PEDRO RANGEL – Pois quem espera sempre alcança
“O que eu posso dizer é que está errado o que os clubes brasileiros estão fazendo. Até onde sei, estão trazendo treinadores para uma semana, um mês, três meses… É preciso aceitar que, no futebol, há coisas que você precisa fazer: trabalhar duro, trazer jogadores, permitir que trabalhem juntos e possam ter desempenho juntos. Isso leva tempo. Se você não dá tempo, não consegue nada. Eu não sei como funciona, mas sei que, desta forma, não funciona. A pressão que estão colocando nos treinadores é enorme. É preciso sentir o time, trabalhar com ele e isso não se dá em uma semana, em um mês, nem em um ano. Esteja convencido do cara que você contratou e dê a ele tempo.”
Abrimos o texto desse domingo com a declaração de Jürgen Klopp, o técnico alemão do Liverpool, o comandante de um dos melhores “futebol” do mundo da atualidade. Em entrevista dada ao Esporte Interativo, o craque do banco inglês fez uma análise fria das coisas que acontecem aqui no Brasil, o que significa que ele nos acompanha de perto.
Bom, mas e o que isso tem a ver conosco? Simples: o alemão, no início de seu trabalho lá, foi apoiado e teve as suas convicções bancadas pela diretoria e parte da torcida. E é exatamente esse o ponto que abordamos hoje. E olha que ele assumiu o Liverpool, um dos clubes mais ricos do mundo, e teve campanhas desastrosas nos seus primeiros passos na terra onde nasceu o futebol. Foram 3 começos de temporadas seguidas, em que o time dele não conseguiu emplacar resultados. Na primeira, Klopp só conseguiu levar seu time até a oitava posição (a 21 pontos do campeão) e perdeu a Copa Sul-Americana de lá, a Europa League, para um modesto Sevilla – com investimentos e receitas infinitamente menores.
Já em sua segunda temporada, nos 10 primeiros jogos, o Liverpool só ganhou 1. Isso mesmo, 1 jogo! E, como se não bastasse tamanho desespero, caiu em uma copa inglesa, logo em seu início. Para se ter uma ideia, seria como se o Juventude, time da terceira divisão, nos eliminasse da Copa do Brasil. Na terceira temporada, o time além de não conseguir deslanchar – mas já com sinais de evidente evolução – Klopp foi goleado por 2 vezes, por Manchester City e Tottenham. Mais uma vez, bancaram o treinador por lá. O resultado? Hoje o Liverpool joga e encanta o mundo. Tem suas falhas, seus erros, mas joga bola pra “dedéu”, não à toa conseguiu meter 4 no Barcelona e protagonizar uma reviravolta antológica na Champions League.
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E isso é espelho para o trabalho de Diniz aqui no Flu sim, Ah, ele está a milhas de distância de Klopp, alguns dirão. E com prazer respondo: a milhas não… atrás no tempo de trabalho.
Nossa equipe acompanha sempre os treinamentos, direto do CT, e podemos afirmar, veja bem AFIRMAR, pelos nossos próprios olhos, que o cara trabalha! E muito. Diniz é perfeccionista, detalhista e estrategista. Põe “ista” nas características dele. Ele prima pela posse de bola, ocupação dos espaços e, sobretudo, por um futebol de toques. Não que ele seja contra os chutões, que muitas vezes se fazem necessários, e até vemos em campo. Mas, diferentemente de outros treinadores, Diniz não coloca seu time dando chutão para frente e brigando pela segunda bola para tentar construir alguma jogada. Isso nunca.
Outro ponto é que o Flu tem o domínio de quase a totalidade dos jogos que fez esse ano. Dificilmente o tricolor deixa o campo sem ter tido a maior posse de bola, o maior número e percentual de passes certos e, por mais que tenha gente falando que o time não chuta, com o maior número de finalizações. É uma constante. Mas, no Brasil, alguns “técnicos de sofá” começam a questionar o trabalho do cara, que só tem 5 meses de Fluminense, e vive um constante vai e vem de jogadores. A última foi a saída de Everaldo, e as chegadas de Yuri, Guilherme e Kelvin, Além de Nino, da saída de Ezequiel, Matheus Gonçalves, Ibañez, Nathan Ribeiro e por aí vai.
Não estamos defendendo cegamente Diniz, longe disso. Somos tricolores e estamos, literalmente, de “saco cheio” de insucessos em clássicos, e partidas decisivas. Queremos títulos (nosso último foi em 2016). Queremos voltar a sacanear geral nas segundas-feiras. Mas precisamos ter muita calma para entender esse nosso momento. Pela primeira vez, em anos, enxergo um Fluminense competitivo. E enxergo de tal maneira que vejo grandes possibilidade de passarmos pelo Cruzeiro, e avançarmos na Copa do Brasil. E vou além: acredito piamente que vamos conseguir. Temos tudo para isso!
Na linha de não defender cegamente, penso que nem todos os trabalhos são dignos de tolerância, pelos maus resultados, pelas circunstâncias e todo o resto. Mas a trajetória de Klopp no Liverppol traz consigo uma verdade absoluta que parte da torcida tricolor não acredita, ou não consegue enxergar, que é uma velha máxima popular: “a prática leva à perfeição”. Precisamos confiar e esperar a maturação desse sistema. Muitos falam do Atlético-PR e se esquecem que foi o Diniz que começou a implementar essa ideia por lá. Precisamos que a torcida compre esse barulho e se comprometa em apoiar o time nesse processo.

Temos jogado futebol. Ontem foram 23 finalizações, sendo 7 para o gol; 68% de posse de bola; 505 passes certos. Os caras finalizaram 3. A sensação que tive, saindo do Maraca, e conversando com o pessoal na zona mista, foi de que todos ali estão comprometidos. Todos estavam “putos” com o resultado. Dava para ver no semblante de quem passou, mas preferiu não falar. Dava para sentir nas palavras de quem falou conosco lá.
Os imediatistas de plantão só pensam no resultado. E quando se pensa somente no resultado a derrota, nada mais é, do que terra arrasada. Mas a vitória nunca é título. Temos que nos espelhar nessa ideia de longevidade do treinador, sobretudo num que pensa o futebol como Diniz, e seguir o exemplo do Liverpool. Temos que ajudar a construir, forjar, uma identidade do treinador com o clube e com as arquibancadas.
Ontem, ao sair da tribuna de imprensa, saí triste com o resultado. Mas com a absoluta certeza que chegaremos mais longe nesse campeonato, do que o time monocromático que achou seu gol num chutão, por exemplo. Saí com a certeza de que dias melhores virão. E que nossa torcida precisa aprender a acreditar. Não temos escolha. Ou é isso, ou é retroceder!
Então, caros tricolores, está no nosso próprio hino a sequência de nosso momento: “quem espera sempre alcança, clube que orgulha o brasil, retumbante de glórias e vitórias mil!… ”
O que é que eu sou?
ST
Pedro Rangel
Fotos by Marina Garcia/Saudações Tricolores