pai do garoto exigiu que ele fosse para o elenco profissional para renovar o contrato? Sim! Ele teve atritos com a diretoria? Sim! É uma pessoa de temperamento difícil? Sim! Porém, não há qualquer problema ou desentendimento entre ele, Odair Hellmann e diretoria do Fluminense. Não procede que ele tenha feito exigência para o garoto jogar. Claro que ele está insatisfeito por Miguel não estar atuando, o que é normal. Mas, nada que interfira no aproveitamento atual de Miguel. Inclusive, o técnico Odair Hellmann se reuniu recentemente com o pai de Miguel, no CT Carlos Castilho, para falar do jogador. Conversa amigável”, afirmou.

O jornalista ainda esclarece o motivo do meia não estar atuando pelo Tricolor no Campeonato Brasileiro.

A realidade é que hoje Miguel disputa vaga com Nene e Ganso, dois jogadores rodados e experientes. Fisicamente, ainda é muito frágil e sofre contra times mais fortes fisicamente, como foi com o Grêmio, na estreia. Quase não conseguia tocar na bola. Ele está sendo preparado para ser mais utilizado. Odair gosta do garoto e o quer em campo, mas no tempo correto, para que ele tenha condições de atuar em bom nível. Neste momento, Miguel não joga mais apenas por opção da comissão técnica, nada mais”, encerra Lessa.

Prejuízos ao desenvolvimento do atleta

O meia Miguel segue como segundo jogador mais valioso no elenco do Fluminense. De acordo com o site Transfermarkt, o Moleque de Xerém tem está avaliado em € 3,2 milhões de euros (cerca de R$ 20 milhões de reais, na cotação atual). Vale lembrar que o meia possui contrato com o Flu até 2022 e uma multa rescisória de R$ 160 milhões.

No entanto, a escassez de jogos pode acabar estagnando a carreira do jovem atleta. Em 2020, o Tricolor iniciou o projeto do time Sub-23, que inclusive está nas semifinais do Brasileiro de Aspirantes. Mas, por força de contrato, Miguel não pode defender o Fluminense na competição.

Como dito antes, o jogador também poderia ter feito parte da Geração de Ouro do Sub-17, cujos meninos hoje enchem a torcida tricolor de esperança. Porém, a expectativa de ver uma dupla de meias com Miguel e Arthur vai ficar só na imaginação dos torcedores.

A falta de jogos também diminuiu a visibilidade do meia. O jogador, que era constantemente convocado, e que chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira na edição 2019 do Sul Americano Sub-17, passou a não ser mais lembrado pelos técnicos que passaram pela categoria na Amarelinha.

Miguel não esteve em nenhuma das duas convocações do Brasil em 2020. Diferentemente de Arthur, convocado em Novembro. O atual técnico, Paulo Victor Gomes, aliás, esteve na Arena da Baixada para acompanhar a final do Brasileiro Sub-17. Enquanto que o congolês naturalizado brasileiro, Metinho Silu, chegou até a ser convocado para treinar com a Seleção Brasileira principal.

Por outro lado, vemos atletas da base chegando e assumindo papéis importantes no time principal. Martineli, Calegari, Luiz Henrique e André, por exemplo. Embora pertencem à uma geração acima de Miguel, quando subiram, se tornaram realidade e verdadeiras opções no elenco principal e todos vêm conquistando seus espaços e agradando aos torcedores e comissão técnica.

Brigas por posição

Por enquanto, a expectativa é de que a situação do camisa 30 não se altere tão cedo. Desde que reassumiu o comando técnico, a exemplo de seu sucessor, Marcão tem deixado a jovem promessa apenas no banco de reservas. O meia ainda não atuou no time do ex-volante.

Atrás na disputa por uma vaga no time, Miguel, em tese, disputaria uma vaga com jogadores mais experientes como Nenê e Ganso. Como também acaba brigando com Marcos Paulo e Michel Araújo.

Miguel e Nenê na partida contra a Portuguesa
Aos 39 anos, Nenê é o jogador mais velho do elenco do Fluminense, enquanto que Miguel, aos 17, é o mais jovem (Foto: Reprodução/Fluminense Football Club)

Se consideramos o esquema utilizado, o jovem ainda disputaria ou uma posição no tripé no meio ou com os pontas de ofício como Luiz Henrique, Wellington Silva, Caio Paulista e Pacheco, por exemplo, que jogam mais abertos e fazem a recomposição defensiva. Assim, a disputa passa, por além de questões técnicas — o que não se discute aqui — também por questões físicas. E Miguel, hoje, está um passo atrás de seus companheiros de elenco.

Ninguém duvida das atribuições técnicas e do talento do camisa 30, pois isso ele já demonstrou. Jogar na base é diferente, evidente. Os treinos também. Hoje, era muito melhor – para a carreira e desenvolvimento pessoal do atleta –  Miguel estar comemorando o campeonato Brasileiro sub-17 e se preparando para as quartas da Copa do Brasil. Ou ainda, era para o menino estar se preparando para a disputa do Fla x Flu,pelo Brasileiro Sub-20 ou para as semifinais no Sub-23. Era para Miguel estar jogando duas vezes por semana, era para o meia estar sendo convocado para as Seleções de Base. Enfim, era para o garoto estar jogando e não viajando pelo Brasil para ficar no banco de reservas. 

ST

Lucas Meireles e Pedro Rangel


Compartilhe

Lucas Meireles

Jornalista formado pela UFRRJ, apaixonado por esportes e pelas boas histórias.