Aliciamento de jogadores. Onde fica o limite ético dos clubes
“Ou o Flamengo paga, ou retira a proposta”. Essa declaração foi dada por Itair Machado, vice-presidente de futebol do Cruzeiro, na ocasião em que o Flamengo estava em cima de Arrascaeta, seu jogador, numa participação em um programa do canal de TV fechada Sportv. Na época, ele chegou a dizer que abriria uma “guerra” contra o Flamengo, inclusive buscando falar com os pais dos jogadores de base do time.
Para quem não se lembra, o Flamengo primeiro entrou em contato com os representantes do atleta e chegaram a um acordo salarial. A partir daí, o uruguaio passou a pressionar a equipe mineira para a sua liberação. E essa negociação colocou novamente em evidência a questão do aliciamento de jogadores, o que é vedado pela FIFA. Mas não vemos punições por aqui.
Existem normas, tanto da CBF quanto da FIFA, que regulamentam essa questão de transferências. Eduardo Carlezo, em entrevista à Rádio Globo, detalhou o assunto, no programa Domingo + Esportivo, com o jornalista Vinicius Moura. Confira o que ele disse:
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– Um clube interessado em contar com os serviços de um atleta, que tenha um contrato em vigência, deve obrigatoriamente informar à esse clube sobre o interesse em contratar o atleta. E a partir daí iniciar uma negociação com ele. Infelizmente essa regra é muito pouco respeitada pelos clubes atualmente – conclui Carlezo.
A única exceção do caso é quando o jogador em questão tem contrato por vencer em menos de seis meses. Em todos os outros casos, o regulamento da FIFA é claro no que tange transferências de atletas. A FIFA exige, veja bem, EXIGE que as negociações sejam feita de clube para clube. Mas, aqui no Brasil, as normas não recebem o devido respeito no meio. O Cruzeiro chegou a notificar a CBF, através da Federação Mineira de Futebol. sobre o assédio do Flamengo no caso. Inicialmente o caso seria julgado pelas autoridades brasileiras, mas poderia ter acabado na FIFA, em caso de recursos das partes. Como acabou saindo um “acordo”, na casa dos R$ 60 milhões, o caso parou por aí.
Cruzeiro já esteve do outro lado quando tirou Gustavo, zagueiro de 16 anos do Flu, e tentou tirar Lucas Pratto do São Paulo. E o São Paulo foi de vítima a vilão. Sofreu também com a investida do Inter, que acabou levando Oscar (depois fecharam um acordo em 15 milhões) e por conta de sua conduta, 10 equipes ameaçaram não participar de um torneio de base, caso o São Paulo participasse. Isso porque o time paulista não teria cumprido com um acordo de não se procurar jogadores menores de 16 anos – que ainda não possuíam contrato de formação.
Já na Europa, Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid, por exemplo, já foram punidos pela FIFA por não cumprirem com as normas de transferências, e terem contratado estrangeiros menores de 18 anos. Contudo, alguns especialistas informam que não há registros de punições para clubes por aliciamento de jogadores profissionais. João Henrique Chiminazzo, outro advogado especialista em direito esportivo analisa:
– Como os clubes, após esse primeiro contato, acabam chegando a um acordo, a operação acaba de concretizando e por isso que os casos não são levados adiante.
Veja alguns dos clubes que já foram punidos pela FIFA:
Real Madrid
O clube merengue foi impedido de fazer contratações durante toda a temporada de 2016, por violar várias disposições relativas às transferências internacionais e ao primeiro registro de menores de idade. A multa aplicada pela FIFA foi de 360 mil francos suíços. (AP)
Barcelona
Em 2014, o Barcelona foi punido com um ano sem fazer transferências por causa de problemas na contratação de jogadores menores de idade. Para a FIFA, os catalães infringiram regras relacionadas à transferência internacional e ao registro de jogadores abaixo de 18 anos não-espanhóis. Além de não poder se reforçar, uma multa de 450.000 francos suíços foi cobrada. (AP)
Chelsea
Em 2009 o Chelsea foi proibido de contratar novos jogadores por duas janelas de transferências no mercado europeu. A FIFA considerou o clube londrino culpado por induzir o atacante francês Gael Kakuta a romper com o Lens em 2007. Além de não poder negociar atletas, os Blues tiveram que pagar uma compensação financeira de 130 mil euros ao adversário. E também sobrou para o jogador: Kakuta, que atuava no time B do Chelsea, ficou proibido de disputar jogos oficiais, além de ter que pagar uma multa de 780 mil euros. (AP)
Gil Vicente
Em 2008, o Gil Vicente jogava a divisão de elite portuguesa e foi punido por outro tipo de aliciamento. Ameaçado pelo rebaixamento à segundona, o vice-presidente do clube, Afonso Ferreira, entrou em contato com dois jogadores do Olhanense e ofereceu 5 mil euros a cada um deles para fazerem corpo mole na partida, além de informar que estava interessado em contratá-los para a próxima temporada. Resultado: o clube foi punido com a perda dos três pontos da partida contra o Olhanense, acabou rebaixado, pagou uma multa de 17 mil euros e o cartola ficou suspenso por dois anos. (AP)
Cruzeiro
Em 2007, o clube mineiro ficou impedido de contratar por duas janelas de transferências. A FIFA aceitou a acusação do Krylia Sovetov, da Rússia, de que a Raposa teria induzido o zagueiro Moisés a romper o seu contrato, em 2004, para se transferir para a equipe celeste. (Gazeta Press)
Liverpool
Um dos grandes do futebol inglês, o Liverpool está proibido de contratar jogadores da base de outros clubes ingleses até 2019. Isso porque o time da terra dos Beatles teria aliciado um jovem de 12 anos das categorias de base do Stoke City. Para seduzir o jovem talento, o clube teria oferecido pagar uma escola particular para o garoto, o que foi considerado crime pela Federação Inglesa. (AP)
Manchester City
Novo rico do futebol mundial, o Manchester City resolveu buscar jovens jogadores em outras equipes. Algumas das investidas foram no Everton, de onde garotos de 11 e 15 anos foram contratados. A Federação Inglesa não gostou nada da forma de negociar dos Citizens, proibiu o clube de assinar com jogadores de base por um ano e ainda aplicou uma multa de 300 mil libras. (AP)
Olympique de Marselha
Em 1993, um time francês surpreendia a Europa. O Olympique, de Fabien Barthez, Didier Deschamps, Marcel Desailly e outros, sagrou-se campeão do continente batendo o tradicional Milan. O presidente foi acusado de arranjar uma partida diante do Vallencienes querendo a vitória e pedindo que o adversário tomasse cuidado com os atletas do seu time, já que em poucos dias disputariam a final da Liga dos Campeões. Descoberta a fraude, o clube perdeu o direito de disputar a final do Mundial contra o São Paulo e foi excluído da competição continental no ano seguinte. (AP)
São Paulo
Sempre forte nas categorias de base, o São Paulo sempre foi acusado pelos rivais de aliciar jovens jogadores. Não chegou a ser punido oficialmente por nenhuma entidade, mas em 2013, clubes brasileiros decidiram boicotar torneios das divisões de base como protesto pela suposta forma de agir do Tricolor, começando pela Copa 2 de julho, tradicional torneio da categoria Sub-17 disputado em Salvador. (Gazeta Press)
Atlético de Madrid
Rival do Real, o Atlético de Madrid foi punido junto com os merengues também por violar regras de transferências internacionais e os primeiros registros de menores de idade. Ficou sem poder contratar na temporada 2016 e teve uma multa um pouco mais salgada que os rivais: 900 mil francos suíços. (AP)
O presidente Mário Bittencourt afirmou, em entrevista, que o Flamengo agiu corretamente, ao procurar a diretoria tricolor para tentar a contratação do Pedro. O presidente disse que os dirigentes do Flamengo garantiram não ter procurado Pedro diretamente, o que feriria as regulamentações impostas pela FIFA e CBF.
E apesar da negativa tricolor, o Flamengo promete incrementar a proposta oferecida, que segundo Mário não chegou nem perto da multa rescisória, e disse que não iria procurar diretamente o jogador. Vamos acompanhar e torcer para que a conduta ética seja observada, assim como o que reza as regulamentações da CBF e FIFA. Aguardemos.
ST
Fontes: Saudações Tricolores, Yahoo Esportes, Globo Esporte, Rádio Globo.