A VOZ DAS ARQUIBANCADAS – LARANJEIRAS
Seria maravilhoso se tivéssemos isso…
Um fim de tarde preguiçoso no eterno Maracanã, um pai e seu filho assistem aos últimos minutos de um igualmente arrastado jogo do seu Fluminense contra mais um clube sem história. Instantes antes, da sua distância confortável, o bandeirinha anulou covardemente um legitimo gol tricolor e ao ouvir os gritos desesperados dos torcedores que se aglomeram o mais próximo possível para “elogiá-lo”, limitou-se a lançar a estes um olhar de desinteresse e um meio sorriso cínico.
Da arquibancada com bastante espaço vazio, o garoto e seu velho pai observam o espetáculo e ambos têm uma certeza: em um estádio raiz isso seria muito diferente. Acontece entre eles então um despretensioso debate de como seria incrível ter um estádio que, com quinze mil pessoas pulsa-se como um caldeirão fervendo, que deixa-se o jogo mais íntimo, mais próximo, que oferecesse conforto sim, claro, mas sem abrir mão daquela pressão mágica e contagiante que somente os menores estádios podem oferecer em partidas de baixo apelo.
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– Imagina pai, se tivéssemos um estádio nosso? Que tivesse a nossa história? Que fosse bem localizado, com corredores onde lendas do futebol mundial caminharam para criar o próprio futebol brasileiro? Um estádio que o nosso clube tivesse construído para a nossa torcida e para receber a seleção do Brasil? Um estádio centenário que fosse também um grande museu do futebol brasileiro? Que fosse assim um ponto turístico, gerando renda para fortalecer ainda mais o nosso clube? Um estádio que traria ainda mais inveja aos nossos irmãos sem história e que, além disso tudo, fosse um caldeirão temido pelos nossos adversários?
O menino refletiu por um momento parecendo mais velho do que era realmente e perguntou por fim: – Uma pena que o nosso clube não tenha um patrimônio assim não é pai?
No mesmo instante em que o arbitro apitava o final da partida com seu estridente apito, o velho pai tricolor respondeu para si mesmo com outra pergunta:
– Não temos ou será que querem nos fazer acreditar que não temos?
Este pequeno conto ilustra uma necessidade. O nosso Fluminense é um dos poucos clubes do Brasil que tem um estádio histórico e não se orgulha dele, que tem um patrimônio centenário e o abandona para que desabe. Já basta! O Estádio Centenário das Laranjeiras precisa ser restaurado com urgência. Nosso clube precisa utilizar o seu patrimônio. Nossos filhos tem que ter o direito de assistir jogos no seu caldeirão e sentir a diferença que há nele. Todos nós temos o direito de usufruir e respirar a história nesse monumento do futebol mundial.
Nosso querido estádio que quando foi inaugurado em 11 de maio de 1919, tinha capacidade para 18.000 torcedores e que em 1922 foi ampliado com a construção de mais um lance de arquibancada ficando com a capacidade de 25.000 pessoas, vem sofrendo com décadas de abandono e descaso.
A tal ponto que nos anos cinquenta, um crime contra o futebol mundial teve inicio, a Prefeitura do antigo Distrito Federal desejou então desapropriar o estádio por causa das obras de duplicação de uma simples rua ( Rua Pinheiro Machado). Finalmente em 1961, o então Governo do Estado da Guanabara acabou por desapropriar parte do terreno do estádio, que perdeu o lance de arquibancada contíguo à Rua Pinheiro Machado. Infelizmente, não houve boa vontade por parte do Estado para uma solução tecnicamente mais racional.
Mesmo assim o Estádio Centenário das Laranjeiras foi fundamental para o nosso clube até 26 de fevereiro de 2003, quando foi disputado seu ultimo jogo oficial. Após isso, por não se adequar ao Estatuto do Torcedor os jogos não puderam mais acontecer na nossa casa. Hoje nós temos esse gigante abandonado, dilacerado, entregue as moscas.
Qualquer clube no mundo gostaria de ter um monumento desses. Fosse o construtor deste estádio um outro clube aqui do Rio de Janeiro (Aquele fabricado pela mídia) e estariam todos se referindo a eles como “Pais da Seleção” ou “Heróis do Futebol Brasileiro”. Mas nós não, para nós resta adjetivos como “velharia” ou “Elefante Branco” que não serve para nada e não pode receber jogos. Será que não percebemos que querem nos diminuir para que outros que nada fizeram pareçam maiores?
Existe um grupo de grandes tricolores lutando bravamente pela revitalização do nosso Estádio. Pelo que foi informado por um dos responsáveis, o projeto será integralmente apresentado a torcida nos próximos dias e é nossa obrigação apoia-los em tudo o que for preciso.
Temos a nossa casa e ela pode e deve ser usada para a glória que tem por destino.
É hora de voltar para casa!
St,
Mauricio Mendanha
O tal Mauricio é só mais um tricolor que ama o Flu, sua família e gosta de história.
Por isso perdoem-me os erros e também o habito recente de chamar o Estádio Manoel Schwartz de Estádio Centenário das Laranjeiras, que como sabemos não é o nome oficial do estádio.