Carioca: do luxo ao lixo!
Houve um tempo em que o Campeonato Carioca era a grande prioridade entre os grandes clubes da cidade. O torneio constava com grandes jogadores, bastante público e muita emoção. Afirmo que foi um torneio que nos deu grandes momentos – e grandes ídolos. Não é mais o que vemos nos dias de hoje: temos um campeonato remoto, pouco atrativo, sem presença de público e com muitas polêmicas, mas MUITAS polêmicas mesmo!
Podemos dizer que até os anos 90 o Carioca era um grande campeonato, onde os clubes davam seu máximo para ganhar – não é que não o façam hoje, mas não há a mesma importância (histórica, competitiva… e por aí vai). A partir do século XXI, o campeonato passou a colecionar grandes polêmicas quase que ano a ano. Muitas reclamações, principalmente relacionadas à arbitragem, foram feitas por todos os times . Além disso, polêmicas como regulamentos confusos e falta de transparência também são pontos constantes nos campeonatos realizados pela Federação Carioca.
Em 2000, Tuta fez um gol irregular na decisão. Em 2001, os vascaínos reclamam do histórico gol de falta de Petkovic, pois não teria sido falta em Beto. No ano seguinte, nosso centenário, o Carioca ficou conhecido como Caixão 2002 – em referência ao antigo presidente da FFERJ, Caixa D’água. Batemos o Americano – que tinha ganhado os dois turnos -na final, mas nossos rivais abandonaram o clube – apesar do Flamengo ter perdido com time titular. O torneio foi tão “fraco” que nem transmissão da Globo teve.
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Em 2003, após a volta do televisionamento, esperava-se um clima mais ameno. Não foi bem o que aconteceu. Os clubes discutiram sobre suspensão (relacionadas aos cartões amarelos) e demoraram para entrar em consenso. Uma partida, entre Bangu e Cabofriense, teve o horário antecipado, com pretexto de se economizar energia. Acontece que, sem ampla divulgação, alguns torcedores chegaram no estádio só à noite e o jogo já tinha acontecido. Em fevereiro, Fluminense e Botafogo acionaram o Vasco na Justiça. Ambos os clubes queriam os pontos do jogo com o rival, alegando que o atacante Valdir (aquele mesmo, do bigode) estava escalado de forma irregular. O TJD julgou tudo como procedente, mas o caso não foi adiante. Ainda houve um polêmico arbitral (alguma semelhança com os dias atuais?), para decidir sobre as partidas atrasadas do Americano. No final do torneio, acabamos sendo vice-campeões para o Vasco, que chegou na decisão “roubado”, pois, na semi-final, não houve um pênalti marcado para o Flamengo.
Em 2005, o Flu foi campeão em cima do Volta Redonda. O time da Cidade do Aço reclamou bastante do primeiro gol tricolor no segundo jogo da final – Tuta teria feito falta em Lugão. Em 2006, o América voltava a figurar numa final de turno depois de anos no ostracismo. Encarou o Botafogo na final da Taça Guanabara, abrindo o placar no começo da partida. O jogo terminou em 3-1 pro Botafogo, mas poderia ter sido diferente: o árbitro teria ignorado um pênalti claro de Max (goleiro do Botafogo) em Robert (atacante do América), quando o jogo estava 1-0 para o América.
Em 2007, polêmica na final: Dodô recebeu em posição legal e fez o gol. O árbitro, porém, marcou impedimento do atacante alvinegro e lhe deu um cartão amarelo. Como Dodô já estava amarelado, foi expulso. O gol daria a vitória ao Botafogo.
Em 2008, mais polêmicas. Começou na final da Taça Guanabara, no episódio conhecido como “Chororô”. Os jogadores do Botafogo choraram no vestiário após a derrota para o Flamengo. O motivo? Alegaram que o pênalti marcado para o time rubro-negro foi inexistente. . Os botafoguenses também reclamaram de um gol mal-anulado de Zé Carlos na final.
Pensa que acabou? Não mesmo…. Em 2010, o Vasco reclamou de um pênalti não marcado na semi-final da Taça Rio (dai surgiu o meme: Willians jogando vôlei). Em 2013, na semi-final da Taça Guanabara, os rubro-negros reclamaram de um pênalti não marcado após a bola bater na mão de Marcello Mattos. Em 2014, o Vasco foi prejudicado por duas vezes. E uma delas foi uma das maiores bizarrices na história do futebol. O auxiliar Rodrigo Castanheira, que estava há poucos metros do gol, olhando para a bola, não viu que a pelota entrou por 33 cm após cobrança de falta de Douglas. Na final do campeonato, Márcio Araújo fez o gol do título, impedido, no último minuto. O episódio marcou uma famosa fala do goleiro Felipe, do Flamengo: “Roubado é mais gostoso”

Em 2015, Fred protagonizou um momento épico. O camisa 9 foi expulso após sofrer uma falta num Fla-Flu. O árbitro marcou mão do atacante, aplicando o segundo amarelo. E Fred, com ódio no coração, soltou: “Gente, acaba o Carioca, o Carioca tem que acabar!”
O campeonato de 2015 também ficou marcado por polêmicas entre Flamengo e Vasco. Em semi-final de turno, os rubro-negros reclamaram do pênalti marcado para o Vasco. E também que Gilberto, que fez o gol, não levou o segundo amarelo na comemoração com os torcedores. Em 2016, a FFERJ ignorou a tentativa dos clubes de criar a Primeira Liga e marcou jogos do Carioca para o mesmo dia da estreia da nova competição.
Em 2017, os rubro-negros reclamaram de novo de um pênalti marcado para o Vasco, que empatou o jogo graças ao mesmo. Além disso, no segundo jogo da final, o Flamengo teve um gol irregular: Réver fez falta em Henrique na hora de cabecear. E o árbitro Wágner Nascimento pareceu comemorar o lance. O Flamengo foi campeão sem ganhar um turno (regulamento confuso)
Em 2018 os turnos novamente não serviam para absolutamente nada. Tanto que Fluminense e Flamengo, campeões das Taças Guanabara e Rio, não jogaram a final, composta por Botafogo e Vasco.
No ano passado, a final da Taça Guanabara aconteceu de forma bizarra, com a Federação claramente tomando um lado em relação ao mando de campo. O Fluminense, por contrato, tinha as arquibancadas Sul garantidas. Mas o Vasco, mandante da partida, começou a vender ingressos para aquele setor. Foi tão bizarro que não foram vendidos ingressos para a torcida do Fluminense, só para a do Vasco. Uma decisão judicial obrigou os clubes a jogar com portões fechados, mas a torcida vascaína invadiu o Maracanã, ainda no primeiro tempo. E viram, sozinhos, o time ser campeão. Além disso, num Fla-Flu, Marcelo de Lima Henrique confere o gol de Matheus Ferraz no VAR e dá falta inexistente para anular o tento tricolor.
Por fim, nesse ano a FFERJ se superou. Ficou forçando para o campeonato, sucateado e sem atração, voltar durante essa loucura em que vivemos, mesmo com + de 1000 mortos por dia. Vale ressaltar ainda que Rubens Lopes, presidente da federação, é MÉDICO INFECTOLOGISTA. Foi criado um protocolo, pasmem, com nome “Jogo Seguro”. Esse mesmo protocolo foi desrespeitado JÁ NO PRIMEIRO jogo e a federação alega “que não deu tempo” para o Flamengo se concentrar (se era para seguir o protocolo, porque o jogo foi marcado numa data em que não daria tempo de concentrar?). Há um descaso e grande desrespeito com quem perdeu a luta para o coronavírus. E também para quem ainda está lutando contra o mesmo. Os caras não estão nem aí! O Carioca voltou antes da LIGA ITALIANA! E agora terá público a partir do dia 10 do mês que vem.
Vale destacar que o texto estava pronto, mas precisei inserir esse parágrafo aqui: o motivo? O pênalti do jogo de hoje (28/06) entre Botafogo e Cabofriense. Uma verdadeira atrocidade. O Botafogo foi contra o posicionamento da FFERJ desde o começo e tem um erro crasso (contra) logo no primeiro jogo. Indício?
Para finalizar, faço questão de exaltar o charme do que o Campeonato Carioca foi um dia. Sem ele, não teríamos ganhado a primeira decisão contra a dissidência. Também não haveria o Fla-Flu da Lagoa, o Fla-Flu “de 200 anos”, o Carrasco, o tri dos anos 80 e até mesmo a eterna dor de barriga causada por Renato. Mesmo sucateado, com uma federação que só atrapalha (todo jogo no RJ tem uma % de bilheteria para essa máfia chamada FFERJ), o Carioca tem seu charme. Se vencer, é obrigação. Se perder, todo mundo fica puto. É bizarro pensar que, em menos de 25 anos, o Campeonato Carioca foi do luxo…. ao lixo!
A história mostrará quem estava do lado certo.
ST!